Fiquei no hospital com Christopher até tarde no domingo, mas precisei voltar para a SE. Na segunda pela manhã ele estava lá, destruído. Parecia que um caminhão havia passado em cima dele. Não havia animação alguma durante suas aulas e os alunos começavam a falar sobre isso.
Ivalú praticamente me segurou para eu não ir até ele uma vez quando percebi um tom falho em sua voz. Trocamos olhares várias vezes durante a aula, porém um olhar triste.
Sequer mencionei a hipótese de vê-lo depois da aula, já sabendo onde ele iria estar, embora minha vontade fosse estar com ele todos os dias, o tempo todo para lhe confortar.
Foi uma semana de aula estranha, sem muita conversa, mas apenas eu entendia o que se passava. Eu, Pedro e Ivalú. Contei a eles tudo o que estava acontecendo somente quando voltei do hospital. Eu estava exausta e pra ajudar ainda tive que passar por um interrógatório de Rodrigo com as mesmas perguntas de sempre. Já podem até imaginar o meu nível de mal humor para cima dele. Por pouco não coloquei tudo a perder.
Todos os dias, durante toda a semana, eu era sempre a última a sair da sala. Precisava dar mesmo que fosse apenas um abraço nele e deixar uma mensagem como as que estávamos trocando.
Durante a aula depois do almoço na sexta-feira, Arturo interrompeu a aula e o chamou. Christopher pediu licença e se retirou por alguns minutos. Pude vê-lo de onde eu estava conversar com Arturo no corredor. Meu coração se apertou quando ele se encostou na parede escondendo o rosto. Sabia o que havia acontecido quando Arturo passou a mão pelo rosto sem saber o que dizer, emora não desse para escutar nada. Quando voltou tinha os olhos vermelhos. Ele recolheu suas coisas e se retirou sem dizer nada. Devencilhou-se de Arturo que tentou tocar-lhe os ombros e saiu em passos firmes.
Arturo nos dispensou, mas não explicou à turma o que estava acontecendo, embora houvesse cochichos em todos os lados. Esperei que a sala se esvaziasse fingindo estar mechendo em minha mochila. Arturo ainda estava parado na porta quando eu me levantei e fui até a porta olhando o corredor e verificando se tinha alguém presente.
- Já imagina o que houve não é?
- Ela... - Não consegui completar mesmo assim ele assentiu. Apesar de mal conhecê-la, minha voz falhou. Sabia bem como o meu Christopher estava se sentindo. A sensação de que acabara de perder a pessoa que você mais ama na vida e que nunca mais voltará a vê-la e a pior coisa do mundo.
- Pode me passar seu telefone? - Ele perguntou. Sua voz tinha um tom baixo. - Qualquer coisa eu entro em contato com você. - Peguei meu bloco de notas na mochila junto com uma caneta, anotei meu número e entreguei a ele.
- Eu quero vê-lo. - Pedi, mas meus olhos suplicaram. Eu precisava ficar com ele, ele precisava de mim.
- Dê um tempo a ele. - Assenti mesmo sem aceitar essa decisão. - Eu preciso ir agora, te ligo mais tarde.
- Ok. - Segui meu caminho em silêncio.
Encontrei Ivalú e Pedro no pátio da escola. Eles estavam sentados em um dos bancos conversando. Tinha mais alguns aluos por ali e tinha certeza de que estavam comentando sobre o ocorrido. Me sentei ao lado de Pedro em silêncio.
- O que foi Dulce? Conseguiu descobrir o que houve? - Pedro preguntou curioso. - Estão todos comentando isso. Ele estava chorando.
- Pedro. - Ivalú chamou-lhe a atenção vendo meu semblante.
- A mãe dele. - Respondi baixo e um silêncio se seguiu. - Eu vou para o quarto, se souberem de alguma coisa me avisem. - Tornei a me levantar.
Fiquei no quarto olhando para a tela do celular esperando que alguém me ligasse ou mandasse alguma mensagem. Como eu queria estar ao lado dele. Christopher estava sofrendo e eu nem estava ao lado dele. Já passava das sete da noite quando o telefone em fim tocou e eu o atendi às pressas. "Dulce, é o Arturo. Eu vou passar aí na SE pra pegar você às oito e meia, a gente se vê." Oito e meia em ponto ele estava lá para me pegar.- Como ele está?
- Péssimo. Eu vou levar você para a casa da irmã dele.
- O velório será lá?
- Sim. Bom, pelo que me informaram vão levar o corpo para a igreja pela manhã onde farão uma cerimônia e depois vão cremar.
- Oh... eu pensei que iriam enterrá-la.
- Foi o último desejo dela. - Ele ficou um tempo em silêncio e então continuou. - Dulce, se puder, tira essa pulseira? Pelo menos enquanto durar esse velório. Tem alguns funcionários da SE aqui, e meu pai provavelmente virá também.
- Ok. - Tirei a pulseira e guardei-a na bolsa.
Demoramos uns vinte minutos a chegar na casa da irmã de Christopher. O local estava lotado, carros enchiam as ruas. Arturo demorou um pouco até encontrar uma vaga. A casa era igual às casas dos filmes. Eu tinha uma queda por essas casas. Arturo cumprimentou algumas pessoas no trajeto da casa até a sala onde o corpo estava. O caixãoe estava aberto mas não consegui olhar diretamente para ele. Ao lado dele estava Christopher, sentado em uma cadeira e de cabeça baixa.
- Chris. - Sussurreiquando me aproximei dele.
- Oi. - Ele levantou o olhar a mim. - Você veio.
- Claro, não iria deixar você quando você precisa de mim. - Ela acariciou o rosto dele. Christopher se levantou e a abraçou forte. - Eu sinto muito, sinto mesmo. Queria ter vindo mais cedo, mas não teve como.
- Só de você estar aqui agora já me deixa um pouco melhor menina. - Apesar de sua voz fraca, ele não estava chorando, nem mesmo seus olhos estavam vermelhos. Christopher voltou a se sentar e eu me sentei ao seu lado sem saber o que dizer. Algumas pessoas vinham até ele o deixar seus sentimentos. - O médico disse que ela estava dormindo na hora.
- Ela estava sozinha?
- Minha irmã estava lá com ela, disse que foi de uma hora pra outra. Tentaram reanimá-la mas sem êxito. Me pergunto se ela sentiu alguma dor ou se simplesmente se foi.
- Tente não pensar nisso, isso pode te corroer. - Segurei a mão dele. - Ivalú e Pedro te mandaram um abraço.
- Obrigada. - Ele olhou nossas mãos entrelaçadas. - É cômico não é?
- O quê?
- Quando eu soube eu comecei a chorar, mas depois de vê-la eu não consegui derrar uma lágrima sequer. É como se eu estivesse em um pesadelo, e soubesse que iria acorda qualquer instante.Nunca pensei que eu conseguiria ficar uma noive inteira desperta, apenas sentada fazendo compania a Christopher em meio a tantas pessoas estranhas. Conheci Sophia, a irmã dele. Ela estava tão ou mais destruída que ele. Claire, a sobrinha dele também estava lá. Ela falou algo muito bonito para Christopher e para mim. - Ela disse que quando fosse um anjo, ela iria cuidar da gente. E disse também que não era pra eu chorar, que ela ia para um lugar muito lindo e que um dia todos nós nos encontraremos lá. - Ela se sentou no meu colo, o que eu achei estranho. - Ela mandou dizer também que está muito feliz por meu tio ter alguém como você tia Dul. E que te ama muito tio Ucker. - Ela depositou um beijo na bochecha dele e ele retribuiu com um sorriso tímido. Claire me chamou de tia, e eu me senti estranha por isso.
Pela manhã seguiu-se exatamente como Arturo dissera. Levaram o corpo para a igreja onde o reverendo fez uma cerimônia. Ao que parece ela era muito querida por todos. O local estava tão cheio que todos os bancos da igreja não foram suficientes para acomodar todas as pessoas. A cerimônia durou metade da amanhã, e na outra metade o corpo foi cremado. Fiquei ao lado de Christopher o tempo todo.
No final de tudo, Arturo nos deixou no apartamento dele.
- Por que não toma um banho Chris? Eu vou preparar algo pra gente comer. - O vi se sentar no sofá.- Eu não estou com fome, não precisa fazer isso por minha causa.
- Preciso e vou. - Caminhei até ele e tirei o terno preto que ele usava. - Olha, você temtodo direito de ficar cabisbaixo assim, mas não se esqueça que a vida segue a diante,por favor.
- Não me esqueci. - Ele afrouxou a gravata e Dulce terminou de tirar por ele. - Vai lá dentro, toma um banho bem gostoso enquanto eu preparo algo pra gente.
- Fica comigo esse fim de semana? Não quero ficar sozinho.
- Claro. Eu não o deixaria sozinho aqui nem se você quisesse.
Depois que Christopher tomou banho e comeu ele simplesmente desmaiou na cama. Fiquei o olhando dormir de bruços. Ele estava exausto com tudo isso.
Tomei um banho também e vesti com uma blusa dele. Ainda bem que sempre carregava roupa íntima extra na bolsa, nunca se sabe quando precisaremos dela.
Me deitei ao seu lado e acabei dormindo também.
Acordei com o som de alguns soluços. Christopher estava sentado ao meu lado chorando. Me sentei e o puxei para meus braços. - Pode chorar. Coloca pra fora. - Beijei a cabeça dele. Era a primeira vez que o vi chorar desde a saída dele da SE.
- Canta pra mim? - Ele pediu. Consegui enxergar um menino em meus braços. Uma criança desesperada. - Por favor. Ela fazia isso quando eu era criança.
- Chris.
- Por favor.
- Tudo bem. Qual música você quer que eu cante?
- Tanto faz, eu só preciso ouvir a sua voz. Ela me acalma. - Pensei um pouco em alguma música e comecei a cantar baixinho Dram do Imagine Dragons, uma das minhas preferidas. Sentia meu coração pulsar mais forte a cada soluço que ele dava em meus braços.
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[REVISÃO] Intercâmbio (Vondy)
Fanfiction"Se você me amar e eu te amar, não precisamos da aprovação de ninguém para ficar juntos, como também não precisamos assinar nenhum papel ou aceitar qualquer espécie de jogo. Não acredito que maus fluidos, por mais fortes que sejam, consigam destruir...