Cap.146: Pequena sereia.

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Quando me aproximei, observei o quanto sua postura tímida era encantadora, contrastando visivelmente com o seu olhar. Havia luz em seus olhos, um brilho que revelava uma natureza interior apaixonada, vibrante e muito carente. Depois de um ano vivendo num orfanato, tendo pouco ou nenhum carinho mais pessoal, para uma personalidade afetuosa como a dela, deveria ter sido muito difícil. Apesar de sua timidez, eu sentia que ela estava ansiosa por receber e dar carinho e amor. Não sabia explicar direito, mas desde o primeiro momento havia sido assim, a gente olhava um pro outro e se compreendia. Entendíamos nossas personalidades sem precisar de muitas explicações, simplesmente enxergava tudo o que ela era. E fiquei fascinado. Quando consegui convencê-la a descer e ousadamente segurei sua mão, tudo o que consegui pensar foi: "Ela é minha".

Na época, só não havia ficado muito claro o quê ela era minha. Ao descer as escadas, com nossos dedos entrelaçados, sentindo o calor da sua pele em minha mão, tudo o que sabia era que gostava de sentir aquilo com ela, gostava quando estávamos juntos, adorava quando sorria só pra mim. Quando baixei meus olhos para seus lábios, espantado, me peguei pensando se seriam realmente tão macios como aparentavam. Sacudi a cabeça, horrorizado com esses pensamentos. Afinal, ela era minha irmã e eu estava ali servindo de cicerone, apresentando-a para toda a família. Não devia pensar nela dessa forma. Não podia. Mas a sua presença pequena me fazia sentir ridiculamente feliz. Ela era irresistível.

Por isso mesmo pensei:

Devo ficar longe dela, é perigoso. - e novamente não soube definir muito bem para qual de nós dois seria perigoso, se pra mim ou pra ela.

Tentando afastá-la dos primos mais chatos e inconvenientes, acabamos esbarrando no vovô John e na vovó Josephine. Admirava a altura de meu avô, até hoje é mais alto que eu - ele tem quase dois metros de altura! E a Dul, vendo-o pela primeira vez, levou um baita susto e se escondeu atrás de mim.

- Acho que vi uma ratinha, John! - brincou vovó.

- Talvez, Jô! - correspondeu. - Uma ratinha morena, pelo que parece!

- Se oferecermos um pouco de queijo, talvez ela se aproxime. - disse vovó se agachando para ficar da nossa altura.

- Então, Chris! - chamou vovô colocando a mão em meu ombro. - Não vai nos apresentar sua irmã?

Tentei empurrar Dulce para frente, mas para minha alegria e constrangimento, se agarrou no meu braço e não me soltava.

- Mas o que é isso? - perguntou vovô. - Será que sou assim tão feio que estou assustando lindas garotinhas, como você?

- Não, senhor. - Dulce respondeu baixinho.

- Somos seus avós, meu bem. - vovó falou sorrindo. - Sou vovó Josephine, mas pode me chamar de vovó Jô, e esse é o vovô John.

Marina olhou de um para o outro ainda um pouco assustada, porém senti que começava a relaxar.

- O senhor é um gigante? - perguntou olhando boquiaberta para vovô e ele sorriu, o que foi um bom sinal, não era um homem de muitos sorrisos.

- Hum, então é assim que pareço para você, não é mesmo? - perguntou e se agachou como fazia minha avó. - Pronto, será que assim ficou melhor?

- Oh, sim! - Dulce respondeu com deliciosa sinceridade. - Agora posso ver o seu rosto! - e ao ouvir aquilo, vovô deu uma boa risada.

- Qual é o seu nome? - perguntou.

- Dulce.

- Lindo nome! Seu nome vem do latim e significa "aquela que vem do mar"*, ou seja, uma sereia, sabiam disso?

(*hipótese)

- Não, senhor. - respondemos juntos.

- E então, pequena sereia, quer dizer que está enfeitiçando a todos com o seu canto? - brincou vovô e ela sorriu encabulada.

Olhei pra Dulce, pensando que realmente tinha de haver algo sobrenatural a seu respeito. Tive vontade de responder ao vovô que, não podia garantir pelos outros, mas definitivamente já era uma vítima do canto daquela sereia.

Foi então que papai se aproximou abraçando a nova filha com carinho. E ficamos os três ali, três gerações de homens Uckermann, completamente enfeitiçados por aquela menina. Até hoje não saberia explicar o que tem de diferente na Dulce. Mas algo nela se conecta automaticamente aos homens da família Uckermann, é só sorrir e ficamos meio bobos. Foi dessa forma que conquistou um avô atencioso, um pai devotado e a mim - a princípio, um irmão protetor; depois, um homem completamente apaixonado.

Saí da rodovia principal e entrei numa estrada secundária. A paisagem era belíssima, quilômetros de campos cobertos de neve. Ao longe uma floresta de muitos pinheiros e algumas montanhas formavam uma cerca natural contra os ventos violentos do inverno. Por volta de meia hora depois, me aproximei do enorme portão de madeira que marcava o início da propriedade do vovô, atravessei aquele marco e continuei mais um pouco até chegar à casa principal.

Mais Que Irmãos - 2° TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora