Capítulo 25

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"Onde você está?"

Foi a primeira mensagem que chegou antes mesmo de eu entrar na SE. Christopher me ligou no mínimo umas dez vezes enquanto eu estava no taxi e eu não atendi nenhuma delas.

"Dulce estamos preocupados, onde você se meteu?"

"Não faz assim com a gente, por favor."

Cansada de ouvir o som irritante do meu celular, desliguei-o e o joguei no fundo da bolsa. Entrei na SE e fui direto para o quarto. Me deitei na cama e fiquei ali tentando não pensar em nada. Eu amava Christopher, mas odiava isso. Odiava o fato de ele me tratar como se fosse criança às vezes e odiei o fato de ele não ter acreditado em mim como se eu tivesse mentido pra ele alguma vez. Depois de um tempo levantei, troquei de roupa, tirei a maquiagem, fiz minhas higienes noturnas e fui me deitar.

Eu ainda estava acordada quando Ivalú chegou, mas fingi estar dormindo. Senti um peso afundar o colchão atrás de mim mas não me movi.

- Está acordada? - Meu coração quase saltou pra fora quando ouvi a voz dele. - Sei que está, você nunca dorme de barriga pra baixo. - Ele falou, mas me mantive imóvel. - Desculpa, vai. Não queria chatear você, apenas me preocupo, sabe disso. Eu trouxe pizza pra você, se ainda não tiver comido nada. - Ouvi o som de uma sacola. - Por favor, fala comigo. Eu odeio que a gente fique brigado. - Ele acariciou meus cabelos.

- E eu odeio que você me trate como se eu fosse criança Christopher. - Falei ainda sem olhá-lo. - E você nem acreditou em mim.

- Me desculpa, eu acredito, juro, mas não fica brava comigo.

- Me deixa, por favor. Sabe que não resolvo nada no estado que estou. Depois a gente conversa.

- Não quero que você chore por minha causa, principalmente por algo tão banal. - Continuei em silêncio. - Tudo bem, amanhã eu te ligo quando voltar pra casa e saber se a ida ainda está de pé. - Ele beijou minha bochecha. - Não esquece que eu amo você ok? - Senti que ele havia se levantado e depois ouvi a porta se fechar.

Não me movi. Fiquei deitada ali na mesma posição até Ivalú chegar.

- E aí? O casal se reconciliou? - Ela se sentou ao lado da minha cama. - Pelo silêncio parace que não, né. O cara só faltou chorar preocupado com você Dulce, não seja tão má. Viu o que ele deixou aqui pra você? Posso ler? Parece um daqueles cartõezinhos que vocês sempre tocam. - Saltei da cama e tomei o cartão da mão dela. Ivalú deu uma gargalhada gostosa.

"Eu sem você sou só desamor. Um barco sem mar, um campo sem flor.
Tristeza que vai, tristeza que vem. Sem você meu amor. Eu não sou ninguém.
"

Caio Fernando Abreu.

- Tem outro. - Ivalú falou. Levantei os olhos até a mão dela. Ela segurava um outro cartão, e preso a ele, uma caixinha minúscula vermelha.

- O que tem aí? - Perguntei desconfiada. Ela deu de ombros.

- Nada. - Ela escondeu o cartão antes que eu pudesse pegá-lo. - Ele mandou esse por mim, mas disse que era pra entregar só amanhã. - Ela deu de ombros se levantando.

- Ah não, me dá isso Iva. - Choraminguei.

- Não. Prometi a ele que só lhe daria amanhã.

- Então porque me mostrou? - Perguntei brava cruzando os braços.

- Ordens dele.

- Ai, eu odeio vocês. - Bufei e ela riu.

- Deixa de ser curiosa. Amanhã eu te entrego senhorita pirraça.

- Você leu? - Ela assentiu. - Ah que ódio, isso não é justo. O que tem nessa caixinha?

- Não sei. - Ela foi em direção ao banheiro.

- Eu vou achar independente de onde você esconder.

- Eu vou guardar dentro da calcinha, quero ver você pegar.

- Você não faria isso, faria?

- Não duvide de mim Maria.

Procurei o cartão por todos os lados, mas não consegui encontrá-lo. Não foi fácil conseguir dormir com o pensamento naquele cartão. No dia seguinte acordei antes mesmo do despertador e pulei em cima dela.

- Mas que diabos deu em você? - Ela falou brava. - Sai de cima de mim.

- Já é amanhã, me dá o cartão.

- Você dormiu? - Ela escondeu o rosto em baixo do travesseiro.

- Anda logo, se não me dar eu não vou te deixar em paz.

- Em baixo do seu colchão. - A fitei. Claro que eu não procuraria na cama onde eu ia dormir. Ela deve ter colocado enquanto eu dormia. Corri e peguei o cartão com a caixinha.

"Pode até parecer muito cedo, não seiMas você mexeu comigo, deixou-me sem arVocê é o sonho mais completo dos quais sonheiPor mais que palavras sejam suficientes para expressarAtraves delas tentarei meus sentimentos demonstrar:
Mesmo que juntos, haverá momentos ruins em que iremos nos consolarE se muito além as palavras falhares, que seja pelo gesto, pelo olhar.Ainda que por instantes não dê certo, quero ser especial em todos os seus momentos.Não há um dia que não pense em você, seu amor é o maior presente entre todos os acalentos,Agora depois de descrever, mesmo que tão pouco, parte de meus sentimentos


Apenas resta-me teus nenúfares olhos apreciar,Ao ver teus tenros dedos, me deliciar,



Hipnotizar-me com teus luzentes cabelos e perguntar:Você, a mim, quer namorar?"
Sayro Lucas
Minhas mãos tremiam quando terminei de ler o cartão. Ivalú me olhava curiosa. Abri a caixinha sentindo meu coração pulsar mais forte, e de lá tirei uma linda aliança de compromisso. Ela era prata, com um fio dourado traçando toda sua volta e dentro escrito nossos dois nomes.

- Vai ficar aí parada olhando a aliança na caixinha?

- Eu... eu não sei. Pensei que...

- Ele falou que você acharia isso. - Ela revirou os olhos. - Ele nunca pediu você em namoro Dulce, estavam apenas ficando. Coloca logo essa aliança. - Tirei a aliança da caixinha e a coloquei em meu dedo. Caiu como uma luva. - É linda, não é? - Assenti. Tive muita vontade de chorar, mas consegui controlar.

Durante o café da manhã, não conseguia parar de olhar para minha mão e reler o cartão inúmeras vezes.

- Dulce Maria? - Uma voz desconhecida me chamou. Levantei a cabeça e antes de olhar para trás, onde a voz surgira vi que muitos, ou melhor, o refeitório em peso olhava em minha direção. Senti uma energia estranha percorrer meu corpo e quando olhei para trás, topei-me com uma das funcionárias segurando un enorme buquê de tulipas vermelhas. - Entrega para a senhorita. - Olhei Ivalú que tina um sorriso nos lábios. Peguei o buquê e agradeci. Senti o cheiro das flores. Era maravilhoso. Vi que no meio delas tinha outro cartão. Peguei, abri e li.

"Já são três meses juntos menina. Espero no fundo do meu coração que você tenha aceitado meu pedido de dar um passo a diante.
Não para por aqui meu amor."


"O tempo tem uma forma maravilhosa de nos mostrar o que realmente importa."

Caio Fernando Abreu.



Tinha mais. Eu só não sabia o que viria depois disso, nem onde muito menos quando. Minhas bochechas ardiam com todos me olhando curiosos. Rodrigo me olhava com fúria do outro lado do refeitório, e eu podia ouvir das pessoas perto de mim alguns cochichos. Metade de mim era vergonha de ser o centro das atenções, a outra metade queria não se importar com mais ninguém, esperando ansiosamente pela próxima surpresa do dia. 

[REVISÃO] Intercâmbio (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora