Capítulo 67 - Que dom?

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***Kenina***

A Ayla ia à frente abrindo as portas enquanto o Sadik as fechava após a nossa passagem. Observando ao redor, era nítida a falta de uso daquele local e isso me deixou em alerta. Só me tranquilizei quando o Ates pousou no meu ombro e aquela sensação de perseguição acabou finalmente.

Assim que viramos o corredor, aquele tal de Bilge estava parado na frente de uma porta ornamentada com desenhos da Tiamate. O Sadik se colocou à minha frente, mas ele sorriu enquanto negava com a cabeça.

— As coisas mudaram, Sadik — apenas toco no seu ombro e, em silêncio, ele se afastou, me permitindo ver o Bilge novamente.

— O que mudou?

— Nunca fui aliado do seu pai e nunca serei aliado de ninguém, mas devo admitir que a sua aproximação com a própria Tiamate me fez repensar.

— Não enrole e nem seja hipócrita — ele apenas sorriu mais ainda, mas agora senti verdade nele.

— Gosto de você, não tem medo e consegue ver além, neste caso vou ser completamente sincero assim que assumir como rainha, eu morro.

— E mesmo assim está querendo me ajudar?

— Como eu disse, as coisas mudam — ele aponta para a minha barriga, ou melhor, para o brasão que estava a mostra ainda — A minha morte é um fato e sei que irá assumir de qualquer forma e pela primeira vez sinto que quero participar dessa mudança, de forma positiva agora — ele aponta para a porta, mas não a toca.

— Precisa tocar na porta Kenina — a voz baixa do Sadik ao meu ouvido causou uma careta no meu rosto, mas antes que eu tocasse, o Bilge segurou a minha mão.

— Da forma como estão tentando seguir, não vai dar certo, ela será expulsa, existe apenas uma forma disso tudo dar certo para ela — ele olhava de forma intensa para o Sadik como se eu não estivesse ali.

— Ela nunca irá aceitar...

— Ela quem? Eu? Estou aqui, se não perceberam ainda — me solto do Bilge tocando enfim na porta que furou todos os meus dedos, fazendo a minha mão sangrar.

Após o meu sangue escorrer, a porta se destrancou, mas nenhum dos três se atreveu a entrar, apenas mantiveram a sua cabeça baixa e em silêncio. Que falta me fazia a Melione, ela falava tudo logo de uma vez, o que eu sinceramente amo, odeio quando ficam enrolando para me contar as coisas.

— Olha só, tudo é novo e, se não querem que eu seja uma tirana sanguinária, acho bom que me falem logo tudo de uma vez.

— Apenas o sangue ou os convidados pelo rei, no seu caso, a rainha, que podem adentrar o local.

— Ayla para dentro — aponto para dentro do quarto e sorrindo, ela corre já abrindo as cortinas, toda animada.

— Não podemos entrar já que o seu coração tem dono e exatamente este fato que vão usar contra você — ele novamente aponta para a minha barriga.

— Tudo bem, já percebi o brasão, você percebeu, ele percebeu...

— Não, minha querida, estou apontando para a vida que está surgindo em seu ventre — perdi até o ar dos meus pulmões com isso. Novamente, a visão daquele fogo ao redor deles surgiu e pude ver que os três ali estavam do meu lado, então pelo menos neste momento deveria confiar em suas palavras.

— Como assim, Bilge? — dei graças a qual foi o Sadik que perguntou, já que a minha voz não saía.

— Não seja tolo, Sadik, o fato de não gritar sobre o meu dom não quer dizer que eu não o tenha.

A Segunda Chance do AlfaOnde histórias criam vida. Descubra agora