Capítulo 100

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Quando cheguei na UTI, haviam pelo menos uns cinco enfermeiros no quarto de Dulce e quando vi a cena, eu não sabia se ria ou se chorava vendo-a jogar objetos que ela encontrava por perto neles.

— Dulce!

— Chris?

Seus olhos castanhos exageradamente arregalados e encharcados me encararam.

— Está tudo bem meu amor. — Eu fui até ela e a imobilizei. — Eu já estou aqui.

— Eu quero os meus filhos, Chris. Porque não me dizem cadê eles?

—Amor, calma ok? Foram dias difíceis e você precisa ficar calma.

Eu a guiei até a maca e enquanto um enfermeiro limpava o braço dela, o qual estava sangrando devido ao fato de ela ter arrancado o soro, e expliquei com calma o que estava acontecendo. Eu já tinha dito a ela sobre Victoria, mas ela estava tão dopada que não se lembrava de nada.

— Eu quero ver minha filha.

— Eu sei, mas você precisa ter paciência ok? Ela vai ficar bem.

— Como tem tanta certeza disso? Ela é apenas um bebê.

— Porque ela está indo bem. Ela é tão guerreira quanto a mãe dela ok?

— Como eles são?

— Tão lindos quanto você, menina. — Depositei um beijo em sua cabeça. — Agora você precisa descansar, menina.

— Eu quero ir para a casa Chris. Não me deixa mais sozinha nesse lugar.

— Oh meu amor, eu sei e te entendo perfeitamente, mas não posso simplesmente levar você embora, não depois do que houve e também não posso ficar o tempo todo aqui porque nosso filho precisa de mim lá em casa.

— Mas eu quero ir embora. Eu quero conhecer os meus filhos Christopher, quero poder tocar neles, quero poder sentir o cheirinho deles.

— Dulce, entenda por favor. Não sou eu que decido isso.

A vi se encolher na maca enquanto voltava a chorar. Eu mais que qualquer um desejava leva-la comigo, mas eu não podia fazer isto. Eu queria minha família na nossa casa.

— Sabe quem está aqui? — Ela nem se manifestou. — Não vai nem tentar adivinhar?

Suspirei. Dulce tinha todo o poder de me comover quando ficava nesse estado e depois de tudo o que houve eu jamais poderia me irritar com ela, afinal, tudo que estava acontecendo era minha culpa.

— Eu vou ver o que posso fazer, espera aqui.

Depositei um beijo no alto de sua cabeça e me retirei. Fiquei um bom tempo procurando pelo médico responsável por ela e quando disse o que estava acontecendo tudo que recebi foi um não.

— Ela já está bem, não está?

— Precisa ficar em observação mais uns dias, Uckermann.

— Mas eu mal posso visita-la durante o dia, não acha isso tortura demais? Ficar sozinha não é bom para ela.

— Vamos transferi-la da UTI e assim ela terá horário de visitas maiores.

— Não é o suficiente.

— É tudo o que posso fazer por ela no momento. Sabe o quão delicado foi o caso dela.

— Eu sei... — Passei a mão pelo rosto. — Tem alguma previsão para ela receber alta?

— Agora que ela está se recuperando, vou pedir alguns exames. Se continuar assim, até o final da semana que vem é provável que ela receba alta, mas não é nenhuma garantia, ok?

— Tudo bem.

— Vou providenciar a transferência dela.

— Doutor, e a minha filha?

— Ah, sobre isso. Será que poderia me acompanhar?

— Claro.

Eu o segui em silêncio até o berçário. Estranhei o fato de não estarmos na UTI Neonatal, e quando por fim cheguei ao destino eu não me contive. Victoria estava lá no canto, toda vestida de rosa enquanto chorava desesperadamente sabe-se lá por qual motivo.

— O que ela faz aqui?

— A garotinha é muito guerreira, sabia?

— E por que ela está chorando tanto? Não está sentindo dor, né?

— Não. Ela só está com fome.

— Por falar em fome, deixe-me te perguntar. — Seguei a mão minúscula de Vitória e ela tentou levar meu dedo até sua boca. Ri do biquinho que ela fazia.

— Diga.

— Há alguma probabilidade da minha esposa conseguir amamentar?

— É provável. Foram apenas alguns dias e mesmo que seja um pouco doloroso e difícil, se bem estimulado o leite pode sim sair.

— Entendi.

— Por que não fica um pouco com sua filha enquanto transferimos sua esposa para o quarto?

— Eu posso pegar um pouco nela?

— Depois de higienizar suas mãos, pode sim. Mas com cuidado para que ela não sinta dor, os pontos ainda não caíram.

— Tudo bem. Agora que ela está aqui, ela não pode ser levada para Dulce ver? Ela vai acabar enlouquecendo se não ver os filhos.

— Eu vou pedir a uma enfermeira para acompanhar vocês dois até o quarto quando ela estiver pronta ok? Mas será por um curto período de tempo para não cansar a paquena.

— Obrigado, doutor.

— Não há de quê.

Fiquei sentado em uma cadeira enquanto segurava Victoria no meu colo e dava mamadeira a ela. Ela sugava o líquido com tanta força que eu me perguntava de onde ela tirara tudo isso. Enquanto mamava, ela tinha os olhinhos fixos aos meus embora eu sabia que ela mal podia enxergar. Sorri ao ver os olhos verdes acinzentados dela idênticos ao de minha mãe.

— Está com tanta fome assim?

Minha voz soou baixa e falha. Eu estava feliz de saber que graças à minha filha eu jamais me esqueceria do olhar de minha mãe. Que todos os dias eu iria olhar para ela e lembrar daquele anjo que me trouxe ao mundo.

Pouco depois que ela terminou de mamar e ainda com os olhinhos arregalados olhando curiosamente ao redor, fomos levados para o quarto onde Dulce estava. Ela teve um acesso de histeria quando entrei no quarto enquanto ria e chorava ao mesmo tempo vencida pelo fato de não ter autorização de sair da maca.

— Ah meu Deus, me dá ela Chris.

Sua voz saiu falha e um tanto alta. Eu sorri e entreguei Victoria a ela.

— Ela... ela é tão linda, tão perfeita.

— Cuidado Dulce, ela ainda está com os pontos da cirurgia.

— Ah meu Deus, eu... eu posso abraça-la?

— Amor, calma.

— Não leva ela daqui não, por favor. Por favor! — Ela começou a dar beijos no rostinho e nas mãozinhas de Victoria. — Oi meu amor, é a sua mamãe. — E então ela desabou de vez quando a ouviu resmungar para em seguida fechar os olhinhos e dar um sorrisinho.

Tirei meu celular do bolso disfarçadamente e tirei uma foto no exato momento em que Dulce dava um beijo na mão de Victoria e mandei para Fernando.

Não foi fácil convencê-la de que Victoria precisava voltar para o berçário, mas no final ela cedeu. Então eu fiquei com ela ouvindo-a falar na nossa filha até que por fim ela pegou no sono.

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[REVISÃO] Intercâmbio (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora