CAPÍTULO 101

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                 EMMA VALENTINI

A cada dia que se passava, a angústia tomava conta de mim, me consumindo de medo por temer que Matteo não me encontrasse.

— Sou tia — disse Mia com um sorriso radiante.

Contei a ela que Matteo e eu tivemos gêmeos e sua emoção foi contagiante.

— Eles são lindos. Parecem mais com Matteo do que comigo.

— Eu me recordo de poucas coisas, mas não esqueço dele, de Lorenzo e da minha mãe. Tinha um laço muito forte com Matteo. Eu adorava estar perto dele, na verdade, o amava. Sentia-me protegida ao seu lado.

—Ele também me faz sentir protegida.

Dá vontade de chorar, mas seguro as lágrimas.

— E Lorenzo? —Rio.

— Você vai amá-lo, ele é incrível.

— Das poucas memórias que tenho de Lorenzo, ele sempre me fazia rir muito.

— Ele tem um jeito todo especial. Sempre que estou triste e ele está por perto, consegue me arrancar risos.

A porta se abriu subitamente e Demétrio adentrou o quarto.

— Ah, que coisa linda. Viraram amigas.

Puxo Mia para perto de mim. Sempre tínhamos o cuidado de não nos expor juntas, mas hoje...

— O que você quer? — questiono.

— Não precisarei mais de você — Ele olha para Mia.

— Você não vai tocá-la — Digo, pondo-me de pé, em frente a Mia.

Ele solta um sorriso repugnante, puxa-me com violência, me fazendo cair, e joga Mia para fora do quarto. Um homem a pega e saem juntos.

— Não, Emma! — ela grita, chorando.

— Não faça isso, por favor! — imploro.

— Cuidarei de você mais tarde —  ele diz, saindo e trancando o quarto à chave.

Desesperadamente, choro, sem poder permitir que ele faça qualquer coisa com ela. Após secar minhas lágrimas, procuro desesperadamente por algo que possa abrir a porta.
Lembro-me de quando Lorenzo me ensinou a utilizar um grampo, mas infelizmente não possuía um. Observo a mesa onde Mia havia deixado meu prato de almoço e encontro um garfo e uma faca.
No entanto, a faca não é pontiaguda o suficiente. Vasculho o ambiente à procura de algo que possa me ajudar e noto um prego saliente próximo a um móvel perto da cama. Com um esforço sobre-humano, arranco o prego.

A noite cai e percebo que já é tarde. Decido tentar abrir a porta mais uma vez e, quando estou quase desistindo, finalmente consigo. O corredor está vazio e escuro, então me movo silenciosamente, já que estou descalço.
Exploro o segundo andar da casa, abrindo as portas com cautela. Porém, não encontro Mia em lugar nenhum, o que significa que ela deve estar no andar de baixo.

Desço as longas e sombrias escadas de uma casa quase do tamanho da antiga mansão de Matteo. A decoração é antiquada e o ambiente é desolado. Observo atentamente um grande vitral, onde a bela lua ilumina tudo lá fora.
De repente, ouço passos e me escondo atrás de uma porta.

— Amanhã, vou me livrar da garota e enviá-la para o seu irmão...a cabeça.

Ouço Demétrio dizer, acompanhado de uma risada.

— Não....fique de olho em tudo.

Ele está falando ao telefone. Seus passos se aproximam em direção ao corredor adjacente às escadas. Saio de trás da porta e sigo o caminho por onde ele veio. Passo por um pequeno corredor e encontro uma porta no final. Abro-a e revelo uma escadaria.

Fecho a porta e começo a descer, tomando precaução com a pouca iluminação das escadas. Ao chegar ao fim, deparo-me com um local enorme, com duas entradas distintas. Decido entrar pela direita e, ao fazê-lo, as luzes se acendem automaticamente. Várias celas estão dispostas à minha frente e começo a verificar cada uma delas.

— Mia? — Sussurro baixinho.

— Estou aqui — Ela responde da penúltima cela.

Dirijo-me até lá e abro a porta.

— Emma, você não deveria estar aqui.

— Não vou te deixar sozinha. Vamos sair daqui, mesmo que eu não saiba como.

— Eu sei. Existe uma saída que leva aos fundos da casa.

— Então vamos.

Saímos, e entramos na outra entrada.
Andamos um pouco até chegar a uma porta antiga, Mia abriu e o ar gelado da noite entrou, junto com a iluminação da lua.

— Vamos embora.
Agarro sua mão e saímos.

Andamos nos vigiando, soldados armados passam armados, nós nos escondemos em um arbusto. Quando ele desaparece continuamos andando.

— Ali é a saída — Mia aponta para um portão.
Um sorriso surgi meus lábios, assim com o alívio.

— Vamos para casa.

Quando dou um passo meus cabelos são puxados para trás com força. Me fazendo soltar um grito de dor.

—Achou que ia sair assim tão facilmente.
Demétrio diz em meu ouvido.

Ele encosta a arma em minha costas, enquanto seguro firme a meu cabelo.

— Deixa ela ir embora, você já a mim.
Digo.

— Emma! — Mia me chama.
Vejo seu desespero.

— Você vem pra cá.

Ele diz apontando a arma para Mia.
Nesse momento vários tiros começam. Demétrio se distraí, a afrouxa o aperto em meu cabelo. Dou uma cotovelada em seu estômago, e consigo se distancia.

— Corre Mia — Grito.

Quando já estou chegando perto da Mia vejo ela arregalar os olhos, e sinto uma queimação na minha costa.
Olho para trás e vejo Demétrio com um sorriso no rosto.

Vejo uma movimentação da onde os tiros estão vindo, Demétrio sai correndo para o lado oposto.
Me mexo e uma dor forte me atinge.

— Meu Deus — Vejo Mia vindo até a mim, chorando desesperada.

Olho para minha blusa, e vejo a mancha enorme de sangue tomar o tecido. Sinto a dor de novo, só que mais intensa desta vez. Passo a mão pelas minhas costas onde a dor é mais forte e sinto arder, está molhado e pegajoso. Começo a ficar tonta, e minhas pernas falam.

Antes de desabar no chão vejo Matteo correndo em minha direção.

— Emma — Ele grita.
Desabo no chão.

Fecho os olhos com a dor horrível, que só vai aumentando.
Sinto seu perfume, e seu toque delicado em meu rosto.

— Ei, eu tô aqui. Abre os olhos, amor, abre os olhos.

Abro os com dificuldade, só queria dormir para dor para.
Lhe dou um pequeno sorriso, e uma lágrima minha escorre. Era tão bom ver seu rosto.

— M...
Tento falar, mas não tenho forças para dizer nada.

— Não diz nada. Não se esforçar.
Seu olhar era pânico puro.

— Lorenzo!
Ele berra.

Fecho os olhos, não aguentando mantê-los abertos.

— Não feche os olhos, olhe para mim. Ele pede desesperado.
Abro os olhos novamente.

— Olhe somente para mim, não desvie, está bem? Não feche os olhos, está me ouvindo, por favor, não feche.

Sinto meu corpo amolecer, e cada vez mais ele pedindo para fecha os olhos.
Olho para ele, mas o vejo todo embaçado, e sua voz fica cada vez mais difícil de escutar.

— Amor não dorme. Fica comigo.

— Mia — Consigo diz — Mia.
Digo um pouco mais alto.

Ele me encara sem entender.
Viro a cabeça em direção a Mia, que estava sentada, encolhida chorando baixo.

— E...ela.

Vejo a Mia olhar para Matteo.

Aos poucos tudo vai ficando escuro, estava tão cansada, minha respiração está cada vez mais difícil e eu me sinto fraca, cada vez mais.

A última coisa que ouço antes de apagar foi a voz do Matteo.

— Emma!




Matteo Valentini - Máfia 'Ndrangheta Onde histórias criam vida. Descubra agora