Morga - A Maga do Vento

10. A Voz do Fogo - Décima Quarta Parte.

— Calados, não é o momento para explicar essas coisas! — disse Gardênio puxando a corda, e os dois Dakis se deixaram levar aos solavancos, sem reagir.

A verdade sobre Morga estava cada vez mais desconcertante.

— Mãe... mãe dela? Animea... — disse Reful, virando-se para a Gestal.

— Sim. Eu sou a mãe de Morga — ela confirmou, com os olhos brilhando de orgulho.

Os dois garotinhos mediram Serunte com os olhos e, depois, olharam para Morga. Não disseram mais nada. Haviam visto demasiadas coisas perturbadoras sem conseguir encontrar uma explicação razoável para elas.

Gardênio abriu lentamente o portão da Megorá e lançou uma olhada para fora: a neve voltara a cair pesadamente.

— Não há Sentinelas há vista. Devemos sair de Áurea Nyos imediatamente. — O U'ndário avançou, puxando atrás de si os dois Dakis.

Morga e Animea viraram-se para se despedir de Eremia e Serunte, que haviam ficado na soleira da porta.

— Eu amo você — disse Serunte abraçando a filha mais uma vez.

Morga sentiu o gelo sâmico da Kaplá deslizar sobre o seu rosto. As sardas roxas cintilavam tanto quanto os olhos azuis do seu pai quando ela acariciou a máscara com infinito carinho.

Animea fitava seus únicos amores.

— Nada mais poderá nos separar, nem sequer a distância — repetiu com os olhos cheios de lágrimas.

O portão fechou-se diante da Bramante e de Serunte, que aguardaram a dissolução da petrificação dos demais Fhar. O efeito da magia, entretanto, ainda duraria cerca de meia hora.

— Precisamos correr à torre de Telkia. Yhari, Drima e Horp estão me esperando lá com os Piróssios — lembrou Morga, verificando se seu Obolho estava são e salvo.

Lumira não conseguiu controlar-se e quis saber:
— Eles também estão em Áurea Nyos?

A essa altura nada daquilo que estava acontecendo podia ser considerado normal. O caos, a violência, a mentira e a verdade mostravam-lhes um mundo que até então era desconhecido para eles.

Fim da Décima Quarta Parte.