Capítulo 107

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Chegar em casa com Benjamin em meus braços fora inexplicável. Era como se tudo estivesse recomeçando de uma maneira diferente de alguns meses atrás quando eu cheguei com Victoria nos braços. Agora eu segurava Benjamin, e Ivalú tinha Victoria nos braços que parecia ter acabado de tomar a mamadeira.

Todos ali presentes ficaram olhando para nós dois e eu apenas sorri. Meus dois filhos estavam ali comigo e eu não iria me separar deles nunca mais.

— Como ele está?

Meu pai se aproximou da gente e segurou a mão dele para em seguida depositar um beijo ali.

— Cansado. O deixaram chorando a noite toda com fome, pode isso? — Suspirei sentindo-me irritada.

— É melhor deixar ele no berço, Dulce.

Christopher pousou a mão em minha cintura chegando atrás de mim e eu neguei.

— Amor, não vai acontecer nada.

— Eu não quero deixa-lo sozinho, Chris.

— Já acabou, Dulce. Ela morreu no acidente, tá? Não vai voltar mais.

— E se alguém quiser se vingar?

— Não vão, eu juro. Olha, eu vou ver se consigo colocar algum alarme para caso de alguém tentar entrar aqui de novo, mas você não pode passar o resto de sua vida tentando protege-lo de tudo. Nem ele, nem a Victoria.

— Eu tenho medo.

— Olha, vamos fazer o seguinte então. A gente coloca eles para dormirem no nosso quarto até eu colocar o sistema de segurança, mas depois disso, eles voltarão a dormir nos quartos deles.

— Tudo bem.

Suspirei frustrada. Se algo acontecesse eu não aguentaria mais. Ou eu morreria, ou enlouqueceria. Foi Christopher que o pegou de meus braços e o levou para cima.

Depois disso eu fui até Ivalú e peguei Victoria que parecia estar sonolenta.

— Desculpa a mamãe, filha. Eu não vou mais abandonar você, tá bom?

Depositei um beijo no alto da cabeça dela e ela fez um biquinho enquanto resmungava.

— Eu sei bebê, a mamãe deixou você sozinha, não vai mais acontecer, eu prometo.

— Ela está com sono, Dulce.

— Estou vendo. Vou leva-la para cima, assim ela dorme tranquila junto com o Ben.

— Você também deveria dormir. Você e o Christopher. Tanto tempo sem dormir direito não faz bem a ninguém. — Disse meu pai depositando um beijo em minha cabeça. — Toma um banho enquanto eu preparo algo bem reforçado para vocês dois comerem, porque saco vazio não para em pé.

— Obrigada, papai.

Agradeci a todos pelo apoio e então eu subi. Fiquei um tempo olhando Benjamin e Victoria dormirem no berço que Christopher levou para o nosso quarto. Ver os dois ali, dormindo feito dois anjinhos e completamente bem me tirara um peso enorme das costas.

Sorri quando Christopher chegou por trás me abraçando e apoiando o queixo sobre meu ombro direito. Ele havia acabado de sair do banho e seu cabelo ainda encharcado deixou cair algumas gotas de água em minha pele.

— Sua vez.

— Eu ficaria eternamente aqui com eles. Parece sonho.

— E nós não vamos mais acordar, tá? — Assenti e ele me deu um beijo na bochecha.

— Chris, arruma um cachorro pra gente?

— Dulce...

— Eu sei, mas eu não vou dormir tranquila à noite nunca mais e eu não posso controlar isto.

— Eu vou ver isto, agora toma um banho e vamos descer para comer alguma coisa.

Pela noite, enquanto eu amamentava Victoria, Christopher estava deitado ao meu lado com Benjamin, que já estava de barriga cheia, sobre sua barriga. Mesmo com a atenção na TV ele não deixava de acariciar as costas de Ben constantemente tentando faze-lo dormir.

Essa era uma das poucas posições que o tranquilizava quando ele estava com cólica e ele se encaixava tão bem em cima de Christopher que eu me encantava com aquilo.

— O que foi?

— O quê?

— Você não para de me olhar.

— Só estou admirando meus dois príncipes, posso? — Voltei a olhar Victoria que já não mamava. A boca dela estava aberta e ela já havia dormido. Empurrei levemente o queixo dela para cima com meu dedo e ela a fechou.

— Claro que pode.

— Vic já dormiu e esse aí continua de olhos arregalados. — Arrumei minha blusa e em seguida a arrumei em meus braços.

— Deita ela no berço para ela dormir bem. Daqui a seis horas ela acorda de novo abrindo o berreiro.

— Acho que está confundindo os bebês, amor.

— É né. Esse aqui é sempre o último a dormir e o primeiro a acordar. Parece eu.

Levantei-me com cuidado e fui colocar Victoria no berço que estava do lado de Christopher. Depois disso dei uma olhada pela janela para garantir que ninguém estivesse por perto e em seguida fui trancar a porta. Eu queria acreditar que ninguém mais entraria ali para arrancar meus filhos de mim, mas era incontrolável sentir esse pânico de perde-los novamente.

— Você quer que eu o faça dormir?

— Ele já está quase dormindo.

— Então tá. Eu vou no banheiro.

Quando tornei a sair, Christopher já estava sozinho na cama. Fui até lá e me deitei enquanto ele me envolvia em seus braços. Eu dei um beijo curto nele e então fiquei aconchegada ali de olhos fechados e enquanto sentia-o acariciar minha pele eu deixei passar em minha mente todos os momentos que vivi ao lado dele.

Desde o momento que eu acordei no apartamento dele sem fazer ideia de quem ele era ou de como eu tinha ido parar lá e o meu pânico quando descobri que aquele ser estranho no qual eu julgava um homem que abusava de meninas inocentes era, o meu professor. À essa altura do campeonato, lembrar disso era completamente cômico.

Eu era e ainda sou simplesmente uma menina, mas desde que aceitei estar ao lado dele eu sinto que amadureci. Não foi fácil chegar aqui e tive que sacrificar parte da minha vida por isto, mas valeu a pena, mesmo que ainda tivesse passado por momentos que eu jamais desejasse a alguém. Perder o bebê na primeira gestação e descobrir minha dificuldade para gerar uma vida foi motivo suficiente para me derrubar, mas aí, Christopher me presenteou com minhas duas vidas, Victoria e Benjamin que, apesar de quase ter perdido os dois — Victoria por nascer com insuficiência respiratória e Benjamin por levarem-no de mim — agora estávamos felizes.

Eu só desejava que Christopher tivesse a mãe aqui agora, mas acredito que onde a Alexandra estivesse, ela e minha mãe, Blanca, estavam protegendo a gente e estavam orgulhosas de nós.

Estive ao lado dele quando ele mais precisou e agora eu não queria desprender-me dele jamais. Ainda que tudo de ruim que passamos tenha doído, valeu a pena e eu, Dulce Maria, iria lutar até o fim, para ver todos a quem eu amo felizes.

[REVISÃO] Intercâmbio (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora