Matteo Valentini - Máfia 'Ndrangheta

CAPÍTULO 85

EMMA VALENTINI

Parecia que meu corpo não queria reagir, ele estava cansado, a minha mente estava cansada. Eu perdi a única coisa que me daria forças para seguir adiante, mas agora sem ele não tenho o porque. Eu me entreguei a escuridão e não queria sair dela, sabia que não suportaria a perda.

Ouvia os bipes dos aparelhos, o cheiro de hospital, o aroma que se sobressaiu foi o do desinfetante, uma fragrância pungente que invadia minhas narinas. Era um cheiro agudo, quase penetrante, que parecia limpar o ar e torná-lo estéril. O odor do líquido antisséptico trazia uma sensação de assepsia, como se estivesse adentrando um local seguro e protegido da contaminação. Eu odiava esse cheiro, ele me acompanhou no meu pior momento.

Sinto um toque no meu rosto, abro os olhos, minha visão estava um pouco embaçada, mas quando vejo quem estava na minha frente, uma mágoa enorme me toma, até medo.

Viro o rosto, não querendo olhar para ele, me lembro das suas palavras. Quando coloco minha na minha barriga, o meu coração apertado de angústia. As lágrimas deslizavam silenciosamente pelo meu rosto, enquanto minha mente era consumida por um turbilhão de emoções.

Minhas mãos tremiam incontrolavelmente, fazendo com que eu as segurasse firme na tentativa de acalmar os nervos.

- Você não o perdeu - Suas palavras ecoaram em meus ouvidos e eu prendi a respiração.

Viro meu rosto para ele.

- O que?

Uma onda de alívio percorreu meu corpo. Desatei a chorar, mas agora, eram lágrimas de alegria e emoção.

Acariciei minha barriga, me sentindo com uma felicidade imensa.

Eu tinha até esquecido a presença do Matteo ao meu lado.

Limpo o meu rosto, me recompondo.

- Sai, por favor - Digo sem olhá-lo.

- Não, precisamos conversar.

- Não precisamos. Eu já entendi Matteo, entendi perfeitamente o que você me disse, não precisa repetir. Agora saí - O olhei - Sai - Digo firme.

Ele respira fundo e se vira e sai, mas assim que abre a porta, para e fecha a porta.

- Eu tive medo, eu tenho medo - Ele se encosta na porta e coloca as mãos no bolso, olhando para baixo.

- Quando você disse que estava grávida, eu fiquei com um medo enorme de fazer o mesmo que meu pai fez comigo. Um pai deve proteger seu filho, e o meu não fez isso, ele me torturou por dias e dias, só parava quando percebia que eu estava quase morrendo. Ele mandava médicos cuidar de mim, para então começar tudo novamente....tudo isso para me transformar em um homem forte o suficiente para ser oque ele queria que eu fosse, no que eu me tornei. Hoje não sinto dor como as outras pessoas, o meu corpo já se acostumou com a dor. A minha cabeça foi programada para não amar Emma, eu fui programado para repudiar esse sentimento. Não nasci para isso, para amar ou ser amado, nasci para tortura, matar e ter poder. Mas isso mudou quando eu conheci você, eu te odiei por isso, por mim faz sentir coisas que eu não sabia o que era, nem como controlar. Eu fiquei desesperado com a possibilidade de fazer mal a uma criança, um filho meu, fazer ele passar tudo o que eu passei.

- Ele me olhou, a primeira vez que eu vi medo, tristeza, desespero, angústia tudo misturado.

- Eu sou quebrado, só feito de pedaços, e mais pedaços. Eu te amo, não deveria, para sua proteção, para não te machucar, mas eu amo.

Ele vem até mim de vagar. Quando chegar perto de mim, seus olhos fixam nos meus.

- Me perdoa, eu não mereço seu perdão, mas eu peço seu perdão.

Eu não consigo diz nada, a minha mente estava processando tudo o que ele disse.

- Você tem medo de ser igual ao seu pai - Digo baixo.

- Sim. Ele era um monstro. Um homem como ele não deveria ser pai. Por isso que eu nunca quis me casar ou ter filhos. Por ter medo de ser como ele. Não queria ser um marido que batesse na esposa, a traísse, que torturasse seu filho.

- Você não é igual a ele, nunca será.

- Se você quiser ir embora...Santiago a levará para Nova Iorque, coloquei uma casa em Hamptons em seu nome, é sua. E abrir uma conta para você, tem uma quantia depositada, você vai viver muito bem. Como todos já sabem que você é minha esposa, vai ter que ter segurança. Vou cuidar disso daqui, vou cuidar de vocês dois - Ele olhou para minha barriga - Não vou deixar nada acontecer com vocês.

Ele se virou e abriu a porta.

- Quando sair daqui Santiago a levará.

Ele disse e saiu.

Quando ele saio eu comecei a chorar, o amo e o preço é alto demais, e eu o amo, e dói.

☆☆☆☆☆

Passei duas semanas no hospital, e foi a primeira vez que estava feliz, estava ali pelo meu filho. Antonella e Violeta ficavam comigo, a cada dia uma ficava comigo, mas na segunda semana Violeta bateu o pé e disse que ela ficaria comigo todos os dias. Lorenzo vinha me ver semanas, e tocou no assunto da minha ida para Nova Iorque.

Eu deveria ir sem pensava duas vezes, mas eu não sabia o que fazer. A minha casa era Roma. E eu não queria deixar Matteo, não quer desistir dele, eu não podia.

- O que você vai fazer? - Violeta me questionou.

Estávamos esperando a Dr Meredith para me dar alta.

- Eu amo ele, mesmo que ele me machucou, rejeitou o nosso filho. Antes eu não entendia o porque dele fazer tudo isso, mas agora eu sei.

- O desgraçado do pai dele. Ele era um monstro, minha mãe me contava sobre ele, eu ficava com pena do que os três passaram com eles. Mas o Matteo sofreu mais por ser o herdeiro.

- Ainda bem que esse monstro está morto - Digo com raiva.

A Dr Meredith entro no quarto e me deu alta.

Quando saio do hospital, Santiago está a minha espera.

- É bom vê-la bem.

- É bom também ver - Sorrio.

- Suas malas já estão no carro.

Assinto.

Violeta me abraça pelo os ombros.

- Vou com você até o jato.

Entro no carro com a cabeça aérea.

- Vou te visitar sempre. Não vou perder essa barriga crescer.

Dou um sorriso, meus olhos lagrimejam.

Quando chegarmos na pista de pouso, olho de dentro do carro o jato que vai me levar para minha vida antiga.

- Emma! Ficar um tempo fora pode fazer bem para você, pra pensar.

- Sim. Vai sim.

Saio do carro e me despeço da Violeta.

Iria voltar para vida que me tiraram, a vida que eu queria de volta