Capítulo 77

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Segurei a mão dele e a apertei levemente. Christopher suspirou. Ele havia acabado de perder o emprego. A coisa na SE estava pior que eu imaginava.

Falavam da gente por todos os cantos e para ajudar, até meus amigos estavam acuados. Me senti mal quando ele me disse que o vídeo que havia vazado era de nós dois em pleno ato sexual. Isso era demasiado humilhante para mim.

— Eles querem que você vá lá para assinar os papeis.

— Eu não vou, que se danem aquelas pessoas.

— Eu disse a eles que não forçaria você a nada. Depois do que passou eu nem permitiria você chegar perto dali meu amor.

— Chris.

— Oi?

— E o meu pai? Eu preciso contar a ele antes que a escola de inglês no Brasil o notifique.

— Vamos esperar você ter alta ok? Aí você liga para ele e conversa, tenho certeza que ele vai entender.

— E se ele passar mal com tudo isso? Ele não é mais jovem Chris.

— Eu vou ver uma maneira ok? Tenta não pensar nisso agora, paz é crucial para você ficar bem logo. — Christopher depositou um beijo em minha cabeça. — Você e o nosso bebê.

— E o ultrassom? Ainda não fizeram.

— Vão fazer mais tarde.

— Chris, e se não der certo? E se todo o seu esforço for em vão? Eu não quero chorar por isso, eu não quero ver você chorar por isto.

— Meu amor, olha, nada, nunca será em vão. Esse bebê aí dentro é especial para mim, e se por um acaso ele não conseguir sobreviver, ele continuará sendo especial.

— Eu tenho medo, muito medo.

— Vai dar tudo certo, é uma promessa. — Christopher beijou minha testa confiante no que ele dizia.

Eu entendia que com um bom tratamento, as chances de tudo dar certo eram bem maiores, mas mesmo assim eu ainda tinha medo. Medo de acordar durante a noite e estar perdendo o meu bebê, medo de chegar para fazer o ultrassom e descobrir que não havia batimento, medo de não ouvir o chorinho dele quando ele nascesse, de nunca poder ver o brilho dos seus olhinhos. Medo de sequer conseguir vê-lo algum dia.

Fiquei mais uma noite no hospital e somente no dia seguinte pela manhã, me levaram para fazer o ultrassom.

— Você tem certeza disso? — Perguntei sentindo um nó na garganta enquanto Christopher parecia estar totalmente fora da órbita da Terra. Seu rosto só não estava tão pálido quanto o meu estava.

Estremeci da cabeça aos pés quando o médico firmou os olhos no monitor e depois olhou para mim, dizendo na maior tranquilidade: Você está esperando gêmeos.

Definitivamente eu estava incapaz de sentir algo. Medo? Pavor? Amor?

— Sim. — Ele garantiu virando o monitor para Christopher e para mim. — Vê, são dois bebês. — Ele apontou dois pontinhos iguais lá dentro e em seguida mecheu em alguns botões. Pude ouvir sons intensos de batidas.

— Isso... isso é o coração?

— Sim, os corações. — Ele disse mais emocionado do que Christopher e eu estávamos.

Christopher cambaleou para trás tirando minha atenção do monitor, ele parecia estar cada segundo mais pálido.

— Sente-se aqui.

O médico puxou uma cadeira e o ajudou a se sentar. Ele estava desnorteado.

— Gêmeos?

— Sim. Dois bebês.

— Gêmeos? — Ele tornou a perguntar e depois começou a rir histericamente embora seus olhos estivessem mareados. — Eu vou ser pai e de gêmeos?

— Sim senhor.

— Eu... eu já volto. — Christopher saiu da sala me deixando sem entender nada.

Talvêz ele só estivesse demasiado surpreso. Voltei a olhar o médico e ele riu.

— Essa reação é normal?

— Talvez. Você quer uma cópia do ultrassom?

— Acho que sim.

Fui levada de volta para o quarto e fiquei um tempo sozinha lá. Christopher havia desaparecido e ninguém sabia me informar seu paradeiro e eu só iria receber alta se ele estivesse presente.

Ainda tentando associar fiquei sentada na maca acariciando minha barriga. Há dois dias atrás eu não sonhava com a possibilidade de tornar a engravidar, eu não desejava isso e agora haviam dois seres minúsculos dentro de mim e tudo que eu queria era protege-los. Agora mais do que nunca eu teria que levar essa história a sério. Um bebê já era responsabilidade suficiente, mas dois provavelmente me deixaria louca. E o meu pai? Como reagiria?

Eu era apenas uma garotinha quando saí do Brasil, e em poucos meses tinha a responsabilidade de uma mulher sobre mim. Será que ele me apoiaria ou me olharia o resto dos meus dias como alguém irresponsável? De repente, eu me vi em cima do muro. Eu não queria que meu pai me olhasse com decepção, mas também não podia permitir que fizessem mal aos meus filhos.

Quando Christopher entrou no quarto eu estava chorando. Chorando de desespero, chorando por naquele momento amar tanto aqueles dois bebês que chegava a doer. Eu não queria perde-los, eu não queria deixá-los. Eu só queria que no final de tudo, todos nós estivéssemos bem.

[REVISÃO] Intercâmbio (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora