Cap.160: Impotente

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Wesley e Mary estavam sentados no sofá da sala, ele passava protetoramente um braço por seus ombros, enquanto Mary respirava profunda e seguidamente, demonstrando dor. Enquanto isso, o vovô ligava para o hospital mais próximo e, pela cara que fazia, não estava ouvindo boas notícias.

— Era o que eu imaginava. — comentou depois de desligar o telefone. — As estradas estão fechadas por causa da neve. Não temos como ir, nem eles como vir com uma ambulância.

—O que podemos fazer, John? — Wesley perguntou preocupado.

Olhamo-nos em silêncio, enquanto a Mary gemia de dor. Dulce se aproximou dela e segurou-lhe a mão.

— Vovô, acho melhor a Mary se deitar em um dos quartos, até resolvermos o que fazer. — Dulce sugeriu.

— Não, Dulce. — Mary negou com dificuldade. — Não quero ser um transtorno para vocês. É melhor voltarmos para casa.

— De jeito nenhum, Mary. — vovô declarou com calma. — É melhor ficarem aqui. Dulce, vamos levar Mary para o quarto ao lado do meu. Ela ficará confortável lá.

Wesley e Dulce ajudaram Mary levantar do sofá e a guiaram até o quarto. Vovô fez sinal para que eu me aproximasse.

— Chris, acho que vai sobrar para nós. — informou ao meu ouvido, assim que os viu sair.

— Como assim? — questionei surpreso.

— Não temos como deslocar a Mary com essa tempestade. Não vejo outro jeito, a não ser ajudá-la a ter o bebê aqui mesmo. — esclareceu pensativo.

Olhei para ele sem conseguir acreditar no que tinha acabado de ouvir. Estávamos completamente isolados, com uma mulher prestes a dar a luz, sem nenhum profissional da área médica por perto.

Comecei a suar frio, imaginando o que enfrentaríamos.

— Quem sabe não é um alarme falso? — inquiri esperançoso.

— As próximas horas irão nos dizer. — subitamente bem humorado, ele colocou a mão em meu ombro. — Sabia que o seu tio Oswald, nasceu aqui em casa? O danadinho estava tão apressado que quando a sua avó avisou que tinha chegado a hora, ele já estava quase saindo por entre suas pernas!

Senti meu estômago embrulhar ao ouvir aquilo. Não me sentia nem um pouco preparado para olhar entre as pernas de ninguém, vendo um bebê ou o que quer que seja sair.

— Então o senhor tem prática com isso?

— Bem, com sua avó! Essa foi única vez. Mas já assisti ao parto de vários animais. E se tem uma coisa que aprendi é deixar a natureza seguir seu curso e orar para que não tenhamos complicações.

— Quando o senhor diz ajudarmos a Mary, isso me inclui? Porque, honestamente, não faço a menor ideia do que fazer numa situação dessas!

— Calma, Christopher! — respondeu dando uma risadinha. — Quando disse nós, estava me referindo ao Wesley e a mim. Se você ficar tranquilo, já estará ajudando a tornar o clima menos tenso, ok?

— Ok! — respondi aliviado.

Dulce voltou à sala com expressão preocupada.

— Ela já está instalada. — informou parando ao nosso lado e cruzando os braços. — Deixei-a com Wesley. Mary está sentindo dores seguidas.

— Hum, isso é sinal de que não está muito longe. — analisou vovô, balançando a cabeça.

— O Wesley está muito nervoso, embora tente disfarçar. — Dulce contou séria.

— Posso imaginar! Que homem não ficaria nervoso, prestes a assistir ao nascimento do primeiro filho, e nessas condições? Torça para que seja diferente quando for sua vez, Chris! — brincou.

Dulce e eu nos olhamos brevemente, um pouco constrangidos. Ainda não tínhamos conversado ou decidido como iríamos lidar com isso.

Agora há pouco, ela havia começado a me beijar com relutância. Lembrei do seu olhar surpreso, os lábios trêmulos, evidências do medo que durou pouco. Sua hesitação evaporava aos poucos e pude senti-la vibrando comigo. Seus lábios macios corresponderam ao beijo e seus olhos espelhavam dúvida e rendição. Quando procurei sua boca novamente, não encontrei barreiras.

O que poderia ter acontecido se não tivéssemos sido interrompidos? Até onde iríamos? Com o jeito evasivo que a Dulce voltou a me tratar, essas questões pareciam impossíveis de serem respondidas. Voltei a olhá-la, quase ao mesmo tempo em que ergueu o rosto. Algo em minha fisionomia deve ter denunciado meus pensamentos. Visivelmente perturbada, começou a andar de costas, afastando-se de mim, e acabou tropeçando no tapete. Teria caído se eu não tivesse agido rápido, segurando-a pelo cotovelo.

— Obrigada. Vou preparar chocolate quente para todos. — agradeceu com as faces vermelhas, torcendo o corpo para se liberar de minha mão, que ainda a amparava.

Acompanhei impotente sua fuga para a cozinha. Depois fiquei olhando pela janela a neve que caía incessante lá fora. Suspirei frustrado. Havia acontecido o que mais queria: ter a Dulce junto de mim no Natal. Porém, era muito estranho tê-la tão perto e tão distante ao mesmo tempo. Quando ela colocava aquele muro intransponível entre nós, ficava sem ação, me sentia impotente.

Mais Que Irmãos - 2° TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora