Cap. 155: Cuidado com o que pede.

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Tô muito atarefada, mau assisto as minhas séries.😢
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Fechei os olhos. Não queria que minha última lembrança da Dulce fosse vê-la saindo pela porta e partindo as vésperas do Natal. Tinha feito tudo que estava ao meu alcance para que isso não ocorresse. Mesmo tendo ficado tentado a prendê-la à força junto de mim, não o fiz. Sabia que essa atitude egoísta seria o maior dos meus erros. Sabia que se fizesse isso perderia de vez a pouca confiança que ainda restava nela e estaria tudo perdido para sempre. Sem saber mais o que fazer, e sem ter a quem recorrer, em agonia, fiz uma última súplica mental, implorando por um milagre, implorando por mais uma chance, implorando por uma intervenção divina.

Foi então que ouvi, em meio àquele silêncio e dor, vindo de não sei onde, um estampido repentino. Abri os olhos. Dulce ainda estava parada e a porta fechada. Percebi que ela também tinha ouvido o ruído apavorante e havia se virado, olhando-me assustada. Ouvimos outro estampido, ainda mais alto, e ficamos imóveis, olhando-nos amedrontados.

- O que está acontecendo? - perguntou olhando ao redor.

- Eu não sei. - respondi igualmente surpreso.

O barulho começou a aumentar, o vento corria tão forte que parecia mil leões rugindo ao mesmo tempo ao redor do celeiro. A construção rangia inteira, como se estivesse sendo chacoalhada nas mãos de um gigante. A impressão que tínhamos era que estávamos dentro de um filme sobrenatural, estilo Poltergeist. Alguns vidros das janelas começaram a se quebrar e o vento entrou no celeiro criando pequenos redemoinhos ao nosso redor. Coisas leves começaram a voar, sendo arremessadas de um lado para outro. As janelas tremiam como se estivessem sendo esmurradas. Parecia que sofríamos um ataque massivo de todas as forças da natureza.

Corri, puxei a Dulce pelas mãos e a trouxe para baixo da viga principal. Se aquelas paredes não aguentassem a fúria do vento e da neve, considerei que teríamos mais chance se ficássemos ao centro. Não sabia por quanto tempo mais aquela velha estrutura iria aguentar. As luzes se apagaram e nos abraçamos, o mundo parecia estar acabando. Estávamos cercados pelo caos e pela escuridão. Dulce, encolhida e apavorada, segurava-me pelo casaco e escondia o rosto em meu peito. Eu a abraçava protetoramente, apertando-a firmemente de encontro a mim. E mesmo não devendo, por causa do perigo iminente, agradeci aquela dádiva de poder ficar mais um pouco com ela.

A porta se abriu bruscamente. Lá fora, o tempo parecia ter enlouquecido, tamanha a força e violência da tempestade que caía. Vimos o jato de luz de uma lanterna e uma figura encapuzada parada à porta. Felizmente, não era o Freddy Kruegger.

- Chegou uma nevasca! - reconheci a voz de Wesley. - Venham, vamos sair daqui. Prometi ao seu avô guiá-los até em casa!

- Não é muito arriscado? - perguntei inseguro. - Não é melhor esperar um pouco, até que diminua?

- Vai demorar horas! - ele gritou. - Isto é só o início, temos que sair agora, enquanto ainda conseguimos andar!

Eu confiava no Wesley. Se dizia aquilo, só me restava aceitar e segui-lo. Segurando firmemente Dulce junto a mim, passamos pela porta e fomos chicoteados pelo vento e pela neve, envolvidos por um frio assombroso. Com muita dificuldade, fizemos o curto trajeto até a casa do vovô - que naquele clima terrível parecera um longo percurso. A visibilidade era péssima e nos guiávamos pela figura de Wesley que estava a poucos passos de nós. Finalmente vi a sombra da casa e suspirei aliviado. Durante todo o trajeto, Dulce permaneceu em silêncio, agarrada a mim como um ratinho assustado.

Assim que atravessamos a varanda, a porta da casa se abriu e entramos apressados, tremendo de frio.

- Graças aos céus vocês chegaram! - ouvimos vovô dizer preocupado.

Sacudi da cabeça e da roupa o excesso de neve, enquanto pensava comigo: "Cuidado com o que pede; você nunca sabe como será concedido!"

A casa estava às escuras, a luz ainda não tinha voltado. Vovô segurava uma lanterna, e agora nos iluminava.

- Dulce, querida, você está bem? - perguntou abraçando-a.

- Sim, vovô. Estou bem. - respondeu retribuindo o carinho e beijando-o no rosto.

- Wesley me avisou que você tinha chegado. Que sorte! - falou aliviado - Se pegasse essa tempestade na estrada, poderia ter que ficar parada por horas. Felizmente, chegou aqui antes.

- Quando o senhor acredita que poderei voltar pra casa? - perguntou, acabando de sacudir a neve de seu corpo.

- Se bem conheço esse clima, provavelmente, só amanhã teremos alguma melhora. Procure se conformar. Este ano, passará o Natal ao lado do seu velho avô!

Enquanto a Dulce arregalava os olhos surpresa, abaixava o meu rosto tentando disfarçar o sorriso, ouvindo vovô cantar feliz o refrão daquela famosa canção natalina, Jingle Bells.

Mais Que Irmãos - 2° TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora