Carnaval na Bahia.

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Sentei-me num banquinho de madeira, numa sombra qualquer da calçada, enquanto tentava conter as pontadas latejantes que me atravessavam a cabeça

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Sentei-me num banquinho de madeira, numa sombra qualquer da calçada, enquanto tentava conter as pontadas latejantes que me atravessavam a cabeça. A rua estava cheia, o som do batuque lá embaixo chegava abafado, e eu sentia o mundo girar um pouco mais rápido do que o normal. Bebi um pouco d'água, devagar, e quando a dor começou a ceder, fui até a farmácia da esquina, comprei um analgésico e tomei ali mesmo. Vi o pessoal descendo a rua, rindo e falando alto, e resolvi acompanhá-los, com passos mais lentos.

— Pensei que você já estivesse lá embaixo — disse ele, ao me ver se aproximar. Neguei com a cabeça. — Tá tudo bem?

Assenti, tentando sorrir, mas ele não pareceu convencido.

— Tenho sentido você meio distante ultimamente. A gente quase não conversa mais.

— Podemos conversar agora, se quiser.

— Tem um café ali embaixo. Vem.

Descemos juntos, desviando das serpentinas espalhadas pelo chão e dos ambulantes gritando preços. O café parecia bom. Novo, aconchegante, e — confesso — de repente pensei que seria um ótimo lugar pra lavar dinheiro. A vinícola já não era mais o que foi um dia, e esse tipo de negócio discreto dava até ideia.

— Gostou do lugar, né? — ele perguntou, atento à minha cara de quem estava avaliando mais do que os preços no cardápio. — Você é a Vívian podiam abrir alguma coisa juntos. Quem sabe até um negócio desse tipo... pode trazer uma segurança maior.

— Acho que estamos seguros, mas abrir um negócio nunca é demais — dei de ombros. — E a pousada? Como andam as coisas por lá?

— Indo... — suspirou, apoiando os braços na mesa. — E entre você e a Vívian, tudo certo?

— Espero que sim. Fiz algo que ela não gostou muito, mas estamos tentando nos acertar.

Ele assentiu, compreensivo. Tomou um gole do café e disse com uma naturalidade que parecia ensaiada:

— Um ano de casados... é normal se estranhar. O que eu queria mesmo era saber se você vai pra Minas. Queria que meus irmãos te conhecessem.

— Acho melhor não... tenho umas coisas pendentes aqui...

— A Vívian não deixa você ir, né? — ele riu, balançando a cabeça.

— É... mais ou menos isso — sorri de canto, sem mostrar os dentes.

— Bem que o Jorge fala que quem manda em você é ela — continuou rindo. — Mas não liga, não. As três são assim. A Tília tá indo pelo mesmo caminho.

Sorri com mais sinceridade agora. De certa forma, era bom ser compreendido — até quando se tratava da força da mulher que se ama.

— Tô me acostumando com esse lado mandão dela... — afirmei. — Mas voltando ao assunto da padaria... o senhor acha mesmo que seria uma boa abrir uma por lá?

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