Capítulo 82

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Uma das coisas que eu jamais imaginei era que eu iria viver nos Estados Unidos, ao lado de um cara que parecia não existir e com dois filhos. Eu sempre me vi no Brasil, formada em uma faculdade boa, trabalhando em um local em que eu pudesse receber o suficiente para retribuir todo o conforto que meu pai me dera durante dora minha vida. Uma casa simples, porém confortável, um carro e quem sabe futuramente uma família. De um jeito meio torto, aconteceu tudo isso em um outro caminho.

Christopher recebeu como herança uma casa que digamos de passagem, era uma mansão perto da minha. Ela era parte mobiliada mas não gostei muito.

— Podemos trocar a decoração.

Comentou ele ao ver minha cara. Quase morri de vergonha. A casa tinha cinco quartos, sendo a suíte principal duas vezes o tamanho do meu quarto, com um closet enorme e um banheiro com uma banheira de hidromassagem para duas pessoas. Os outros quartos não eram tão grandes e nem tinham banheiros, mas em compensação o banheiro social era enorme.

No andar de baixo tinha sala de jantar, sala de estar com lareira, uma sala de TV, cozinha e uma biblioteca cheia de livros antigos. No fundo da casa tinha um jardim muito bem cuidado por sinal com uma piscina de porte médio e área de churrasqueira.

— É um pouco grande, não acha?

— Acho um exagero, mas ficará pequena quando nossos filhos começarem a correr por ela. —- Christopher me puxou para um abraço confortável. — Além do mais, seremos cinco, né?

— Acho que você não é muito bom em Matemática, Chris. Somos quatro.

— Como quatro? Esqueceu do seu pai?

Confesso que cheguei a perder o sentido quando ele disse aquilo. Apartei-me dele e o encarei. Christopher tinha um sorriso de quem andara aprontando no rosto.

— Meu pai?

— É! Ou acha que eu deixaria o sogrão abandonado lá?

— Mas... como?

— Tive uma ajudinha. Afinal, esqueci de te falar, ele chega no fim de semana que vem.

Se eu já estava sem reação, naquele momento eu mal podia respirar. Minhas pernas tremiam tanto que eu mal pude me manter de pé.

— Dulce? Está tudo bem?

— Sim, eu só... Ah Chris. — Desabei nos braços dele e me pus a chorar tentando entre um soluço e outro agradescer.

Eu tinha falado com meu pai na noite anterior e ele não havia mencionado nada. O pânico tomou conta de mim instantaneamente. Eu ia rever o meu pai e eu ainda não tinha dito tudo o que havia acontecido a ele. Ele nem sequer sabia que eu estava grávida de gêmeos. E se ele não aguentasse tudo? Eu fiquei tão mal com o que houve, imagina ele com a idade já avançada e cansado da vida que teve. Não sabia nem mesmo como iria olhar para ele.

Demorou um tempo até eu me acalmar. Depois de darmos mais uma olhada na casa, voltamos para o apartamento. Christopher insistiu que devíamos começar a arrumar as coisas, então a bagunça foi certeira. Segundo ele porque queria mudar ainda essa semana. Não entendi o porquê de tanta pressa.

Caixas e sacolas para todos os lados, eu jogada na cama e Christopher parado na porta me olhando.

— Não me olha assim, eu estou cansada.

— Eu estou com fome.

— Come.

— O que a gente vai comer?

— Você eu não sei, mas eu estou sem fome.

— Mas você precisa comer.

— Mas eu não estou com fome, então não vou comer. Não começa tá.

[REVISÃO] Intercâmbio (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora