Capítulo cento e dois.

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Alana.

[...]

— Alana, queria pedir um favorzinho seu. - a enfermeira falou, me fazendo sair da minha distração mental.

Alana: Eu nem sei o que é, mas se for pra correr, andar ou algo do tipo, queria dizer que eu queria, mas não posso! - abri um sorrisinho.

— Não engraçadinha, não é nada disso. - acariciou meu cabelo - Olha, é que eu queria um pouquinho do seu sabonete líquido, do seu perfume pra passar num paciente que deu entrada agora e a família ainda não trouxe os produtos de higiene dele, mas eu juro pra você que é só um pouquinho mesmo.

Alana: Tem problema não, pode pegar, depois eu peço pra minha mãe ou o Wellington trazer mais. Leva a nécessaire toda, até perfume tem.

— Tá bom, mas não vai ser necessário, é só um pouquinho mesmo. - sorriu, pegou a nécessaire em cima da minha mala - Obrigada.

Alana: Não é nada. - sorri, virei o rosto pro outro lado.

Comecei o dia recebendo visita de um monte de gente, neurocirurgião, fisioterapeuta, psicólogo e até analista. Na visita da parte da manhã, as meninas vieram, os meninos também deram jeito de entrar todo mundo rapidinho, a ladainha era a mesma, todo mundo tentando me convencer a ter a tal da esperança, que ela é a única que morre e não sei o que lá mais.

Quem vai ter esperança enfiada dentro de uma UTI durante semanas? Fui transferida pro quarto ontem, mas tudo continuava igual e a minha vontade era sumir de uma vez por todas. Pra mim eu tinha morrido e estava vivendo o inferno, meu karma só pode.

— Pensando em mim? - era a voz do Wellington, virei o rosto pra ver e lá estava ele.

Todo trajadinho, de camisa branca da armani, calça preta, de tênis branco da adidas, bem cheiroso e vou falar que a Alana do velho testamento até chora quando vê esse homem e nem era pelos olhos. Uma pena que essa relação da gente não siga em frente, logo o Jorge Turco terá outra primeira dama.

Alana: Toda hora. - sorri, ele beijou minha testa, me deu um selinho seguido de um cheiro.

Atacante: São pra você! - me entregou o buquê de flores, rosas vermelhas - Como tu tá? - colocou meu cabelo atrás da orelha.

Alana: Respirando apenas. - falei sem muito ânimo - São lindas, obrigada! - sorri.

Atacante: Pô, quando tu fala assim tu me deixa mal e não sabe o quanto. - negou com a cabeça - Tu põe na tua cabeça que o que tu viveu foi complicado e se tem alguém culpado, esse alguém é a porra do Jetta que já tá sentando no colo do capeta.

Alana: Incompetente é assim mesmo, nem pra matar serve. - fiz careta - Não adianta eu forçar uma felicidade que não existe, vamo aceitar a verdade nua e crua, não é mesmo?

Atacante: Ninguém disse que tu não ia andar nunca mais, Alana, é só por um tempo.

Alana: Tempo que ninguém sabe definir, pode ser um ano, dois, até dez, vinte anos ou até mesmo não voltar mais. - avivei sua mente, tava bolada já.

Atacante: No dia que voltar, eu sou capaz de quebrar suas pernas, maluca. - me olhou feio, eu nem azul - Tenho uma surpresa pra tu.

Alana: Que surpresa? Ultimamente eu odeio surpresas, tem sido sempre péssimas notícias. - fiz bico, esperando a pedrada.

Atacante: Espera aí que eu vou buscar aqui no corredor. - apertou meu nariz e saiu.

Wellington voltou pra dentro do quarto, acompanhado do Kaíque, estava segurando duas unidades de rosas vermelhas, veio na direção da cama todo sorridente. Ali eu já tava chorando, droga, fiquei mole, molinha.

Kaíque: Pra você, mamãe. - esticou o bracinho, me entregando as rosas, só que a cama era alta e eu não podia me mexer muito devido a cirurgia.

Alana: Meu amor, são tão lindas! - emocionei mais ainda com ele me chamando de mamãe.

Atacante: Agora ficou melhor. - falou pegando Kaíque no colo e aproximando ele de mim.

Alana: Coloca ele aqui em cima das minhas pernas e coloca o buquê ali. - Atacante pegou o buquê e colocou na mesinha ao lado, colocou Kaíque no meu colo e ele me abraçou - Meu pestinha, que saudade de você.

Kaíque: Saudade, peste. - deitou a cabeça no meu ombro, senti logo molhar.

Alana: Não fica assim, você vai ficar com dor de cabeça. - falei baixinho.

Kaíque: Porque você não volta pra casa, mamãe? Você não quer mais ser a minha mãe? - me olhou nos olhos, chorei mais ainda.

Alana: Claro que eu quero, meu amor, eu sou a sua mãe independente de qualquer coisa. - sequei as lágrimas do rostinho dele - Eu só não voltei pra casa ainda, porque a mamãe ainda tá um pouco dodói, mas agora você pode vim visitar a mamãe todos os dias.

Kaíque: Eu posso mesmo, mamãe?

Alana: Pode, meu pestinha! Você pode tudo. - o abracei de novo, enchi de beijo, de cheiro até sentir o cheiro do meu sabonete e do meu perfume nele - Conheço bem esse cheirinho, tomou banho onde, amor?

Kaíque: Aqui no hospital. - virei o olhar pro Wellington, me olhou todo sonso.

Atacante: Ela disse que o moleque não podia entrar com o uniforme da escola, tive que dar banho nele só que não tinha nada dentro do carro, então a enfermeira veio buscar. - sorriu sem mostrar os dentes.

Alana: Não tinha paciente coisa nenhuma, né?

Atacante: Não, até porque esse hospital é quase um cinco estrelas, eles devem ter estoque de sabonete líquido pra alguma parada de urgência, né não?

Alana: É, provavelmente tem, não me liguei nesses detalhes, aliás é o de menos.

Kaíque: Mãe, o Lucas agora é meu amigo. - falou empolgado.

Alana: Ele não quebrou mais nada seu? - olhei desconfiada.

Kaíque: Não mãe, nunca mais ele fez, eu disse que ia jogar a bola na cara dele, aí ele não fez mais nada não.

Alana: Esse é o meu bebê, que orgulho! - acariciei o cabelo dele - Mas não é pra ameaçar os coleguinhas, só se alguém fizer alguma coisa contra você, entendeu?

Kaíque: Tá bom, mamãe.

Atacante: Tô perdido com vocês. - riu.

Fiquei lá com os dois homens da minha vida me atualizando das fofocas nas últimas semanas até o horário de visita acabar, me doeu ter que ver meu pestinha indo embora chorando, mas infelizmente é a vida, mas também me alegrei pois Wellington disse que traria ele todos os dias pra me visitar. Os únicos que não poderam vim, foi meu irmão e meu pai, afinal sair da favela pra eles é difícil e eu super entendo. Na tv vejo as fotos deles passando direto, então eu preferi que não viessem por enquanto, mas as chamadas em vídeo estão em dia.

Meu pai chorou muito quando me viu, pediu perdão e disse que pediria novamente quando me visse pessoalmente, disse que me amava e que se sentia responsável pela minha atual condição, eu concordei até certo ponto, mas o perdoei. Acho que nessa história, eu e ele tínhamos nossos pontos e atitudes erradas, mas que bom que ainda tivemos tempo de poder botar as cartas na mesa e tentar restabelecer a união entre essa tão complicada família Falconi.

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