Após receber um convite do chá revelação da prima Vívian de ver doida ao ter que reencontrar a família após anos do pior acontecimento de sua vida, ao se ver num beco sem saída ela não tem outra escolher a não ser levar seu vizinho o apresentando co...
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— Você está errado, Túlio. Preferiu dar moral pra família dos outros do que pra nossa. — Falei firme, tentando manter a paciência, mas o fogo no olhar denunciava o contrário.
Ele fez cara de quem não gostou, cruzou os braços e negou com um meneio de cabeça.
— Eles que têm que se portar direito, educar as crianças... A Vívian, por exemplo, jogou na cara daquela dona de casa que o marido dela morou nos Estados Unidos e estudou medicina.
— Mas ela estava sendo preconceituosa, não estava? — tentei soar calma, quase como se dissesse "Vamos respirar fundo e tomar um chá de camomila."
Ver o Túlio se posicionando assim, meio doido para defender os dois lados da história, era quase cômico.
— Mas o marido dela é negro. — Ele falou isso como se fosse um dado importante, e eu pisquei surpresa.
— E daí? Isso não tem nada a ver. Por que ela iria achar que ele é baixa renda?
— Por causa das tatuagens, talvez?
Ele fez uma pausa dramática, me encarou com cara de quem ia soltar a bomba do século:
— Você é igual a ela, por isso concorda com o que ela disse sobre a sua família. Além de não defender a gente, ainda achou bonitinho brigar com as suas filhas por causa de uma mulher qualquer.
— Eu não sou igual a ela! Você me acha preconceituoso? — Ele já estava quase ofendido, pronto pra guerra.
— Tá agindo feito um... — comecei.
— Tá, Vanessa, tá! — Ele nem deixou eu terminar e saiu do quarto batendo a porta com um estrondo digno de novela mexicana.
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Respirei fundo, mentalizando o mantra da mulher sábia: "A mulher sábia edifica o lar." Deve ter sido umas cem vezes enquanto fazia minhas coisas — porque, né, paciência não é meu sobrenome, mas tô tentando.
Passei o resto da tarde organizando a pousada virtualmente — graças a Deus o pessoal tava segurando a onda — e depois fui cuidar dos cachorros da Vívian. Limpei a área, dei um trato, e quando soltei os bichinhos, o Merlin já quis correr pro mato.
— Merlin, sem esse hoje, pelo amor! — gritei.
Ele voltou correndo, meio culpado.
— Desculpa, eu estava errado. — Ele cochichou, todo manso.
— Não é pra mim que você tem que pedir desculpas.
— Mas eu te devo, fui indecente com você.
— Isso a gente resolve depois, vai falar com a Vívian! — Eu, firme, ele meio relutante, saiu.
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Não sou dessas que perdoa no ato, não. Posso até sentir que a pessoa tá arrependida, mas o perdão tem que fluir de dentro, nada de desculpinha fajuta.