Cap.162: Rei Leão.

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Pov. Chris:

Já haviam se passado três dias desde que Christiana nasceu. Agora que Mary havia se recuperado, estavam voltando para a casa deles, levando nos braços sua preciosa carga, envolta em roupas quentinhas, mantas e cobertor.

Durante esses dias, Dulce ficou completamente encantada pelo bebê. Observava Christiana carinhosamente, enquanto a segurava no colo. E procurou ajudar o máximo que podia. Trocava  fraldas, aprendeu a dar banho, colocava para arrotar depois da mamada. Vê-la assim me tocava profundamente. Já podia imaginá-la com o nosso filho, cuidando dele com todo amor. Tinha certeza que ela seria uma mãe excepcional.

Durante esse período, procurei manter uma distância segura. Estava cansado de tanta dor, tanta decepção e tanta mágoa. Eu estava machucado, ferido na alma, exausto de viver numa constante roleta russa emocional. Precisava desesperadamente de um pouco de paz. Isolei-me no quarto esperando encontrar uma fuga para a confusão que estava minha vida. Precisava desse sossego, da mansidão do escuro, tendo por companhia apenas o som do vento correndo lá fora.

Procurava executar normalmente minhas tarefas diárias e limitei ao mínimo possível meu contato com as pessoas que viviam na casa, fazendo meramente o que a educação e cortesia mandavam. Isso incluía estar à mesa durante as refeições, responder quando me faziam uma pergunta ou dar atenção ao meu avô quando ele precisava me explicar algo importante. Com relação à Dulce, evitei o contato direto e, principalmente, o seu olhar. Era muito doloroso ver espelhado em seus olhos aquela constante decepção.

Naquela madrugada acordei com um galho batendo sem parar na minha janela. Fiquei rolando na cama. Tinha perdido completamente o sono. Resolvi beber um copo com leite. Vesti meu roupão e fui à cozinha. A casa estava silenciosa. Respirei profundamente gostando disso, dessa tranquilidade reconfortante.

Ao pegar o leite, vi que havia sobrado um pouco da deliciosa torta de maçã que a Dulce fez e resolvi acabar com ela. Coloquei o leite no copo e uma fatia da torta no prato. Tinha dado a primeira garfada, quando escutei o barulho de chinelos se arrastando pelo corredor. Não levantei a cabeça para ver quem era, pois imaginei ser o meu avô indo ao banheiro.

— Com fome? — Dulce perguntou parada na porta. Surpreso, ergui o rosto em sua direção.

Por que ela tem que ser tão linda? — pensei quando a vi.

Seu cabelo cheio caía em suaves ondas pelos ombros, os olhos sonolentos faziam-na parecer frágil e desprotegida. Ela vestia uma comprida camisola de algodão que tinha sido da minha avó. O tom azul suave realçava ainda mais a cor da sua pele. Senti a familiar sensação de fascinação que me vinha sempre que a via, seguida daquela mistura perigosa de amor e desejo, que unidas formavam o mais maravilhoso e fatal dos coquetéis, capaz de vencer as boas intenções de qualquer santo.

Procurei ignorar esses sentimentos e os engoli junto com o pedaço de torta de maçã que estava em minha boca.

— Insônia. — respondi baixando os olhos e voltando a comer.

Ela ficou em silêncio, provavelmente me observando. Continuei de cabeça baixa, fingindo calma e despreocupação.

— Posso comer esse último pedaço? — perguntou apontando para a travessa.

— Sirva-se à vontade. — respondi sacudindo os ombros.

Reparei que ela se movimentava pela cozinha, provavelmente pegando prato, copo e talheres.

Digo provavelmente porque não a olhei, supunha o que estava fazendo pelo que ouvia.

Dulce se sentou à minha frente. Arrisquei erguer os olhos e a vi comendo gulosamente um pedaço da torta, tomando em seguida um bom gole de leite do seu copo.

Mais Que Irmãos - 2° TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora