Capítulo 96

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— Doutor? Eu posso ver minha esposa? Por favor.

— Logo poderá vê-la no horário de visitas. Terão quinze minutos para vê-la e somente parentes poderão entrar.

Apesar do cansaço, eu não consegui pregar o olho. Mandei Sophia e Anna voltarem para a casa que eu daria notícias. Fernando, assim como eu não quis arredar o pé dali.

— Eu vou ver se compro um café, você quer? — Perguntei a Fernando que estava sentado na poltrona segurando em sua mão uma foto de Dulce.

— Pode ser. — Disse indiferente.

Assenti e saí. Era um pouco constrangedor ficar com ele. Eu sabia que ele estava me culpando por isto ainda que não diga. O silêncio dele durante todo esse tempo afirmava isso. Ele ouvia em silêncio as coisas que o médico vinha informar e sequer me olhava.

— Christopher? — Ouvi a voz de Hannah e me virei. Ela estava segurando uma prancheta e vestia-se completamente de branco.

— Você? — Perguntei tentando abrir a porta com o cotovelo já minhas mãos estavam ocupadas com copos de café.

— Deixa eu te ajudar. — Ela abriu a porta para mim.

— Obrigada. Eu não sabia que trabalhava aqui.

— Acabei de ser transferida. — Ela deu de ombros. — E eu não sabia que ela estava grávida. Que você ia ser pai.

— Como sabe? — Entreguei um dos copos a Fernando que ainda estava no mesmo lugar.

— Sou a médica responsável por sua filha. — Ela me entregou um papel.

— Você?

— Não fique tão surpreso. Não conversamos muito então não deu tempo de falar que fiz medicina.

— Como minha filha está? — Olhei o papel. — Isso é uma autorização? — Ela assentiu.

— Sua filha precisa passar por uma cirurgia Christopher, e precisamos de sua autorização.

— De jeito nenhum. Ela não vai aguentar ser aberta por um bisturi.

— E vai deixar a sua filha morrer sem nem mesmo tentar salvá-la? As chances de ela sobreviver sem a cirurgia não existem.

— Eu não sei. Não posso submeter minha filha a isso.

— Vem comigo? Aposto que se ver o estado dela não pensará uma vez antes de assinar esse papel.

Deixei o copo sobre a mesinha e a segui. Pegamos o elevador no final do corredor e fomos até o quinto andar.

— Esta é a UTI Neonatal. — Ela disse. — Preciso que você se vista adequadamente e lave as mãos e passe álcool gel.

— Ok.

Ela me entregou uma sacola que continha um kit de luvas, touca, máscara e uma roupa estranha. Sem hesitar eu me vesti e a segui.

Entramos em uma sala e lá tinha pelo menos seis bebês. Uns pequenos demais para estarem fora de uma barriga e no final da sala estava minha filha. Minha Victória, envolta a agulhas interligadas por vários fios ligados a algumas máquinas. Tudo que ela usava era uma fralda, touca, luvas e um sapatinho de pano. E ela dormia como um anjo, mas estava tão frágil que doeu em mim. Ela nem mesmo respirava sozinha.

— Há uma chance de ela sobreviver se fizer a cirurgia, mas, se não fizer, todo esse esforço que ela faz para sobreviver será em vão. — Hannah disse enquanto enfiava a mão por uma das aberturas da incubadora e segurava a minúscula mão de minha filha. — A pergunta é se você está pronta para abrir mão dela e passar o restante de sua vida pensando se teria dado certo.

— Você tem uma caneta? — Me aproximei da incubadora e fiquei olhando minha filha. — Eu não vou desistir de você filha, então não desista de si mesma ok? Eu sei que você é forte minha princesa e vai sair dessa.

Enfiei minha mão ali e acariciei a bochecha dela. Sorri ao vê-la fazer um biquinho. Ela tinha os lábios da mãe dela. Ela abriu os olhos e piscou algumas vezes olhando para cima.

— Oi bebê. — Dei um sorriso fraco.

— Vamos deixa-la descansar.

— Ela reconheceu minha voz.

— Não deveríamos estar aqui e ela precisa ficar descansada ok? Já faz muito trabalho tentando respirar com esse aparelho.

Depois de ficar alguns minutos com Dulce eu fui dar uma volta. Não iria vê-la mais aquele dia e Victoria não ficaria menos que quadro horas na sala de cirurgia.

Senti o telefone vibrar em meu bolso, mas não era o meu celular, senão o de Dulce.

Destravei-o e comecei a ler as mensagens desesperadoras dos amigos dela. Mandei um áudio para Ivalú dizendo o que estava acontecendo e então me sentei na calçada. Eu estava exausto e destruído.

Vi que ela começou a digitar algumas vezes, mas então parava e recomeçava.

"Você precisa ser forte. O Bem precisa de você. "

"Não vou aguentar se algo acontecer a elas. "

"Dulce não gostaria que você desistisse Christopher. Agora volta para o hospital, tá bom? Se você desacreditar que elas vão ficar bem, quem irá acreditar? Você é o que mais acreditou no início, então continue assim. "

"Você deveria estar aqui. É a melhor amiga dela. "

"Eu bem que queria, mas sabe que não tenho condições. "

"Você viria? "

"Como? "

"Só me diga se viria. "

"Claro que iria. Sei que ela faria o mesmo por mim ou pelo Pedro. "

"Então arrumem suas malas. Eu vou voltar para o hospital. "

[REVISÃO] Intercâmbio (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora