— Doutor? Eu posso ver minha esposa? Por favor.
— Logo poderá vê-la no horário de visitas. Terão quinze minutos para vê-la e somente parentes poderão entrar.
Apesar do cansaço, eu não consegui pregar o olho. Mandei Sophia e Anna voltarem para a casa que eu daria notícias. Fernando, assim como eu não quis arredar o pé dali.
— Eu vou ver se compro um café, você quer? — Perguntei a Fernando que estava sentado na poltrona segurando em sua mão uma foto de Dulce.
— Pode ser. — Disse indiferente.
Assenti e saí. Era um pouco constrangedor ficar com ele. Eu sabia que ele estava me culpando por isto ainda que não diga. O silêncio dele durante todo esse tempo afirmava isso. Ele ouvia em silêncio as coisas que o médico vinha informar e sequer me olhava.
— Christopher? — Ouvi a voz de Hannah e me virei. Ela estava segurando uma prancheta e vestia-se completamente de branco.
— Você? — Perguntei tentando abrir a porta com o cotovelo já minhas mãos estavam ocupadas com copos de café.
— Deixa eu te ajudar. — Ela abriu a porta para mim.
— Obrigada. Eu não sabia que trabalhava aqui.
— Acabei de ser transferida. — Ela deu de ombros. — E eu não sabia que ela estava grávida. Que você ia ser pai.
— Como sabe? — Entreguei um dos copos a Fernando que ainda estava no mesmo lugar.
— Sou a médica responsável por sua filha. — Ela me entregou um papel.
— Você?
— Não fique tão surpreso. Não conversamos muito então não deu tempo de falar que fiz medicina.
— Como minha filha está? — Olhei o papel. — Isso é uma autorização? — Ela assentiu.
— Sua filha precisa passar por uma cirurgia Christopher, e precisamos de sua autorização.
— De jeito nenhum. Ela não vai aguentar ser aberta por um bisturi.
— E vai deixar a sua filha morrer sem nem mesmo tentar salvá-la? As chances de ela sobreviver sem a cirurgia não existem.
— Eu não sei. Não posso submeter minha filha a isso.
— Vem comigo? Aposto que se ver o estado dela não pensará uma vez antes de assinar esse papel.
Deixei o copo sobre a mesinha e a segui. Pegamos o elevador no final do corredor e fomos até o quinto andar.
— Esta é a UTI Neonatal. — Ela disse. — Preciso que você se vista adequadamente e lave as mãos e passe álcool gel.
— Ok.
Ela me entregou uma sacola que continha um kit de luvas, touca, máscara e uma roupa estranha. Sem hesitar eu me vesti e a segui.
Entramos em uma sala e lá tinha pelo menos seis bebês. Uns pequenos demais para estarem fora de uma barriga e no final da sala estava minha filha. Minha Victória, envolta a agulhas interligadas por vários fios ligados a algumas máquinas. Tudo que ela usava era uma fralda, touca, luvas e um sapatinho de pano. E ela dormia como um anjo, mas estava tão frágil que doeu em mim. Ela nem mesmo respirava sozinha.
— Há uma chance de ela sobreviver se fizer a cirurgia, mas, se não fizer, todo esse esforço que ela faz para sobreviver será em vão. — Hannah disse enquanto enfiava a mão por uma das aberturas da incubadora e segurava a minúscula mão de minha filha. — A pergunta é se você está pronta para abrir mão dela e passar o restante de sua vida pensando se teria dado certo.
— Você tem uma caneta? — Me aproximei da incubadora e fiquei olhando minha filha. — Eu não vou desistir de você filha, então não desista de si mesma ok? Eu sei que você é forte minha princesa e vai sair dessa.
Enfiei minha mão ali e acariciei a bochecha dela. Sorri ao vê-la fazer um biquinho. Ela tinha os lábios da mãe dela. Ela abriu os olhos e piscou algumas vezes olhando para cima.
— Oi bebê. — Dei um sorriso fraco.
— Vamos deixa-la descansar.
— Ela reconheceu minha voz.
— Não deveríamos estar aqui e ela precisa ficar descansada ok? Já faz muito trabalho tentando respirar com esse aparelho.
Depois de ficar alguns minutos com Dulce eu fui dar uma volta. Não iria vê-la mais aquele dia e Victoria não ficaria menos que quadro horas na sala de cirurgia.
Senti o telefone vibrar em meu bolso, mas não era o meu celular, senão o de Dulce.
Destravei-o e comecei a ler as mensagens desesperadoras dos amigos dela. Mandei um áudio para Ivalú dizendo o que estava acontecendo e então me sentei na calçada. Eu estava exausto e destruído.
Vi que ela começou a digitar algumas vezes, mas então parava e recomeçava.
"Você precisa ser forte. O Bem precisa de você. "
"Não vou aguentar se algo acontecer a elas. "
"Dulce não gostaria que você desistisse Christopher. Agora volta para o hospital, tá bom? Se você desacreditar que elas vão ficar bem, quem irá acreditar? Você é o que mais acreditou no início, então continue assim. "
"Você deveria estar aqui. É a melhor amiga dela. "
"Eu bem que queria, mas sabe que não tenho condições. "
"Você viria? "
"Como? "
"Só me diga se viria. "
"Claro que iria. Sei que ela faria o mesmo por mim ou pelo Pedro. "
"Então arrumem suas malas. Eu vou voltar para o hospital. "
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[REVISÃO] Intercâmbio (Vondy)
Fanfiction"Se você me amar e eu te amar, não precisamos da aprovação de ninguém para ficar juntos, como também não precisamos assinar nenhum papel ou aceitar qualquer espécie de jogo. Não acredito que maus fluidos, por mais fortes que sejam, consigam destruir...