Capítulo 62

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Uma semana depois Christopher ainda não tinha voltado para a escola e eu já estava sentindo falta dele. Eu queria vê-lo novamente na minha frente durante todo o dia falando e falando sem parar, mas enquanto isso não acontecia, eu passava algumas poucas horas com ele depois da aula.

— Eu vou no banheiro. — Coloquei a maçã – ou o que restou dela – na bandeja e me levantei limpando o pouco de torrada esfarinhada que caíra em minha blusa.

— Já terminou o café?

— Já sim. A gente se vê na aula.

Peguei minha mochila pendurada na cadeira, pendurei-a no ombro. Em seguida levei a bandeja para a prateleira. Segui pelo corredor depois de sair do refeitório e em um passe de mágica, alguém me puxou para uma sala escura. Fiquei em pânico e somente não gritei porque taparam minha boca.

— Calminha, está tudo bem. — Arregalei meus olhos ao reconhecer a voz. Christopher destapou minha boca e eu sorri embora ele não pudesse ver meu sorriso.

— Você voltou. — Abracei-o firme. Ele não usava mais o colar cervical.

— Voltei para você menina. — Christopher beijou minha bochecha.

— Senti tanto a sua falta.

— Eu também senti a sua, mesmo que tenha te visto ontem à noite, e bom, será que pode me soltar? Ou você vai me quebrar todinho de novo.

— Deixa eu te quebrar, porque eu não quero te soltar nunca mais.

— Mas precisa me soltar. Temos apenas cinco minutos para a aula menina.

— Cinco minutos dá para fazer muita coisa.

Grudei meus lábios nos dele e o beijei com fervor. Não sei se era a adrenalina, mas beijá-lo ali, dentro do depósito era uma sensação muito boa.

— Não estou contente apenas com isso. — Sussurrei entre o beijo enquanto minhas mãos passavam aleatoriamente em seu maxilar e pescoço.

— Não podemos Dulce, está quase na hora.

— Eu sei. Uma vez apenas, a gente consegue.

Christopher se afastou quando ouvimos vozes e barulhos de chaves. Segurei firme as mãos dele e apenas esperei. Por milésimos de segundos não fomos pegos pelo zelador. Christopher me puxou para trás de um monte de caixas e tapou minha boca. Com a cabeça apoiada no peito dele, eu podia ouvir a intensidade e a velocidade de seu coração. Batia tão rápido e tão forte que parecia estar prestes a sair pela boca.

Apesar da sombra feita pela caixa, eu ergui minha cabeça e olhei. Christopher estava até pálido.

— Está tudo bem. — Sussurrei, ou apenas fiz movimentos com os lábios e segurei firme suas mãos. Ele estava tenso.

Ouvi passos vindo em nossa direção e prendi a respiração. Era agora, seríamos pegos e tudo estaria acabado.

— Senhor McCall?

A voz era grossa, porém feminina. Não reconheci, mas serei eternamente grata.

— Pois não?

— Será que poderia dar uma ajuda na secretaria? Estamos com um problema na rede elétrica.

— Claro.

A luz se apagou e a porta se fechou. Christopher e eu soltamos o ar de uma vez e mal podíamos parar em pé devido nossas pernas estarem trêmulas.

— Acho que já deu, né? — Assenti. Christopher me deu um selinho rápido e foi até a porta. — Te aviso quando a barra estiver limpa.

— Chris?

— Oi?

— Será que podemos almoçar juntos?

— Claro. Pode me esperar dentro do carro. — Christopher tirou a chave do bolso e jogou-a para mim.

Nervosa e com medo de ser vista, entrei no carro e fiquei esperando por Christopher. Abaixei-me no banco quando vi alguns professores passando por mim e fiquei naquela posição desconfortável até Christopher aparecer.

Em um restaurante um pouco longe da SE ficamos conversando enquanto esperávamos a comida.

— Eu estou surpresa até agora pelo seu retorno. — Christopher deu um sorriso; um sorriso lindo por sinal. — E estou curiosa também, muito curiosa.

— Com o quê? — Christopher colocou a mão por cima da minha, em cima da mesa e a acariciou levemente.

— Seu colar cervical, ontem à noite estava com ele, e hoje já não está.

— Ah. — Disse apenas, antes de tomar um gole de suco de maçã. — Eu usei de propósito ontem, e anteontem também. Sabia que, se você me visse sem ele, desconfiaria da minha volta.

— Então foi tudo de caso muito bem pensado? — Beberriquei meu suco de uva e Christopher assentiu contente por ter dado certo.

Separei minha mão da dele quando o garçom se aproximou com nosso pedido para deixar o espaço sobre a mesa livre. Uma travessa de Corvina assada com muita batata frita espalhada ao seu redor, e uma travessa de salada de rúcula com pedaços de tomate e de manga.

Christopher serviu a mim e depois a ele. De início pensei que a poção seria muita para nós dois, mas no fim eu havia comido tanto que Christopher me olhara abismado com a quantidade que eu havia colocado para fora.

— O que quer de sobremesa? — Ele apoiou os cotovelos na mesa me encarando divertidamente enquanto eu colocava para dentro o último pedaço de peixe. Estava tão bom!

— E dá tempo?

Ele olhou no relógio e fez uma careta.

— Temos quinze minutos, daqui até lá leva pelo menos dez, podemos passar num drive e pedir um milk-shake para tomarmos no caminho.

— Por mim está ótimo. — Sorri.

Christopher pediu a conta e pouco depois fomos embora. Compramos um milk-shake só para nós dois, de morango com pedaços de chocolate.

— Acho que não aguento mais. — Falei após dar o segundo gole e devolver o copo a ele. — Comi demais.

— É, eu vi. — Christopher riu. — Eu me divirto quando você dá a louca e só falta comer o prato. Parece que dormiu amarrada no toco.

— Mais ou menos isso. — Fechei meus olhos tentando me concentrar em manter toda aquela comida no meu estômago. — Acho que comi o suficiente para o restante da semana, estou me sentindo até pesada.

— Estranharia se dissesse que estava tudo bem. — Christopher desacelerou antes de virar a última curva. — Acho melhor descer aqui, deve ter muitos alunos chegando lá agora.

— Ok. — Dei de ombros pegando minha mochila no banco de trás. — A gente se vê, logo, logo. — Roubei-lhe um selinho e segui o restante do trajeto a pé. Era perto, mas depois de quase sermos pegos pela manhã, não poderíamos nos arriscar novamente.

[REVISÃO] Intercâmbio (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora