CAP. 91 - Despertar Sincero

6.8K 620 332
                                    

Acordo lentamente com o barulho da chuva batendo contra a vidraça ao meu lado, mesmo com as cortinas cinza-claro sobre ela.

Meu ombro estava dormente e não conseguia senti-lo... Apenas notei que havia uma nova facha enrolada sobre ele, eu estava sem blusa, mas com cobertas azuis do hospital sobre mim.

Meu olhar ainda estava perdido, tentando me localizar naquele lugar, luzes foscas e céu noturno, fechado, sem lua e nem estrelas por entre as frestas da cortina.

Os cantos do quarto estavam um tanto escuros, mas conseguia ver a silhueta de um corpo recostado sobre o sofá avermelhado ao final do quarto.

- Quem está aí?

Minha cabeça girava mesmo com o meu corpo deitado...

- Papai Noel.

- Isso não tem graça, Jeff...

- Então eu sou.. Um anjo.

Dou uma pequena risada com a sua brincadeira, logo notando que havia algo brilhante em suas mãos, a qual as réstias do meu fraco abajur iluminavam ao longe.

- O que está segurando...?

- Estava afiando.

Jeff se levanta, andando até mim com as mãos se erguendo devagar, mostrando uma lâmina pequena e outra faca enorme.

- E.. Precisa fazer isso aqui?

Ele coloca as facas em seu bolso traseiro, agora passando uma de suas mãos sobre os meus cabelos.

- E o que mais eu poderia fazer?

- Não sei... Ver televisão?

Dou de ombros, não sabendo como respondê-lo e tentando imaginar algo "normal" de se fazer.

- Parece que você acordou sem me conhecer.

- Desculpe... Eu ainda estou um pouco zonza... Minha cabeça gira devagar... Por quanto tempo eu dormi?

- Apenas um dia depois de retiraram parte da bala.

- Pensei que estava dormindo há vários dias...

Jeff caminha até a janela do quarto, abrindo um pouco mais a cortina e alternando o seu olhar entre mim e a chuva do lado de fora.

- É bonito, não é?

- Você gosta de chuva?

- Principalmente de tempestades.

- Gosto porque me tranquiliza...

- Gosto porque abafa os gritos.

Solto um suspiro, arrumando a coberta sobre mim e tentando mexer o meu braço enfaixado.

- Você não muda, não é...

- Não fale como se não soubesse como sou.

- Talvez... Se você mudasse.. Não seria a mesma sensação do homem pelo qual me apaixonei.

Jeff anda até o lado da cama hospitalar, apoiando os seus braços na beirada, deixando o seu moletom preto grudado em seus músculos.

- E o que fez você se apaixonar por essa coisa aqui na sua frente? ...Ou você se apaixonou pelo que está guardado aqui em baixo?

Jeff dá uma gargalhada sínica, testando a minha paciência.

- Me apaixonei pelo que você é, mesmo não sendo algo simples... O tempo fez isso.

- Então eu deveria matar o tempo.

- Ah, Jeff...

Seguro a sua mão com o outro lado do meu braço.

- Eu.. Senti tanto a sua falta....

O seu rosto fica sem esboço algum de reação enquanto toco a sua mão fria...

- Queria tanto sentir o teu abraço...

Passo meus dedos por seu moletom preto, implorando com a minha expressão de ansiedade e felicidade por tê-lo outra vez.

Seus braços me englobam, fazendo-me apoiar minha cabeça em seu ombro, soltando algumas lágrimas de felicidade e desespero por conseguir sentir ele outra vez, por estar viva graças a ele...

- Obrigado... Obrigado por me salvar tantas vezes...

- Talvez o pior deles foi salvar você de mim...

- Não importa... O passado é passado, Jeff... Quero apenas pensar em ter você junto a mim pelo tempo que puder.

Jeff se afasta do meu abraço com cuidado, agora encarando-me, fazendo observar as olheiras negras que ele tinha em volta de seus olhos profundamente azuis.

- Eu matei o passado de qualquer forma, pois ele tentou tirar você de mim...

- E-eu pensei.. Que fosse morrer... Naquele caixão.. E depois morrer para aquela coisa na floresta....

- Luna.. Você... É realmente... Muito importante para mim.

Percebo a sua dificuldade em pronunciar essas palavras...

- E.. Eu não quero que você morra, até a hora que eu permitir.

- Ah, você já tem em mente quando vai ser?

- Sim.

- Quando..?

- Quando você estiver tricotando roupas em uma cadeira naquela cabana... Seu rosto jovem será cansado, talvez não consiga andar mais ou lembrar de quem eu sou. Mas ai... Apenas ai, eu iria concordar que já chegou a sua hora.

- Você.. Quer ter uma vida toda comigo?

- Até o final da sua vida.

Começo a chorar outra vez, puxando o seu corpo novamente junto ao meu, abraçando Jeff mais forte ainda após ouvir aquela palavras.

- Preciso sair, agora!!

- O quê..?

Quando percebo a porta do quarto se abre em um segundo, com a enfermeira entrando com uma bandeja de comida e alguns compridos em cima.

Ao olhar Jeff novamente, ele não estava mais ali, entretanto a janela estava totalmente aberta ao meu lado...

S. - Boa noite querida, é bom ver que acordou. Como está se sentindo?

- Confusa e feliz.

Jeff The Killer & A Garota Da CabanaOnde histórias criam vida. Descubra agora