Cap.157: Enfeites.

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Mas uma visão dolorosa atravessou minha mente, aquela mulher alta e magra enrolada num lençol, rindo vitoriosamente. Essa recordação teve o efeito de uma bofetada. Acordei daquilo tudo e não me permiti continuar afundando naquelas sensações.

— O que você pensa que está fazendo? — perguntei aborrecida, empurrando-o pelos ombros.

Evidentemente, ele foi pego desprevenido, pois perdeu o equilíbrio, caindo pra trás e, como estava agarrado a mim, me levou junto com ele. Resultado: caí por cima dele, com as pernas abertas, bem em cima do seu rosto. E justamente nesse momento meu avô entrou na sala.

— Crianças, a nossa ceia... — vovô parou de falar assim que nos viu, e quase morri de vergonha.

Levantei rápido e logo tratei de me corrigir.

— Vovô, não é o que o senhor está pensando! — justifiquei apressada.

Olhei para o Chris, que tinha acabado de sentar e me olhava sorridente. Tive vontade de socá-lo!

— Dulce, só tenho uma coisa a dizer, temos um ótimo quarto lá no final do corredor. Da próxima vez, lembrem-se de ir para lá. — avisou com toda calma. Imediatamente senti meu rosto queimar de embaraço. — Agora, como eu estava dizendo, enquanto vocês acabam de fazer a decoração, vou temperar o peru. Convidei o Wesley e a Mary para cear conosco amanhã. Por isso, quero adiantar as coisas lá na cozinha. — depois saiu com um meio sorriso malicioso.

Realmente, o senso de humor dos Uckermann era uma coisa muito estranha.

— Não se atreva a me tocar novamente essa noite! — exigi.

O sorriso morreu em seu rosto. Olhou-me sério. Parecia decepcionado.

— Você também queria, Dulce. — afirmou ao se levantar.

— Você é o cara mais convencido que conheço, sabia? — Dei-lhe as costas, furiosa com sua presunção.

Tentando disfarçar o conflito de emoções que sentia, resolvi continuar a arrumação que tinha sido interrompida. Abri outra caixa de enfeites.

— Quer ajuda? — perguntou, parando bem atrás de mim, como se nada tivesse acontecido.

— Pode deixar, consigo me virar sozinha. Obrigada. — agradeci mal humorada.

— Se ainda quiser pregar aquelas coisas na janela, e como não vou deixar que chegue perto de uma escada novamente, minha altura será de grande ajuda, concorda? — aquela pergunta petulante só serviu para me deixar ainda com mais raiva. Virei de frente pra ele.

— Escute aqui! — rebati firme, com dedo em riste. — Se quiser me ajudar, tudo bem, afinal, essa festa não é só minha, é sua também. Mas vou te avisar só mais uma vez, essa noite, mantenha sua boca, suas mãos e tudo que vem junto com elas bem longe de mim!

Seu rosto se abriu num sorriso travesso, como se estivesse se divertindo com uma piada que eu ainda não tinha entendido. Por fim, colocou as mãos na cintura e sacudiu a cabeça, conformado.

— Prometo me comportar. — falou de mãos erguidas, em sinal de rendição. — Em que posso ajudar?

Embora suas palavras me convencessem da sinceridade da promessa, algo na sua postura me deixou em dúvida. Algo no brilho de seus olhos me dizia que estava escondendo alguma coisa, mas o que seria? Ele franziu a testa quando percebeu que eu estava demorando a responder.

— Tudo bem. — aceitei, antes que minha desconfiança fosse perceptível. — Por favor, distribua esses cordões que trancei por todas as janelas. Enquanto isso, vou arrumar melhor aquela árvore de Natal e colocar mais alguns enfeites na sala. Vamos fazer um Natal de verdade!

Surpreendentemente, tudo saiu melhor do que esperava. Enquanto trabalhávamos, o clima de companheirismo retornou e o Chris se revelou muito criativo em suas sugestões, além de talentoso manualmente, como ao colocar metros de pequenas luzes cintilantes por quase toda a sala. Ocupei-me em distribuir vários enfeites como pequenas guirlandas coloridas, velas, imagens de bonecos de neve, sinos e anjinhos cantando. Montei um pequeno presépio perto da árvore — que em minha opinião tinha ficado muito bonito. Por fim, pedi para o Chris colocar no alto da árvore uma linda estrela dourada.

Quando acabamos de usar tudo o que encontramos nas caixas e olhamos ao nosso redor, sorrimos um para o outro, satisfeitos.

— Ficou tão legal! — exclamei feliz.

— Também gostei! — ele concordou alegre. — Acho que o vovô ficará impressionado!

— Ele merece. — falei contemplativamente. — Ele e a vovó sempre adoraram o Natal. Lembra como costumavam chegar cheios de presentes e coisas gostosas lá em casa?

— Sim, lembro-me bem. — respondeu baixinho. — Acho que ele gostará muito de ter novamente um Natal em família.

Assenti apenas balançando a cabeça. Quando o Chris disse a palavra família, senti um aperto na garganta. Se aquelas coisas ruins não tivessem acontecido, aquele seria o nosso primeiro Natal como uma família de verdade, ele, eu, e o nosso bebê. De repente, não consegui mais continuar ao seu lado, a sensação de perda foi devastadora. Precisava me concentrar em alguma coisa. Não queria continuar pensando naquilo, a dor era insuportável. Abaixei a cabeça, tentando esconder meus sentimentos.

— Está se sentindo bem? — perguntou, aproximando-se de mim.

— Claro! — respondi, enquanto fingia arrumar um detalhe na árvore de Natal, brigando com as lágrimas que ameaçavam transbordar. — Vou pra cozinha. Acho que o vovô está precisando de ajuda. — e girando o corpo, fugi rapidamente.

Fiquei o restante da tarde de auxiliar na cozinha. Felizmente, o Chris precisou sair novamente para ajudar Wesley com os animais, o que evitou novos confrontos. Nunca a sobriedade do vovô me foi mais preciosa. Não estava no humor para um bate-papo animado e ele, parecendo adivinhar como me sentia, falou pouco e perguntou menos ainda, limitando-se a uma conversa leve sobre amenidades. À noite, compartilhamos um lanche bem gostoso, com sanduíche de presunto e queijo e tortinhas de frutas secas que eu adorava. Reconfortada pelas delícias caseiras, fui tomar banho. E como não tinha vindo preparada, acabei vestindo uma das antigas e longas camisolas da vovó, cedidas pelo vovô.

Como minha estatura era mais baixa que da antiga dona, tive que dobrar as mangas e andar puxando o tecido para não pisar na barra.

Quando Alfonso voltou, acabávamos de assistir a um antigo filme natalino que passava na TV. Gostei, porque o tema inocente e musical havia me ajudado a esquecer um pouco os problemas. Com o retorno do Chris, aleguei cansaço e fui me esconder na solidão do quarto que me foi reservado. Pela expressão magoada, lógico que ele percebeu a minha escapulida. Mas não havia força que me fizesse continuar naquela sala. Já tinha tido emoções suficientes para um único dia. O que precisava agora era uma noite de paz e sossego. Sei que estava sendo patética ao trancar à chave a porta do quarto antes de dormir. Só que foi uma reação incontrolável. Melhor do que ficar a noite toda acordada olhando para a porta. Normalmente, sabia que Chris não forçaria uma situação entre nós. A questão era que a situação que vivíamos agora não tinha nada de normal, e conhecia ele suficientemente para saber que sob pressão era capaz de tomar atitudes exageradas. Como dizem por aí, antes prevenir que remediar.

Na manhã seguinte, como sempre ocorria nessa ocasião, nos cumprimentamos de forma calorosa. Abracei e beijei o vovô. Depois foi a vez do Chris, que aguardava afoito. Nem preciso dizer que nosso abraço foi um pouco mais longo e apertado do que seria saudável para o meu pobre coração. Porém, fica muito difícil empurrar, mesmo que gentilmente, um cara bem maior que você

Mais Que Irmãos - 2° TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora