Capítulo 33

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- Ele é muito lindo, sério. - Eu estava tomando um pouco do meu leite quando ouvi duas garotas passarem atras de mim. Diminui o som do meu fone e comecei a prestar atenção na conversa. Ivalú conversava com Pedro e nem havia percebido.

- Foi mancada aquela pirralha aquele dia né? - Ouvi a outra dizer. - Até parecia que ela tinha feito de propósito. - Virei-me para tras e vi a garota que gostava de dar em cima do meu Christopher e uma amiga dela.

- Não, claro que não. Como você disse ela é uma pirralha, não deve nem saber segurar uma bandeja sem se desequilibrar.

- Ela é da sala dele né? Que inveja. Imagina você ter aula todo dia com um professor gostoso como ele, deve ser maravilhoso. - Meu sangue ferveu ao ouvir isso. Quem essas duas biscates pensavam que era?

- Ela é uma criança, não deve ter nem maldade na cabeça. - Criança... ah se elas soubessem.

- Até parece. Ela é brasileira, e brasileiras já começam cedo. - Bati meu copo na mesa.

- Eita Maria, está tudo bem? - Ivalú perguntou assustada comigo. Me levantei furiosa, peguei meu copo e virei com gosto o leite na cabeça da garota. - Dulce sua louca. - Ivalú e Pedro se levantaram prontos pra me segurarem embora não entendessem nada do que estava acontecendo.

- Você é maluca garota? - Ela se levantou rapidamente tentando impedir o leite de escorrer para seu decote. Todos pararam pra observar a cena enquando ela me xingava histericamente e a amiga dela me olhava boquiaberta.

- Só pra você saber, eu sou Brasileira sim, mas ao contrário de você eu não fico dando em cima dos professores como se fosse uma puta barata sua imbecil. Coloque sua inveja e sua língua de volta no bueiro de onde nunca deveriam ter saído ok? - Coloquei meu copo na bandeja dela. - E só pra você saber, não temos apenas fama de fácil, temos de barraqueira também. - Peguei minha mochila e saí furiosa sem me importar com as consequências. Quem essa rapariga do agreste pensava que era.

Esbarrei em Christopher e o Arturo no meio do caminho. Eles vinham apressados para o refeitório. Apesar da dor no ombro depois de esbarrar neles eu segui meu caminho sem parar.

- Dulce, o que está acontecendo lá no refeitório? Porque essa bagunça toda?. - Christopher tentou me segurar mas eu escapei. Eles seguiram para o refeitório provavelmente tentando entender o que havia acontecido.

Fui para a sala de aula e fiquei lá, sentada na minha cadeira, debrussada sobre a mesa mirando o quadro, só esperando alguém vir me chamar. Metade de mim arrependida de ter arriscado meu intercâmbio, outra metade com vontade de voar naquela biscate.



Minutos depois me vi sentada na cadeira da sala de espera. Christopher me olhando da porta com um olhar de repulsa e Rodrigo sentado ao meu lado enquanto ouvíamos o grito histérico da garota lá dentro.


- Eu só queria entender porque você fez isso Dulce. - Rodrigo falou. - Sabe que agiu de má-fé não é? - Assenti. - Diz pra mim o que houve.

- Ela me ofendeu Rodrigo, eu não me aguentei tá bom.

- Te ofendeu? De que maneira?

- Me chamou de pirralha e insinuou que eu sou uma puta como todas as brasileiras. - Senti a primeira lágrima escorrer.


- Tem certeza disso Dulce? Talvêz você tenha entendido mal.

- É a minha palavra contra a dela, acredite se quiser, não posso te obrigar a isso. - Enxuguei a lágrima que traçara meu rosto.

- Tudo bem, deixa que eu converso com a diretora da SE. Fica tranquila.

Instantes depois a porta se abriu. A garota passou por mim me fuzilando com o olhar e seguido dela a acompanhante do intercâmbio dela. Rodrigo entrou e ficamos apenas Christopher e eu ali.

- E você pare de me olhar assim Christopher. - Falei irritada.

- Estou decepcionado com você Dulce. - Sua voz realmente era de decepção.

- Eu faria de novo, e pior se ela tornasse a falar o que falou. Quem essa imbecil pensa que é pra me ofender assim?

- O problema é que só você ouviu o que ela disse, é a sua palavra contra a dela. Para todos que viram a cena, só você fez alguma coisa. Ninguém ouviu nada, simplesmente viu você se levantar e jogar leite nela.

- Ai, que se dane. Eu não estou nem aí.

- Poderia simplesmente ter procurado algum professor e falado sobre isso, não precisava agir daquela forma.

- Como uma pirralha? É, talvêz eu seja isso.

- Eu não falei isso Dulce, não interprete mal.

- Será mesmo Christopher? Olha pra mim e me diz se não é isso que você pensou. - O encarei e ele desviou o olhar. - Acho melhor a gente se afastar, isso trará menos prejuízo a você, se é que eu ainda vou continuar aqui.

- Mas do que é que está falando? - Ele se sentou ao meu lado e eu pulei uma cadeira tentando me afastar. - Você não vai ser expulsa por uma briguinha qualquer Dulce.

- Só... não me procura mais. - Tirei a aliança e com muito pesar entreguei a ele. - vai ser melhor assim.

- Melhor pra quem? - Sua voz saiu embargada olhando a aliança agora na palma de sua mão.

- Pra nós dois. - Evitei o olhar enquanto olhava a marca da aliança em meu dedo. Senti um vazio com isso, mas agora já estava feito.


- Não faz assim, por favor. A gente vai esquecer esse episódio e pronto.

- Eu já fiz. - Me levantei e fui até a porta. Fiquei parada lá esperando Rodrigo sair. Christopher apertou a aliança em sua mão, se levantou e saiu sem me olhar.

Eu já estava com a autoestima um pouco baixo desde que Ivalú falou sobre isso ter um fim algum dia, então essa garota ajudou a dar um fim. Não sabia que seria tão próximo.

Fiquei parada segurando o choro. Quando Rodrigo saiu ele conversou comigo e me liberou. Não aconteceu nada senão uma advertência, mas qualquer outro deslize poderia ser fatal.

Fiquei trancada no quarto o resto do dia, chorando e abraçada ao urso enorme que Christopher me deu. Ele ainda tinha o cheiro do perfume dele.


No fim do dia tudo que ganhei foram um par de olheiras e uma tremenda dor de cabeça que somente um sono bem dormido faria parar de doer. 

[REVISÃO] Intercâmbio (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora