Capítulo 63

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— Semana que vem teremos prova oral turma.

Christopher falou e eu tentei focar minha mente em sua voz. Eu estava com um mal-estar terrível depois de comer para um elefante. Apoiei minha cabeça em um dos meus braços sobre a mesa e fechei meus olhos enquanto massageava meu estômago.

— Vou passar uma folha para vocês anotarem seus nomes e a profissão da qual desejam seguir, respectivamente, para eu elaborar individualmente cada uma, e na próxima semana darei uma prova escrita sobre o mesmo assunto.

Ouvi alguns murmúrios pela sala, mas não ergui a cabeça, eu realmente não estava me sentindo bem. Sentia alguns calafrios por meu corpo e uma vontade imensa de pôr tudo para fora. Apenas levantei minha cabeça com muito custo quando senti alguém cutucar meu ombro e colocar algo na minha mesa. Vi a lista que já estava pela metade assinada e várias profissões à frente de cada nome.

Assinei meu nome e pelo modo como saiu minha letra notei o quão trêmula eu estava. Na frente do nome coloquei "Direito" e passei a folha para Ivalú.

— Você está bem? — Ela perguntou já assinando o próprio nome.

— Não. — Meu não saiu mais como um gemido que como uma palavra.

— O que está acontecendo?

Abri minha boca para responder, mas logo tive que fechar por ter sentido um líquido quente e amargo subir por minha garganta. Levantei tão rápido que derrubei meus pertences no chão e nem me importei.

— Dulce? — Ouvi Christopher falar, mas não parei.

Saí da sala e fui direto para o banheiro, onde vomitei três vezes quase seguidas. Depois de voltar quase todo meu almoço, dei descarga e fui lavar a boca para tentar tirar o gosto amargo. Através do espelho à minha frente vi Ivalú entrar.

— O que houve amiga? Está se sentindo bem?

— Melhor agora, comi demais no almoço, a comida pesou.

— Demais quanto?

Ela se aproximou me analisando em silêncio.

— Muito, muito mesmo.

— A última vez que comeu tanto também passou mal.

— É.

— E mesmo assim voltou a repetir, você é maluca?

— Um pouco, mas é que a comida estava tão boa, sério. — Abri a torneira, juntei as mãos e as enchi de água, para em seguida jogar a água no rosto.

— Você quer ir à enfermaria?

— Não. Já me sinto melhor, só precisava pôr o que comi para fora.

— Tem certeza?

— Sim. Vamos voltar, estamos perdendo aula.

Christopher não conseguiu disfarçar o olhar preocupado quando voltei. Sussurrei um "estou bem" para ele e voltei para o meu lugar. Apesar de ter desejado tanto que ele tivesse voltado a me dar aula, naquele momento eu desejava que a aula terminasse e eu pudesse ir para minha cama ficar quietinha em baixo do meu edredom quentinho. E foi exatamente o que fiz quando cheguei no quarto. A única coisa que tirei foram minhas botas.

— Não, acho que não está com febre.

Abri meus olhos e vi a luz do abajur de Ivalú acesa. Olhei pela janela e notei que já estava escuro.

— Ann, não. O que você fez daquela vez? Ela melhorou bem rápido. — Esfreguei os olhos, mas ainda tive tempo de vê-la arregalar os olhos. — Eu não vou fazer isso, é nojento. Coitada, Christopher!

— Mas o quê... — Sentei na cama a olhando.

— Ela acordou, espera. — Ivalú me entregou o telefone.

— Hmm? — Resmunguei.

— Oi meu amor, como se sente? Está melhor?

— É, parece que sim. — Deixei meu corpo cair novamente no travesseiro macio. — Eu não devia ter comido tanto, mas depois que vomitei me senti melhor.

— Toma água, muita água. Diria para você tomar um chá, mas como te conheço, sei que isso não vai rolar.

— Ainda bem que sabe.

— Já sei, toma água com limão. E bom, se não estiver bem até amanhã, não precisa ir na aula, eu coloco presença para você.

Sorri sentindo o tom de preocupação dele. Christopher era um anjo, o meu anjo.

— Chris, eu estou bem, aliás, estou com uma fome desgraçada agora.

— De verdade? Não está dizendo apenas para eu me sentir bem né?

— Não.

— Então tá, mas toma água está me ouvindo?

— Vou tomar.

— E toma um banho também, vai ajudar.

— Chris...

— Desculpa, é que é difícil ter que cuidar de você por telefone sem ter a certeza que está realmente bem.

— Eu vou tomar um banho e depois pedir algo para comer.

— Algo leve viu? Nada de pizza ne hambúrguer ou coisa do tipo.

— Eu estava pensando na pizza.

— Não, nem pense. Vou mandar a comida para você eu mesmo, não quero que passe mal de novo.

— Adoraria que você viesse fazer a entrega. — Sorri ouvindo o suspiro comprido dele do outro lado da linha.

— Sabe que é bem tentadora sua proposta, mas depois de hoje...

— Eu sei. Foi muito arriscado hoje, e bom, a gente prometeu agir com cautela né?

— Isso. Eu te amo menina, se cuida.

— Eu também te amo Chris. Te vejo amanhã.

Desliguei o celular e estendi de volta para Ivalú que fazia caretas me fazendo rir.

— É seu, não quero isso.

— Ah. — Disse apenas olhando o aparelho.

— Vocês são tão...

— Românticos. — Completei.

Levantei-me e fui em direção ao banheiro.

A comida se resolveu em salada, legumes cozidos e carne grelhada que aliás estava com um tempero muito leve, muito mais leve do que eu era acostumada a comer, mesmo assim comi tudo – o que não era muito, já que conhecendo meu namorado, ele sabia o risco que era ao me mandar tanta comida.

Estudei um pouco e depois voltei a dormir na esperança de vê-lo no dia seguinte.

[REVISÃO] Intercâmbio (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora