10. A Voz do Fogo - Décima Parte.

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— Andem logo! O Grão-Medônio está esperando vocês na Megorá.

— Eu e Sasima trouxemos as mercadorias para os Fhar, como o Pramago Lefório mandou. Trata-se de alimentos e bebidas. Podemos descarregá-las? — perguntou Gardênio.

As duas criaturas de fumaça trocaram um olhar luminoso: tendo em vista a situação, não era possível permitir que o U'ndário e a Gestal descarregassem as mercadorias, deixando-os sozinhos. As torres dos Fhar deviam ser protegidas, e ninguém devia descobrir o luto que atingira os Mestres de Vida.

— Nós mesmos vamos descarregar as mercadorias mais tarde. Entrem vocês também na Megorá — ordenaram as Sentinelas.

Faltavam poucos metros até a entrada do auditorium, mas naquele breve trecho Sasima conseguiu falar em voz baixa com o U'ndário e informá-lo a respeito de Morga. Gardênio coçou a barba e enfiou seu Corcundoso nos montes de neve, resmungando nervosamente. Temia o pior.

O portão da Megorá foi escancarado e a figura de Okrad se impôs diante do grupo de hóspedes. Lumira e Reful estacaram como que petrificados; devido à emoção, não conseguiram sequer esboçar um sinal de saudação para o Mestre de Vida. Pliope fez uma reverência e Animea também inclinou-se diante do Grão-Medônio, sendo imediatamente imitada por Sasima e Gardênio.

Okrad permaneceu escondido atrás da Kaplá com o olhar fixo, agitou sua capa e voltou a entrar sem dizer uma palavra sequer. As Sentinelas seguiram-no arrastando suas vestes brilhantes pelo chão.

As duas Gestais e a Ancilante não tiveram coragem de entrar na frente. Gardênio pegou os dois Dakis pelos braços e empurrou-os para dentro com força, dizendo:
— Agora, quero ver a coragem de vocês, seus dedos-duros!

Lumira e Reful permaneceram colados um ao outro e, assim que entraram, levantaram a cabeça extasiados e observaram as cem poltronas e o grande afresco. Cálices com hélices de cobre e bandejas abarrotadas de guloseimas passavam voando diante dos seus olhos.

Gardênio entrou em seguida, avançando com passo pesado e alisando a barba com as mãos. Pliope caminhava de cabeça baixa, enquanto Sasima e Animea se viravam para olhar Serunte e Eremia, que já estavam sentados nas fileiras superiores.

— Dirijam-se para o centro, ao lado do afresco — ordenaram as Sentinelas.

Okrad tirou a capa, acomodando-se em sua poltrona. Tirou o Ciodalo do Obolho e enviou uma breve mensagem a todos os Fhar, avisando-os para retornarem imediatamente à Megorá.

Eremia notou que as mãos de Okrad tremiam.

— Está tenso por causa da presença dos hóspedes? — perguntou, quase incrédula.

O Grão-Medônio deu de ombros e, ajeitando o chapéu, procurou não deixar transparecer nenhuma emoção.

— Eu só estou cansado — retrucou e acrescentou, virando-se para Serunte: — Vocês resolveram? As listagens com os nomes já estão legíveis?

Eremia sacudiu a cabeça.

— Lamento. Temo que não haja remédio.

Okrad não disfarçou seu gesto de impaciência: a essa altura ele estava convencido de que alguém havia escondido a Imperfeita durante muitíssimos anos. Com certeza, faltava um nome naquela listagem!

Depois, indicando o grupinho, falou:
— Vai ser interessante ouvir as explicações que têm sobre o anel e os Dakis fugidos! O tempo não está a nosso favor, e precisamos agir sem escrúpulos.

Morga - A Maga do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora