Capítulo 83

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Foi bom ver Christopher e meu pai tentando conversar nos dias que se seguiram. Divertido até, já que quando tentavam falar algo que o outro não entendia ou sabia, eles faziam mímicas engraçadíssimas, mas no fim, era eu quem servia de intérprete. Sorte a minha ter que ficar em repouso absoluto pelas próximas duas semanas, ou até ter autorização do médico, assim eu conseguia fugir um pouco disso. O chato era não poder levantar para caminhar um pouco e tomar um ar. Minhas idas ao banheiro eram extremamente rápidas e Christopher era quem me ajudava no banho. Ser dependente de outras pessoas é muito ruim, mas no fim é por uma boa causa.

Sobre os meus dois bebês eu não consigo nem encontrar palavras para descrever o que sinto. Quando era pequena costumava me perguntar por que minha mãe escolheu seguir com a gravidez se ela sabia que poderia ir a óbito. A resposta martela minha cabeça constantemente agora. Como alguém que tenha um pingo de amor pode tirar o próprio filho? Sinto repulsa de mim mesma quando me lembro de ter agido tão friamente quando tive um aborto. E se eu tivesse descoberto antes, a tempo de ter salvado aquele bebê? E se tivesse dado certo. Como ele seria? Seria parecido comigo ou com Christopher. Eu adoraria que tivesse o sorriso dele. O mesmo sorriso que me faz querer seguir em frente, todas as vezes que ele se aproxima e vem conversar com os bebês. Um sorriso sincero, esperançoso e contagiante.

— Tem alguém aí?

A voz longícua de meu pai invadiu minha mente fazendo-me voltar à realidade, juntamente com um cheirinho maravilhoso de comida.

— Desculpa, eu estava no mundo da lua papai.

Arrumei-me na cama e deixei que ele pusesse a bandeja sobre meu colo. Nela havia uma tigela de sopa, duas torradas, e um prato com legumes cozidos e carne grelhada e um copo de suco.

— Que bonito, foi o senhor que fez?

— Sim, e quero que coma tudinho, está me ouvindo? — Ele depositou um beijo no alto da minha cabeça.

— Christopher ainda não voltou?

— Não, mas já deve estar chegando. Ele ia passar no mercado e comprar algumas coisas que está faltando.

— Ah sim.

Levei um pouco de sopa à boca e degustei aquele sabor maravilhoso. Os enjoos quase não estavam mais aparecendo e se não me cuidasse, eu iria engordar muito. Tudo que me davam eu mandava para dentro sem pensar duas vezes.

— Filha, posso te perguntar uma coisa?

— Claro.

— Bom, eu encontrei um documento da sua escola de inglês lá em baixo. — Olhei-o por um instante e depois voltei minha atenção a sopa à minha frente. — Por que não assinou? Ou é apenas uma cópia?

— Não. Não é uma cópia e não quero falar nisso.

— Não entendo muito do idioma mas entendi bastante coisa que estava nele.

— É só uma assinatura papai e eu não quero assinar, tá bom?

— Só isso?

— Não. Não é apenas isso. — Soltei a colher e suspirei frustrada. Como eu queria esquecer aquilo, mas era impossível. Fazia parte de mim tudo aquilo, parte da minha vida.

— Talvez seja uma boa hora para você me contar o que tinha para contar, não é?

— Na verdade eu preferia não falar mais sobre isso, mas em fim. É melhor se sentar.

Comecei a contar para ele o que havia acontecido desde o início do intercâmbio. Do modo estranho como me apaixonei por Christopher, do que Rodrigo fizera – o que o deixou muito irritado por sinal — e também o que estava havendo entre Bianca e eu. No final ele estava tão perplexo que nem mesmo teve palavras.

[REVISÃO] Intercâmbio (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora