Capítulo 106

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Quase uma hora depois que Sophia me deixou sozinha na ponte, Christopher apareceu. Ele se posicionou ao meu lado e ficou encarando a água abaixo da gente em silêncio por um tempo. Ouvi ele suspirar e começar dizer com a voz embargada:

— Eu não sei o que falar.

— Não tem o que falar.

Mais uma vez ele ficou em silêncio. Christopher estava tão arrasado quanto eu, aliás, Benjamin também era filho dele e eu não era capaz de imaginar o tamanho do amor que ele tinha pelos filhos.

— Se eu não tivesse provocado ela, talvez eles estariam bem agora.

— Não começa.

— Christopher, eu sou culpada, não adianta negar isto.

Meu rosto tornou a se molhar e então eu desabei. Christopher me puxou para seus braços e me apertou entre eles.

— Eu deveria ter ido embora quando ela me ameaçou. Eu estaria longe de você agora, mas eles dois estariam bem.

— Para, por favor. Não se maltrate assim menina.

— Tá doendo tanto.

— Eu sei meu amor, e eu juro que eu faria o que fosse necessário para mudar isso.

— Faz parar! Traz o meu filho para mim, por favor!

Eu estava tão fraca física e emocionalmente que eu deixei meu corpo cair. Christopher me segurou para não chegar tão rápido no chão e então ele ficou abaixado comigo nos braços enquanto eu implorava para ter meu filho de volta. Minha voz era tão desesperadora que nem os carros que passavam uma ou outra vez abafavam o som.

— Eu não posso mais Christopher, é demais para mim.

— Nós vamos conseguir meu amor, eu sei que vamos. A gente ainda tem a Vi, não podemos desistir assim.

— Eu não consigo, eu não consigo. Eu sequer posso olhar para você por parecer tanto com ele, como vou conseguir lidar com a irmã dele?

— Dulce, não fala assim. Eu também não sei como, mas a gente vai conseguir. Vamos passar o resto de nossas vidas sofrendo por isso, mas uma hora vamos nos acostumar com a dor. Nós não podemos desistir da nossa vida e eu não vou deixar isso acontecer.

Eu não disse mais nada. Sabia que uma hora eu precisava reagir, mas naquele momento a dor em meu peito era tão grande que eu desejava morrer. Eu não conseguia ver uma vida em que eu estivesse feliz, não mais. Eu estava tão completa, tão bem e então tudo desmoronou de uma hora para a outra.

Depois de tantas horas acordada passando por isso, eu finalmente dormi, ali mesmo nos braços de Christopher e na rua. Na verdade, eu apaguei e quando acordei estava na nossa cama envolta a um edredom abraçando um travesseiro.

Minha cabeça doía tanto que eu mal podia me mover e todo ruído que eu ouvia fazia minha têmpora latejar. A única luz que entrava no quarto vinha por debaixo da porta e mesmo assim me irritava intensamente.

Tentei ficar mais um tempo na cama para ver se conseguia voltar a dormir, mas era impossível. Lembrar do meu filho e do que havia acontecido com ele me fez voltar a chorar.

Involuntariamente eu me levantei e saí do quarto. Vi que a porta do quarto dele estava entreaberta então fui até lá. Meu coração parecia que ia saltar para fora à medida que eu me aproximava. Ele tinha que estar lá, tudo tinha que ser um pesadelo e nós ficaríamos bem, mas era engano meu. Estava tudo do mesmo jeito que eu deixei. O berço vazio apenas com o seu cobertor azul jogado no canto.

Eu tive tanto ódio de mim por isto. Deveria ter sido mais atenciosa, prestado mais atenção se a casa estava segura, mas não, eu tinha que estar no meu quarto fazendo besteira. Se eu tivesse chegado antes, os dois estariam comigo, mas não, eu fui uma péssima mãe. Eu me descuidei.

Comecei desesperadamente a pegar todos os brinquedos que tinham em minha frente e jogar no chão. Era demais para mim ter que ver aquele quarto daquele jeito quando eu sabia que ele não ia mais voltar.

— Dulce para!

Christopher entrou no quarto tão rápido que eu fiquei surpresa. Antes que eu quebrasse um outro brinquedo ele me imobilizou.

— Para, por favor!

— Tira isso daqui. Eu não quero essas coisas mais.

— Dulce, olha para mim.

Ele me segurou um pouco afastada e eu abaixei a cabeça. Eu não conseguia olhar para ele, era demais para mim.

— Não me obrigue a fazer isso Chris, é tortura demais. Eu não posso sobreviver vendo esse lugar e sabendo que o meu filho, o meu Benjamin morreu. Ele era só um bebê, apenas um bebê.

Minha voz saía alterada. Eu pude ver meu pai aparecer na porta m olhando com pena e isso só piorava as coisas.

— Dulce Maria, olha para mim. — Christopher me segurou pelo ombro me fazendo encará-lo. — O nosso filho está vivo!

— O quê?

Foi como um baque. Aquilo só podia ser coisa da minha cabeça. Eu já estava enlouquecendo e ouvindo coisas que eu queria ouvir.

— O nosso Benjamin está vivo, Dulce. Eu... eu não sei o que houve. Acabei de vir da delegacia para te buscar.

— Mas eu... eu vi o carro explodir, você também viu, não viu? Ele estava lá dentro. — Ergui a cabeça e o encarei.

— Eu também, todos nós vimos e caramba, ele não teria sobrevivido se estivesse lá.

— Ele não estava?

— Não. — Ele enxugou meu rosto e eu notei que ele estava prestes a chorar novamente. — Ele estava num hotel, eu não entendi bem. Parece que os funcionários escutaram um choro durante a noite e nunca parava, aí chamaram a polícia.

— Onde ele está?

— Está no hospital. Vai se trocar, eu vou pegar a certidão de nascimento dele e nossos documentos ok?

— Ele está bem? Por que está no hospital Christopher?

— Eu não sei, ok? Parece que ele estava sozinho, então levaram ele para lá, para saber se estava tudo bem.

Quando cheguei no hospital eu estava tão histérica que parecia que explodiria. Eu queria ficar feliz, mas no fundo eu tinha medo de ser uma mentira e alguém estivesse alimentando falsas esperanças, mas não, era completamente verdade. O nosso filho estava lá, deitado em uma maca fazendo o que ele sabia fazer de melhor. Soltei-me de Christopher e corri até ele o pegando no colo e o abraçando com tanta força que acho que cheguei a machucá-lo.

— Oh meu amor, eu estou aqui. A mamãe veio te buscar.

Comecei a dar beijos no rostinho dele enquanto ele esperneava em meus braços. Christopher abraçou nós dois e simplesmente chorou de uma maneira que eu nunca tinha visto antes.

— Ele está com fome, senhora. Você amamenta ou ele apenas toma mamadeira?

Disse a enfermeira à nossa frente. Eu assenti impossibilitada de dizer qualquer coisa fui me sentar em uma poltrona. Benjamin só se calou quando sua boca estava ocupada e ele mamava com tanta vontade que me cortava o coração. Ele estava com fome há horas e ninguém teve a coragem de dar mamadeira a ele.

— Pronto meu amor, a mamãe vai cuidar de você agora.

Enxuguei o rostinho dele e Christopher se sentou no braço da poltrona. A pesar de meus olhos estarem embaçados com as lágrimas, eu não tirava os olhos dele. O meu príncipe estava vivo e estava ali nos meus braços.

— Eu prometo que nunca mais vou te deixar sozinho e que ninguém vai te tirar de mim, meu amor. — Peguei a mão dele e dei um beijo ali. — Nem você nem a sua irmãzinha, tá bom? A mamãe te ama muito.

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[REVISÃO] Intercâmbio (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora