119: Eu te amo

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No hospital, aplicaram-me doses massivas de antibiótico e fui liberado com orientações que deveriam ser seguidas à risca para que meu pulmão se recuperasse, sem fumar - compromisso que Anahí assumiu com o entusiasmo de uma escoteira.

Surpresa ainda maior foi perceber que Marichelo também assumiu parte da responsabilidade. Pela manhã, enquanto Anahí estivesse na escola ela ficaria comigo.

E vou dizer, foram horas muito agradáveis que passamos juntos, ouvindo suas histórias de família e comendo as refeições leves e deliciosas que preparava. Sentia-me quase um inválido, sendo servido na cama.

Quando Marichelo quis me dar comida na boca, como um bebê, recusei da forma mais educada possível. Isso seria demais para os meus cromossomos. Depois do almoço começava o turno de Anahí.

Quando ela chegava, era como se o sol entrasse no quarto, trazendo luz, alegria e calor. À medida que os dias foram passando e o medicamento fazendo efeito, fui me sentindo mais forte e ficando impaciente com tanta inércia, ainda mais tendo uma namorada linda ao meu lado o tempo todo, a noite toda.

Ficava mortificado vendo Anahí acordar no meio da noite, só porque tinha que me dar o remédio. Nesses momentos não existiam palavras que pudessem expressar o que sentia por ela. Nunca alguém tinha feito tanto por mim.

- Obrigado, Any. - sussurrei numa dessas vezes, na escuridão do quarto. - Eu não mereço.

- Você está tão enganado, Poncho. - sussurrou de volta debruçada sobre mim. - Sabe por quê?

- Por quê?

Ela soltou um doce suspiro e aproximou o rosto do meu.

- Porque, como disse John Donne: "Nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo; cada homem é parte do continente, parte do todo; se um seixo for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se fosse um promontório, assim como se fosse uma parte de seus amigos ou mesmo sua; a morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade; e por isso, nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti".

Prendi a respiração. Aquela declaração me fez confirmar e descobrir três coisas. Primeiro: Anahí não era apenas um corpinho e rosto bonitos; uma mente inteligente e sensibilidade aguçada faziam parte do pacote.

Segundo: ela tinha mais solidariedade no dedinho do pé do que muita gente por aí que se apregoa caridoso. Gandhi ficaria orgulhoso dessa quase compatriota.

Por último, descobri que uma garota dizendo citações clássicas no meio da noite era a coisa mais atraente que poderia existir. O que poderia dizer à altura para tentar retribuir algo tão especial? Não conseguia lembrar nada brilhante ou terrivelmente charmoso que pudesse competir com aquilo.

Foi quando, sem pensar muito abri a boca e uma frase saltou de mim quase como um soluço.

- Eu te amo.

Não lembrava a última vez que tinha dito isso, porque essa era a prova mais concreta de que realmente estava me afeiçoando a alguém, de que laços estavam sendo atados e que estava me tornando emocionalmente dependente de outra pessoa.

Para mim, essa não era uma frase que deveria se empregar de forma leviana, como tantos faziam, falando apenas da boca pra fora, de forma banal. Eu levava realmente à sério afirmar algo assim. Para mim, tinha o mesmo valor que assinar o nome em um contrato com meu próprio sangue.

Mesmo na escuridão, vi os olhos dela brilharem de alegria.

- Você sabe sempre dizer a coisa certa para agradar uma garota. - e me beijou.

Vivo! Era assim que me sentia correspondendo ao seu beijo, com o mesmo entusiasmo que ela demonstrava, e porque não dizer, com o mesmo amor. Já não tinha mais febre. O calor que sentia agora ao puxá-la de encontro ao meu peito era vulcânico.

Girei o corpo, colocando-a sob mim e me deixei levar. Percebi que Anahí estava mais comedida esses dias em suas demonstrações físicas de carinho, mas agora, ela voltava a ser o que era, apaixonada e vibrante.

Eu estava morrendo de calor. Tirei rápido minha camiseta e já estava pronto para fazer o mesmo com ela, quando segurou minhas mãos.

- Não. - negou com firmeza, com respiração arfante. - Vamos parar por aqui.

- Mas, gata, já me sinto ótimo!

- Você está melhorando, Alfonso. Não significa que está curado. Seu corpo precisa de cada grama de energia que possui para se recuperar, não podemos arriscar. Lembra-se do que disse o médico? Repouso absoluto. - ela tocou meu rosto com carinho. - Podemos esperar.

Encaramo-nos e senti o fervor da paixão, sendo substituído por algo doce e delicado.

- Você realmente me ama. - afirmei.

Ela sorriu e disse:

- Só agora você notou?

Mais Que Irmãos - 2° TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora