Cap.1: Minha Dul continua ali, mas perdida.

4.8K 155 9
                                    

🌺🌹🌺🌹🌺🌹🌺🌹🌺🌹🌺🌹♛♕♛♕♛♕♛♕♛♕♛♕♛♕♛♕

Já havia realizado aquele trajeto tantas vezes que, mesmo me distraindo, acredito que não erraria o caminho. Seguramente, minhas pernas me levariam na direção correta, como guiadas por um piloto automático. Acompanhado por Maite, passo sorrindo pela recepção do hospital e cumprimento uma enfermeira muito séria, que responde de forma seca ao meu bom dia.

Sorrio ainda mais. O que posso fazer? Sinto-me feliz. As pessoas costumam ter aversão a hospitais. Eu não. Tinha motivos de sobra para contar os segundos até chegar a hora de poder estar aqui. Por trás dessas paredes brancas e impessoais, encontrava-se o meu bem mais precioso: Dulce. Havia procurado passar o máximo de tempo com ela, apesar de sua atenção ser também dividida entre familiares e amigos.

Nos dias em que conseguimos ficar juntos, tendo sua companhia exclusiva e desfrutando de conversas tranquilas, percebi que a minha Dul continuava ali, perdida em algum lugar de sua mente. Seu sorriso continuava o mesmo, assim como seu jeitinho tímido de olhar e a sua voz... Céus! Como tinha sentido falta da sua voz!

Durante a noite, admirando-a dormir, assombrava-me a lembrança do seu pedido, suplicando que a resgatasse, caso se perdesse de mim. Havia lhe prometido ir ao fim do mundo se necessário, garantindo que não haveria força capaz de tirá-la de mim. Só não poderia imaginar que essa força seria ela mesma. Após longos dias, ela receberia alta, com uma série de restrições. Mas isso já era esperado, sua recuperação ainda estava em andamento.

Ela tinha sobrevivido àquele terrível acidente, no qual o carro que dirigia foi violentamente atingido. Depois de despertar do coma, melhorava progressivamente, o que nos deixava muito felizes e cheios de esperança. Sabíamos que, mesmo assim, seu estado requereria certos cuidados. E estávamos muito dispostos a cooperar. Tê-la com vida e saúde era o mais importante.

Em breve Dulce voltaria para casa e colocaríamos um fim àquela farsa ridícula de sermos apenas irmãos. Era difícil prever sua reação. A angústia, a euforia e o medo povoavam minha mente. Estava ficando cada vez mais difícil esconder meus sentimentos. Combinara com nossos pais me comportar apenas como seu irmão, e até então tinha cumprido com a minha parte. Só eu sei o quanto isso me custava.

Se não fosse abençoado diariamente com a sua presença e o seu sorriso, talvez não tivesse suportado. Tínhamos conversado bastante nos últimos dias. Contei-lhe piadas e histórias engraçadas da nossa infância. Levei um baralho para jogarmos e passar o tempo. Aos poucos, fui revelando mais detalhes de minha vida, sempre com a esperança de que pudesse lembrar alguma coisa sobre nós.

Entretanto, ela apenas ouvia com a mesma expressão surpresa e olhar curioso. Naquela noite enquanto jogávamos, comentei animadamente sobre a minha profissão e ela vibrou ao saber dos personagens que já havia representado.

- Meu irmão é um ator famoso. Eu adoro esse personagem! - comentou empolgada -Sempre tive uma quedinha por ele!

- Como é que é? - perguntei bem humorado. - Você sempre teve uma quedinha por quem?

- Por esse herói que você representou. - respondeu com olhar sonhador. - Nossa! Você deve ter ficado perfeito no papel!

- É mesmo, por quê? - sabia que era crueldade perguntar aquilo, mas não resisti.

Mais Que Irmãos - 2° TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora