Cap.29: Eu escolho você

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Olhei-o admirada, tanto pela afirmação quanto pelo beijo que ficou em suspenso. Pedi que continuasse. A história, não o beijo. Sim, eu era uma covarde crônica.

Era tão assombroso ouvi-lo falar essas coisas, de como seus sentimentos por mim começaram e se desenvolveram. Sua intensidade nunca deixava de me espantar.

- Fui ficando cada vez mais encucado com isso, até que não aguentei mais e fui até você para perguntar se havia alguma coisa errada.

- E havia? - perguntei muito curiosa e estarrecida de não me lembrar de nada disso.

- A princípio você tentou desconversar, mas não me deixei enganar. Insisti um pouco mais e você desabafou, confessando que se aproximava a data de falecimento de seus verdadeiros pais e que gostaria muito de visitar seus túmulos para levar flores. A data era próxima de seu aniversário e você não tinha coragem de falar sobre isso com a mamãe, com receio dela interpretar mal o seu pedido, achando que não se sentia amada ou querida. Claro que achei isso uma tolice, mas você me fez prometer que não ia falar nada. Para resolver essa questão, combinei que a levaria escondido no dia exato, depois da escola. E foi o que fizemos.

- Você fez isso por mim? - perguntei num sussurro.

Ele deu de ombros e enfiou as mãos nos bolsos da calça, meio sem jeito.

- Não foi nada demais. Desde então, tornou-se uma espécie de segredo nosso. Voltávamos todos os anos no mesmo período ou em alguma outra data que você quisesse.

Olhei para os túmulos, o chão estava com várias folhas secas.

- Esse ano nós já estivemos aqui?

- Não, acho que viríamos próximo ao Natal.

Virei-me e comecei a remover as folhas, limpando um pouco.

- É tão... estranho.

- O quê?

- Saber disso tudo, que viemos aqui juntos, que compartilhamos confidências, que testemunhamos tantos acontecimentos marcantes de nossas vidas... É quase apavorante perceber o quanto éramos íntimos.

Ele segurou minhas mãos, parando o que eu estava fazendo. Voltei a olhá-lo.

- Dulce, por anos nos comportamos apenas como irmãos; desenvolvemos uma relação baseada em amizade e cumplicidade, mesmo querendo e sentindo muito além. Entretanto, quero que entenda, e isso é essencial, sempre fui seu amigo, nossa empatia foi imediata, a gente compreendia um ao outro e se respeitava. Quando mais ninguém nos compreendia, sabíamos que encontraríamos no outro apoio e carinho. Preciso que entenda que, apesar de não se lembrar, para mim nada mudou, continuo o mesmo. Se precisar de mim, estarei aqui.

Ao ouvir aquilo, senti algo partir dentro de mim, como uma taça de cristal muito fino que inexplicavelmente trinca. Por essa pequena rachadura começou a sair alguma coisa morna e doce, fluindo pelo meu peito e me permitindo relaxar.

Oficialmente Christopher poderia ser meu marido, título que para mim ainda era difícil de aceitar. Mas agora eu sabia que tinha nele um amigo. E isso eu não só queria como precisava desesperadamente.

- Obrigada. - agradeci com voz embargada.

Ele não respondeu, limitou-se a mover a cabeça levemente e apertar minha mão.

- Queria tê-los conhecido. - disse olhando para as lápides.

- Tenho certeza que gostariam de você. - murmurei e depois falei algumas palavras em português.

- O que você disse? - perguntou curioso.

Sorri, antes de responder.

- Algo que minha mãe costumava dizer. "Os amigos são a família que escolhemos". E eu escolho você.

Mais Que Irmãos - 2° TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora