Cap.150: Estava te procurando.

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Numa única manhã, consegui ser bicado por um galo briguento, corri de um ganso homicida, escorreguei no chiqueiro dos porcos enfiando o traseiro na lama mal cheirosa, escapei de levar um coice de um cavalo velho e rabugento e fiquei com as mãos cheias de bolhas doloridas por limpar o estábulo sem usar as luvas.

Na hora do almoço, estava tão cansado e com tanta fome que, se me dessem carne crua, comeria sorrindo. Foi uma agradável surpresa quando Wesley disse que almoçaríamos em sua casa, onde sua esposa nos aguardava. A residência ficava dentro da propriedade e uma mulher alta, loira e gordinha nos aguardava à porta. Mary deu um largo sorriso ao nos ver e Wesley a beijou carinhosamente no rosto. A diferença de altura entre eles era inegável, mas depois de ver como se olhavam, aquilo parecia não ter importância; principalmente quando ele tocou carinhosamente a barriga arredondada de sua esposa, notadamente em estado avançado de gravidez.

- Seja bem-vindo, senhor Uckermann! - saudou-me de maneira simpática. - Por favor, entre e fique à vontade.

- Por favor, pode me chamar de Chris. - falei retribuindo o sorriso sincero.

A casa era bem menor que a do meu avô, mas Mary me recebeu como uma soberana em seu castelo, muito orgulhosa do seu lar. Na sala, os móveis eram rústicos, as janelas tinham cortinas floridas e os enfeites eram poucos, mas estava tudo limpo e arrumado. Aquela simplicidade aconchegante me agradou muito. E acabei me sentindo mais à vontade ali do que na casa do meu avô.

Depois de lavarmos as mãos, ela nos serviu uma apetitosa refeição. O alimento quente, cheiroso e suculento era tudo que precisava para aplacar minha fome. A comida caseira pareceu um manjar dos céus. Pouco falamos. Wesley e eu estávamos mais preocupados em encher nossos estômagos vazios, enquanto Mary tagarelava como havia sido sua manhã. Comi tanto que tinha a impressão que ia explodir. Ao final, elogiei efusivamente o talento da cozinheira, fazendo com que ela corasse de prazer. Encostei minhas costas na cadeira e senti que podia dormir até o dia seguinte.

- Vai passar o Natal aqui no sítio? - ela me perguntou.

- Sim. Provavelmente irei passar todo o final de ano aqui com o meu avô. - respondi conformado.

- E a sua esposa vem também?

- Como sabe que sou casado? - perguntei surpreso. E ainda sorrindo, ela apontou para minha mão e me dei conta da aliança. Toquei-a com outra mão e respondi desanimado. - Não sei, mas gostaria muito que viesse.

- E por que ela não viria? - inquiriu curiosa.

- Vamos, Mary! - Wesley a chamou segurando sua mão. - Deixe o rapaz em paz, não vamos ser enxeridos!

- Tudo bem. - assenti calmo. - A dúvida dela é compreensível. É uma longa história. Mas resumindo, posso dizer que tivemos um desentendimento e estamos dando um tempo, ela ficou de me procurar.

Acabei de dizer aquilo, olhando para o prato à minha frente e me sentindo murcho como um balão vazio.

- Desculpe, Chris. - Mary disse com os olhos cheios de remorso. - Não teria perguntado se soubesse que era um assunto tão delicado.

- Não se preocupe, já estou me acostumando com isso. - a tranquilizei tentando sorrir. Mas sabia que havia dito uma mentira. Nunca me acostumaria ficar longe da Dulce.

- Bem, quando ela chegar, não queremos que veja suas mãos nesse estado, não é mesmo? - falou apontando para as bolhas em minhas mãos. - Espere aqui que já vou tratar disso.

Mary levantou, logo voltando com remédio, gaze e esparadrapo. Em pouco, estava com as mãos cheias de curativo.

- Para quando é o bebê? - perguntei enquanto ela terminava de colocar um pouco de pomada em minhas mãos.

- Para qualquer momento! - respondeu sorrindo e acariciando a barriga. - Pronto, terminei.

- Obrigado. - agradeci, sentindo-me aliviado. - Prometo não esquecer mais das luvas! - e todos rimos.

Aquela tarde passou rapidamente. Havia um enorme volume de trabalho e a minha pouca prática deixava tudo muito mais devagar. Quando estava anoitecendo foi que dei por encerrado meu expediente. Segui para casa com o corpo moído, tão exausto que quase não conseguia pensar. Fui direto para o chuveiro. A água quente bateu em meu corpo como um bálsamo. Tomei a sopa que o vovô me serviu, sem sentir o sabor e respondendo às suas perguntas com monossílabos. Fui para o quarto e me joguei na cama, apagando instantaneamente. Não me lembrava de dormir tão cedo há anos.

O restante da semana se passou da mesma forma. Vovô me mantinha tão ocupado, que mal tinha tempo de me coçar. Quando me dei conta, era véspera de Natal e nem sinal da Dulce. Passava frequentemente a mão pelo peito, querendo aliviar aquele desconforto causado pela dolorosa espera.

Naquela manhã, levantei cedo como de costume e depois do desjejum caprichado fui alimentar os animais. Já tinha cumprido meu dever com as aves, os porcos e as ovelhas. Era hora de tratar dos cavalos. No estábulo, eles relinchavam impacientes.

- Pronto, não precisam mais reclamar. - falei colocando a mistura especial nas baias.

Cocei a cabeça de um dos animais mais mansos, observando suas orelhas se mexerem, demonstrando gostar do carinho. Sorri. Estava assim distraído, quando ouvi a voz de um anjo dizer:

- Estava te procurando.

Mais Que Irmãos - 2° TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora