Capítulo 95

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POV Christopher

Me tiraram da sala quando entrei em desespero. Os batimentos dela simplesmente foram diminuindo e então eles pararam. Fiquei na porta tentando ouvir algo, mas em vão.

Retirei a touca e me sentei no chão tentando me acalmar e me fazer acreditar que tudo ficaria bem.

Eu jamais me perdoaria se ela partisse. Era culpa minha ela estar naquela situação, eu a coloquei nela.

Levantei-me de novo quando ouvi um choro alto e fino, mas a porta estava trancada e eu nem pude entrar. Fechei os olhos e esperei pelo segundo choro, mas nada acontecera.

Fiquei andando de um lado para o outro por mais de meia hora até que enfim a porta se abriu. Por ela saíram duas enfermeiras às pressas levando na incubadora um dos meus filhos. Ele parecia imóvel e estava tão pálido que nem parecia estar vivo.

Olhei para dentro da porta e o obstetra me olhou e assentiu para que eu entrasse. Dulce estava desacordada, mas seus batimentos pareciam estar em um ritmo normal.

No canto da sala, uma enfermeira pesava o meu filho. O meu menino. Ele era tão perfeito e chorava desesperadamente.

— O que a Victoria tem? Ela... ela...

— Não, ela vai ficar bem. As duas ficarão bem, mas agora você precisa ir ok? Vamos leva-la para a CTI assim que terminarmos com os pontos, e logo levarei notícias para vocês.

— Eu quero ver a minha filha doutor.

— Eu sei, te entendo, mas agora não é possível, você precisa entender, é para o bem dela.

Quando voltei ao quarto dela, minhas duas irmãs estavam lá com seus maridos e o pai de Dulce também.

— Christopher, como está minha filha?

— Eu não sei, eu não sei, só me falaram que elas vão ficar bem.

Lembrei-me de Dulce e Victoria desacordadas. Dulce tão frágil, tão fraca, e Victoria tão pálida e imóvel e então comecei a chorar. Eu era um monstro, como eu pude fazer isto? Eu sabia que tudo isso poderia acontecer.

— Tudo bem, tudo bem, elas vão ficar bem. — Sophia me abraçou. — Elas vão ficar bem.

— Não deixa minhas meninas morrerem, por favor, não deixa.

— Elas vão ficar bem, eu sei que vão.

Uma hora se passou e nada de notícias. À essa altura eu já estava esperando o pior. Eu tinha perdido ou minha filha, ou Dulce, ou talvez as duas.

Eu andava de um lado para o outro dentro do quarto, completamente impaciente pela espera quando o Dr. Anthony apareceu.

— Christopher? — Como numa novela, todos ali presentes se levantaram perguntando por Dulce e meus dois filhos. Esperei que eles se calassem e então perguntei:

— Como eles estão, doutor?

— O seu filho nasceu saudável e forte. — Ele deu uma pausa. — Já até podem ir vê-lo no berçário.

— E a minha filha? E a Dulce?

— A Dulce está na CTI. O caso dela é delicado, mas ela vai sobreviver. Ela teve duas paradas cardíacas mas conseguimos reverter o processo. — Ouvir isso era tão doloroso. Dulce estava batalhando pela vida, ou mesmo desistindo dela e eu não podia me perdoar por isto.

— E a minha filha? — Perguntei temeroso.

— Sua filha também está na CTI, e vou ser completamente sincero Christopher. — Ele deu uma pausa e então continuou. — Ela nasceu com os batimentos cardíacos muito fracos e por isso não foi possível detectar pela ultrassonografia.

— Mas ela vai ficar bem, não é? Minha filinha não vai morrer.

— Faremos o possível para que esse processo seja revertido. Ela não pode respirar sem aparelhos no momento.

— Está dizendo que ela está condenada a passar parte da vida que mal começou interligada a máquinas e agulhas?

— Eu entendo o seu sofrimento, também sou pai. — Ele olhou no relógio. — Talvez seja necessária uma cirurgia.

— De jeito algum. Ela é só um bebê! — Me alterei e Fernando tocou meu ombro.

— Vamos mantê-la em observação para termos certeza. Se caso precisarmos, vamos pedir que você assine a autorização.

— E quais seriam as chances? — Fechei meus olhos.

— Cinquenta por cento.

— E se não eu não assinar?

— Se realmente for necessária a cirurgia, posso afirmar que ela não passaria de duas semanas.

Suspirei. Eu não queria tomar essa decisão, era doloroso demais para mim. Se algo acontecer a ela, como vou me olhar no espelho cada dia da minha vida? Como fui egoísta. Dulce sempre teve razão, mas eu só olhei o meu lado, o tempo todo.

— Você quer ir ver o seu filho? — Assenti. — Vocês também podem ir, mas somente o pai poderá entrar no berçário.

O berçário não estava muito cheio. Tinha no máximo uns dez bebês e somente dois choravam como se não houvesse amanhã. Um deles era meu filho.

Depois de vestir-me e colocar uma touca, fizeram-me esterilizar minhas mãos e então fui até ele. Bem usava todo seu fôlego para chorar e isso me fez rir. O garotinho tinha o gene da mãe, mas em compensação, ele era um clone meu quando eu era bebê.

— Eu posso pegá-lo?

— Claro. — Respondeu a enfermeira que estava do outro lado da incubadora.

Abaixei-me e o peguei no colo. O mesmo se mexia freneticamente em minhas mãos com uma força incrível. Tive medo de deixa-lo cair mas lembrei-me de que fui eu que ajudei a cuidar de Claire quando nasceu.

— Oi garotão. Sou eu, seu papai. — Ele parou instantaneamente o choro e ficou apenas resmungando. — Sim meu amor, sou eu. — Virei-me para o vidro onde Fernando, minhas irmãs e meus cunhados olhavam. — Posso ir até ali? Está um pouco longe.

— Pode.

Caminhei até próximo ao vidro onde eles estavam e o deixei de frente para eles.

— Olha Ben, esse é seu vovô. Aquelas duas são suas duas tias e os dois também são seus tios. E todos nós te amamos muito. — Segurei uma das mãozinhas minúsculas dele. — Está faltando sua mamãe e sua irmãzinha, mas logo, logo você irá conhece-las, tá bom? Eu quero que saiba que sua mamãe, é a pessoa que mais te ama no mundo filho e que ela está batalhando para ficar com a gente.

Fiquei mais um tempinho ali conversando com ele como se ele pudesse me entender e então ele dormiu. Disseram-me que ele havia se alimentado com o leite que tinham no banco de leite do hospital, mas que estavam com pouco no estoque. Dulce precisava acordar logo. Não queria ter que fazer o meu filho tomar um leite cheio de conservantes tão cedo.

V^F

[REVISÃO] Intercâmbio (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora