Foi bom ver Christopher e meu pai tentando conversar nos dias que se seguiram. Divertido até, já que quando tentavam falar algo que o outro não entendia ou sabia, eles faziam mímicas engraçadíssimas, mas no fim, era eu quem servia de intérprete. Sorte a minha ter que ficar em repouso absoluto pelas próximas duas semanas, ou até ter autorização do médico, assim eu conseguia fugir um pouco disso. O chato era não poder levantar para caminhar um pouco e tomar um ar. Minhas idas ao banheiro eram extremamente rápidas e Christopher era quem me ajudava no banho. Ser dependente de outras pessoas é muito ruim, mas no fim é por uma boa causa.
Sobre os meus dois bebês eu não consigo nem encontrar palavras para descrever o que sinto. Quando era pequena costumava me perguntar por que minha mãe escolheu seguir com a gravidez se ela sabia que poderia ir a óbito. A resposta martela minha cabeça constantemente agora. Como alguém que tenha um pingo de amor pode tirar o próprio filho? Sinto repulsa de mim mesma quando me lembro de ter agido tão friamente quando tive um aborto. E se eu tivesse descoberto antes, a tempo de ter salvado aquele bebê? E se tivesse dado certo. Como ele seria? Seria parecido comigo ou com Christopher. Eu adoraria que tivesse o sorriso dele. O mesmo sorriso que me faz querer seguir em frente, todas as vezes que ele se aproxima e vem conversar com os bebês. Um sorriso sincero, esperançoso e contagiante.
— Tem alguém aí?
A voz longícua de meu pai invadiu minha mente fazendo-me voltar à realidade, juntamente com um cheirinho maravilhoso de comida.
— Desculpa, eu estava no mundo da lua papai.
Arrumei-me na cama e deixei que ele pusesse a bandeja sobre meu colo. Nela havia uma tigela de sopa, duas torradas, e um prato com legumes cozidos e carne grelhada e um copo de suco.
— Que bonito, foi o senhor que fez?
— Sim, e quero que coma tudinho, está me ouvindo? — Ele depositou um beijo no alto da minha cabeça.
— Christopher ainda não voltou?
— Não, mas já deve estar chegando. Ele ia passar no mercado e comprar algumas coisas que está faltando.
— Ah sim.
Levei um pouco de sopa à boca e degustei aquele sabor maravilhoso. Os enjoos quase não estavam mais aparecendo e se não me cuidasse, eu iria engordar muito. Tudo que me davam eu mandava para dentro sem pensar duas vezes.
— Filha, posso te perguntar uma coisa?
— Claro.
— Bom, eu encontrei um documento da sua escola de inglês lá em baixo. — Olhei-o por um instante e depois voltei minha atenção a sopa à minha frente. — Por que não assinou? Ou é apenas uma cópia?
— Não. Não é uma cópia e não quero falar nisso.
— Não entendo muito do idioma mas entendi bastante coisa que estava nele.
— É só uma assinatura papai e eu não quero assinar, tá bom?
— Só isso?
— Não. Não é apenas isso. — Soltei a colher e suspirei frustrada. Como eu queria esquecer aquilo, mas era impossível. Fazia parte de mim tudo aquilo, parte da minha vida.
— Talvez seja uma boa hora para você me contar o que tinha para contar, não é?
— Na verdade eu preferia não falar mais sobre isso, mas em fim. É melhor se sentar.
Comecei a contar para ele o que havia acontecido desde o início do intercâmbio. Do modo estranho como me apaixonei por Christopher, do que Rodrigo fizera – o que o deixou muito irritado por sinal — e também o que estava havendo entre Bianca e eu. No final ele estava tão perplexo que nem mesmo teve palavras.
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[REVISÃO] Intercâmbio (Vondy)
Fanfiction"Se você me amar e eu te amar, não precisamos da aprovação de ninguém para ficar juntos, como também não precisamos assinar nenhum papel ou aceitar qualquer espécie de jogo. Não acredito que maus fluidos, por mais fortes que sejam, consigam destruir...