Cap.144: Se tem vontade chorar, chore.

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Marotona 4 cap
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Pov. Chris

- Obrigado, mãe. - agradeci ao seu ouvido, enquanto a abraçava.

- Cuide-se, meu filho! - aconselhou segurando meu rosto. - E se não nos falarmos até lá, tenha um feliz Natal!

- Não será Natal estando longe dela. Mas a senhora acabou de me dar um presente antecipado.

Depois que mamãe partiu, corri para o computador, entrei no meu e-mail, cliquei em "nova mensagem", digitei o e-mail dela e... nada. Passou-se mais um tempo. Nada. Não conseguia digitar, via o cursor piscando à minha frente, mas não sabia como começar. Aquilo era muito irônico, depois de tanto tempo procurando um meio para falar com ela, consigo um e fico travado! Naquela noite, deitei na cama pensando sobre o que deveria escrever e como começar. Tudo que me vinha à cabeça parecia bobo ou sem sentido. Queria encontrar a maneira correta, as palavras adequadas. Foi então que, ao ligar o rádio e colocar os fones no ouvido, o destino finalmente me deu uma luz. Tinha acabado de encontrar a maneira perfeita, tocando bem aos meus ouvidos. Já era madrugada quando me sentei em frente ao computador, digitei uma mensagem curta, mas consistente, e anexei à mensagem principal.
Cliquei ansioso em "enviar" e foi com excitação que li: "mensagem enviada com sucesso". Voltei para a cama, mas não conseguia dormir. Tudo em que pensava era qual seria a reação da Dulce quando tivesse acesso à minha mensagem. Como receberia aquilo? Será que ela abriria o e- mail ou simplesmente iria apagar? Engoli seco pensando nisso, afinal, essa era uma possibilidade. Eu preferia ter fé de que sua curiosidade seria mais forte. E foi com essa esperança que adormeci, deslizando suavemente para o mundo dos sonhos, onde baunilha e mel me aguardavam.

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Pov. Dulce

Tempo. Segundos. Minutos. Horas. Dias. Semanas. Dia ou noite.

Tempo: algo muito relativo e sem sentido em minha vida. Eu não sabia a que horas acordava, comia ou dormia. Tudo o que sabia era que aquilo não passava, estava sempre comigo, do momento em que abria os olhos ao instante que voltava a fechá-los. Dor. Dor além da razão, dor além da compreensão. E nada, simplesmente nada, fazia parar. Eu podia rolar na cama de um lado para o outro, mas a dor dentro de mim continuava insistente e poderosa. Aquilo queimava e ardia como um ácido corrosivo. Corria até a cozinha no meio da noite e bebia vários copos com água gelada, como se ao sentir o frio entrando pela garganta pudesse aplacar aquela desintegração interna. Lembrava com perfeição a primeira noite daquele tormento.

Totalmente esgotada, após horas de choro prolongado, caí num sono agitado e sonhei que estava correndo, alguém me perseguia, não conseguia ver quem era, mas sentia o perigo. Estava acuada e corria por entre as árvores buscando refúgio. Já estava escurecendo. O frio e o cansaço me invadiam, mas a perseguição continuava, tinha que fugir. De repente, uma figura surgia à minha frente, eu gritava de pavor, gritava até perder a voz. Acordei berrando a plenos pulmões. Depois dessa primeira noite, não quis mais dormir, tinha medo do sonho. Tinha medo daquela figura misteriosa, tinha medo daquele desconhecido. Acordei sozinha na minha enorme cama de casal e, como sempre, quando erguia os olhos, a primeira coisa que via pendurada na parede éramos ele e eu, abraçados e felizes.

A dor aumentava. O ácido da mágoa percorria minhas veias, corroendo tudo que encontrasse no caminho. Sentia uma agonia além das palavras, a dor do que foi, do que era, do que poderia ter sido e do que nunca mais seria. A sensação que eu tinha era que havia sido espancada, não havia lugar que não doesse. Era como estar coberta de chagas, feridas sangrentas que não cicatrizavam. E que doíam a ponto de enlouquecer. Contorcia-me na cama, buscando uma posição que trouxesse algum alívio, mas tudo permanecia. Gemia em agonia, arranhava-me como se quisesse arrancar minha pele, desesperada por alívio. Eu tinha uma vaga noção de pessoas entrando no quarto, falando comigo, tentando me empurrar comida e outras coisas, mas eu não queria nada.
Tive a impressão de que Anahí esteve ao meu lado, mas não conseguia vê-la de verdade. Parecia que eu estava queimando em uma dolorosa febre, vivendo o delírio daquela dor. O choro e as lágrimas não conseguiam minimizar tal veneno, eu estava muito além de qualquer antídoto. Depois de dias assim, que pareceram intermináveis, quase não me mexia mais, só soluçava sem forças, esgotada. Foi então que surgiram braços empurrando as cobertas e me puxando da cama, tirando-me dali.

Mais Que Irmãos - 2° TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora