Eremia se deu conta do perigo e empurrou Serunte e Animea em direção ao afresco, onde já se encontravam Gardênio e Sasima. Ela sabia que o efeito mágico seria catastrófico.
Okrad, sem conseguir enxergar nada, incitava os outros Fhar:
— PAREM O VENTO! UNAMOS NOSSAS FORÇAS ALQUÍMICAS. AUMENTEM A POTÊNCIA DA HASMIÓTICA.Mas a magia de Morga já não podia ser detida. A nuvem de poeira transformou-se numa parede macia que avançava como uma montanha e desabou, recobrindo inteiramente a Megorá. As barreiras hasmióticas cintilavam provocando chamas e produzindo esferas incandescentes, porém os Fhar foram transpassados pelo Vento de Terra, que os petrificou. Permaneceram imóveis como estátuas. Abaixados, ajoelhados, de pé, com os braços erguidos ou com as mãos tapando o rosto, os Fhar já não ofereciam perigo. Durante uma hora inteira Emiós ficaria livre dos seus ditadores.
O vento continuou chicoteando as poltronas, e Morga precipitou-se para sua mãe. Bastou um olhar na penumbra e mãe e filha abraçaram-se com força, com todo o amor que pulsava em seus corações.
Serunte uniu-se ao abraço, abraço este que ele aguardava havia 12 anos. Todos juntos, apertando-se uns aos outros, experimentavam aquele sentimento que somente uma família pode despertar. Uma família que, segundo a Imperalei, não devia existir!
Animea permanecia agarrada a Serunte.
— Nunca mais ficaremos afastados uns dos outros — dizia.
— Sim, nunca mais! — respondeu o Fhar, acariciando-a com imenso amor. Serunte não conseguia reter sua emoção, porém logo percebeu que era preciso apressarem-se, não era possível permanecer na Megorá. — Morga, leve sua mãe embora. Eremia e eu devemos permanecer aqui. Caso contrário, quando o efeito da Huma Imeia terminar e Okrad e os demais recuperarem os sentidos, eles entenderão perfeitamente que nós somos seus cúmplices. Precisamos enganá-los por mais tempo para poder ajudar você — explicou o pai com a voz rouca.
— Primeiro eu preciso contar para vocês o que descobri — retrucou a garotinha, enquanto Eremia se aproximava. — Okrad tem um laboratório secreto, que se chama Kimiyerante e se encontra lá embaixo — revelou, apontando para a grade do afresco. — Ele está tentando criar a fórmula da imortalidade com um metal desconhecido chamado Itérbio. Guardei alguns pedaços no meu Obolhye também... há a charada. É preciso descobrir os locais em que o Grão-Medônio escondeu as outras duas Chartum Psiche.
O ânimo de Morga transbordava como um rio em cheia: a energia liberada pela Magia do Vento fortalecerá-a ainda mais.
A Imperfeita pegou as mãos do seu pai.
— Está bem, eu já vou embora e levarei comigo Gardênio e Sasima também. Mas para onde? Não dispomos de um refúgio seguro.
— Minha casa é o lugar adequado. Tomem cuidado com as Sentinelas — conseguiu dizer a Bramante, enquanto o vento agitava seu vestido de crepe branco.
Lumira e Reful estavam encolhidos de medo num canto. Haviam se salvado da maré da parede mole por um milagre. Incrédulos, abismados, com as pupilas dilatadas e as bocas secas, olhavam fixamente para Morga. Haviam conseguido reconhecê-la apesar da escuridão e, principalmente, haviam ouvido sua voz. Aquela garotinha que eles tanto debocharam na loja de Pliope possuía dotes mágicos como os Fhar. Tremendo, foram se apertando cada vez mais um contra o outro, sem conseguir criar coragem para se levantar.
— Eles também virão conosco. Assim, não poderão mais dedurar ninguém! — acrescentou Gardênio, enfiando o Corcundoso entre os cacos de vidro.
As rajadas de vento foram amainando lentamente e o U'ndário amarrou as mãos dos Dakis com uma corda de Casca Ciungada em que foi dando puxões para fazê-los levantar.
— Vocês vão aprender o que é coragem. E vão se arrepender do que fizeram.
As lanternas alquímicas da Megorá se reacenderam gradativamente e, somente então, toda a massa de corpos petrificados dos Fhar apareceu-lhes em todo o seu horror.
— Estão todos mortos... mortos... — gaguejava Lumira, em estado de choque.
Gardênio tentou abrir caminho entre os corpos petrificados, e Sasima seguia-o, cambaleando.
Fim da Décima Segunda Parte.
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Morga - A Maga do Vento
FantasyAno 500. Planeta Emiós. Morga tem 12 anos, cabelos curtos - negros como piche -, o rosto salteado com sardas roxas sobre a pele branca e olhos azuis. Ela vive em uma casa escondida na floresta com Eremia - a Bramante Branca dos poderosos achar, gove...