Cap. 21: A vida perdeu a cor

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Nossos olhos se encontraram, meu coração começou a bater feito louco, e nossos rostos foram se aproximando bem devagar.

Meus olhos, muito abertos, viam aquele rosto se aproximando, aproximando e... Eu o empurrei! Simplesmente entrei em pânico novamente, assustada com a intensidade das minhas emoções.

- Desculpe, é que agora preciso ir. - disse me afastando e tropeçando na cadeira.

- Espere um pouco, vamos... - replicou com um olhar frustrado, erguendo os braços.

- Realmente preciso ir! - falei interrompendo-o e colocando minha mochila no ombro. - Até mais tarde! - e corri porta afora.

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Tudo passa. Fases ruins também passam. É o que dizem. Para mim, isso não fazia muito sentido. Não sentia as coisas passarem, elas apenas alternavam entre fases melhores e piores. Não quero soar pessimista, muito pelo contrário.

A crise que enfrentamos com o acidente de Dulce tinha sido a mais dolorosa de todas as situações e, felizmente, conseguimos atravessar e superar isso.

A prova estava bem à minha frente: Dulce entretida com Anahi, brincando e rindo enquanto estudavam. Ela estava tão à vontade sentada à mesa da copa, debruçada sobre livros e cadernos.

Eu tentava ser discreto na minha contemplação, mas às vezes me deixava levar pelo sentimento e esquecia o olhar sobre ela, como fazia agora. Quando ergueu o rosto, pegou-me desprevenido e não tive como disfarçar.

E como sempre acontecia nessas situações, ela abaixou rapidamente os olhos, constrangida. Perdia toda naturalidade, deixando o cabelo cair na frente do rosto e encolhia o corpo como querendo se esconder. Parecia um bichinho acuado.

Era uma situação desconfortável. Eu ansiando por aproximação e ela me evitando. Sentia-me péssimo. De todos os sentimentos que queria despertar em Dulce, com certeza, medo não era um deles.

Meu maior desejo era recuperar a naturalidade amorosa da nossa relação. Compartilhar a ternura e a confiança que eram tão parte de nós. Partilhar do prazer delicioso de tocá-la e ser tocado por ela. De sermos novamente um casal.

Diante dessa situação, preferi sair um pouco para dar uma caminhada. Andei pela calçada sem destino. Gostava de me manter em movimento, ajudava a acalmar e clarear as ideias.

Tenho que alcançá-la. - pensei - Tenho que criar uma forma de romper a barreira da desconfiança e da mágoa e me aproximar dela. Eu precisava resgatar a antiga confiança que partilhávamos. Mas como?

Reconquistar Dulce parecia tarefa cada vez mais difícil. Os muros que ela construía ao seu redor pareciam sempre mais altos e resistentes. Nenhuma conversa bem intencionada, por mais elaborada e sensível que fosse, conseguia abrir uma fresta através daquela muralha.

Estava sendo obrigado a compreender que conhecer os fatos era diferente de entender e aceitá-los. Sabia o que havia acontecido entre nós. Mas isso não significava que havia assimilado o que tinha ouvido e que aceitasse aquela situação.

Não tínhamos atingido seu coração. E esse permanecia o grande desafio. Olhei para o manto cinza acima de mim. Era como uma tela gigantesca, refletindo como me sentia naquele momento. Suas cores sombrias, como reflexos do meu humor.

Na verdade, não era apenas o céu que eu encarava nesse tom: as pessoas, as casas, as ruas, tudo estava coberto por essa penumbra, como se a vida tivesse perdido o brilho, a cor.

Mais Que Irmãos - 2° TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora