Capítulo 9

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Eu não fazia ideia de como era ser ignorada por ele. A segunda-feira foi tão ruim que logo pela manhã eu já queria que acabasse logo.

Christopher não olhou para mim sequer um minuto, pelo menos não quando eu estava olhando para ele e Ivalú não parava de dizer que queria muito que ele topasse comigo durante o almoço, como se ele fosse falar alguma coisa. Eu era apenas uma aluna, ele não tinha que falar nada.

Talvêz ele quisesse esquecer tudo. Ele gostava dali, gostava do que fazia e dava par perceber isso na maneira como dava aula.

Apesar de ele ser engraçado, de fazer a turma rir quase o tempo todo, eu não consegui dar um sorriso sequer. Tinha algo em mim, algo dentro de mim que queria que ele me notasse, que perguntasse se eu estava bem. Mas não, ele não o fez. Na terça feira, ele agiu da mesma forma.


- Não precisa ficar com essa cara Dulce. - Ivalú falou depois levou uma colherada de sorvete de creme à boca. - Você mal tocou na comida e agora nem quer sobremesa, vai ficar raquítica dessa maneira. - Ignorei o que ela disse olhando a tela do celular. - Olha, já passou, sério. Toma um sorvete e relaxa. - Ela estendeu a colher até minha boca.

- Me deixa Iva. - Empurrei a mão dela. - Cadê o Pedro hein, porquê ele não veio?

- Já voltou pra SE, mas você está tão voada por causa do professor que nem percebeu isso.

- Ele não precisa me ignorar assim. - Arrumei a franja olhando pelo espelho da lanchonete em que estávamos. - Amanhã é o dia da excursão.

- Eu sei. Viu que já tem divisão de grupos?

- Não.

- Então não viu com quem passaremos o dia inteiro não é?

- Não. - Ivalú ergueu a sobrancelha. -Ah não. Está brincando né.

- Não.

- Ah meu Deus, será que foi ele quem escolheu?

- Eu não sei, porque não pergunta pra ele? - Ela olhu através do meu ombro. Christopher estava entrando falando no telefone. - Eu vou ao banheiro, quando terminarem me dá um toque no celular e eu saio. - Ela se levantou e saiu antes que eu pudesse falar pra ela ficar. O vi ir até o balcão e pedir algo, depois ele se virou para ir até a mesa e então me viu. Logo em seguida desligou o telefone e veio até minha mesa.

- Você por aqui.

- Acho que tenho o mesmo direito que do senhor de estar aqui, professor.

- Está de mau humor menina.

- Impressão sua. - Ele puxou a cadeira e se sentou. - Esperando alguém?

- Talvêz.

- Imagino que já tenha feito seu pedido.

- Não.

- E quer alguma coisa?

- Não.

- Então o que está fazendo aqui sentada sozinha? Usando internet? Faço muito isso. - O olhei incrédula.

- Porque quando estamos em aula você me trata como uma aluna qualquer, ou melhor, finge que nem estou presente, e quando estamos a sós, fora dos muros da SE você me trata assim? Eu não gosto de pessoas duas caras.- Bufei desviando o olhar.

- Ah, então é por isso e não pelo beijo que nós demos. - Senti meu coração saltar. - Olha, não me leve a mal Dulce, mas eu não posso te dar tratamento diferenciado na SE.

- E fingir que eu nunca estou presente pode? - Uma garconete colocou uma taça de sundae em cima da mesa.

- Obrigado. - Ele agradeceu a garçonete que se retirou logo. - Não fingi que você não estava presente, você quem não participou das aulas. De qualquer forma, o que quer que eu faça? Eu tenho um emprego pelo qual zelar.

- Eu não deveria ter ido na sua casa. - Me levantei e ele segurou minha mão por cima da mesa.

- Não quer me acompanhar com um sorvete?

- Não. É melhor a gente nem se falar mais fora da escola, vai ser melhor assim. - Soltei minha mão e fui em direção à saída.

- Espera Dulce. - Ele suspirou se levantando. - Você quer mesmo falar sobre o que houve?

- Eu?

- E quem mais? - Ele olhou em volta como se temesse que alguém pudesse nos ver juntos. - Ali, naquele momento você não era minha aluna, era uma garota ok. Uma garota linda e solteira bem na minha frente. Uma garota legal, que teve ciúmes de mim sem nem saber quem era a mulher na foto.

- Eu não estava com ciúmes. - Falei incrédula. Quem ele pensava que era pra dizer isso? - E nem me venha com esse sorrisinho porque não é verdade isso que você disse, eu apenas não quero servir de amante pra ninguém está me entendendo? Eu tenho sentimentos professor. - Ele fechou a cara ao me ouvir chamá-lo assim. - É isso, você é meu professor e não devemos ter relações além da área acadêmica. Ah, e se você se lembra bem, amanhã passaremos umas boas horas juntos naquela excursão, então se quiser conversar com sua aluna, provavelmente terei tempo para falar contigo. - Bufei e saí dali deixando-o sem respostas, ou pelo menos não dei tempo para que ele dissesse algo.


Assim que pude mandei uma mensagem a Ivalú dizendo que ela voltasse à SE, e fiquei imaginando o que ele ia pensar quando a visse sair da sorveteria depois de mim.


O restante da aula fora ainda pior, pois dessa vez Christopher não me ignorou e sim não tirou os olhos de mim. Estava claro que ele estava tentando me trucidar com os olhos por eu tê-lo tratado tão mal na sorveteria e eu apenas torcia para que ninguém notasse isso, mas é claro que Ivalú notou, provavelmente ela já estava pronta para ficar de olho no professor para tentar decifrar algo sobre nossa conversa. Ela tentou de todas as formas tirar de mim como foi minha conversa com ele, mas eu não cedi. Eu estava brava com ele, muito brava e não queria dizer isso a ninguém. Ciúmes eu? Até parece.

- Vá lá Dulce, conte-me como foi? Não pode ter sido tão ruim assim a ponto de você não querer me contar. - Ela insistiu pela milionésima vez enquanto nos preparávamos para dormir.

- Eu já disse que não Minutti. - Esbravejei. - Olha, é sério, vamos esquecer isso, já passou não foi? E eu nem quero mais falar dele. Vamos esquecer o que houve.

- Até parece que você vai esquecer. - Ela bufou se jogando na cama. - Agora você vai se deitar, fingir que está dormindo e pensar na conversa que teve com ele até pegar no sono. Te conheço Maria.

- Ah cala a boca. - Desliguei a luz do abajur assim que me deitei. - Eu vou ouvir um pouco de música. - Peguei meu celular, conectei o fone e coloquei uma música alta. A primeira música que tocou foi Ed Sheeran, Thing Out Loud. Desde que ela foi lançada é minha paixão. Ouço-a pelo menos uma vez ao dia, talvêz na esperança de encontrar alguém que possa me amar até eu ficar bem velhinha sem se importar com minha aparência. Alguém que vá me amar pelo que sou, não como sou. Coloquei a música para repetir inúmeras vezes antes de conseguir pegar no sono.


Não foi fácil acordar tão mais cedo para irmos ao Muír Woods National Monuments. Demorei tanto tempo tentando não pensar em como havia sido grossa com ele que custei dormir. Venci a vontade de ficar na cama quando me lembrei que talvêz tivesse a oportunidade de me desculpar com ele em algum momento do dia. Vesti um short jeans, uma regata lilás, calcei meu tênis esportivo, penteei meu cabelo e o prendi em um rabo de cavalo alto deixando só a franja que já estava precisando de uma reparada solta e passei uma maquiagem que puedesse tapar minhas olheiras.
Me sentei no fundo do ônibus com Eddy, Zoraida, Ivalú e Pedro, mas não falei com ninguém nem no refeitório quando tomávamos café da manhã, nem no trajeto do ônibus. Fiquei na poltrona da janela observando cada paisagem que passava por meus olhos.

[REVISÃO] Intercâmbio (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora