Fazenda.

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Coloquei o Bento sobre minhas pernas, ajeitando-o com cuidado enquanto ele brincava com meus dedos e sorria com aquela gengivinha banguela que me desmontava inteira

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Coloquei o Bento sobre minhas pernas, ajeitando-o com cuidado enquanto ele brincava com meus dedos e sorria com aquela gengivinha banguela que me desmontava inteira. Era como se o mundo ficasse mais leve quando ele me olhava daquele jeitinho.

Gabriel se sentou ao meu lado e passou a mão com carinho pelo rostinho do nosso filho.

— Não tá cansado, não? — disse num tom de riso, enquanto ajeitava os cabelos bagunçados. — Passou a madrugada inteira me chutando... e peidando como um senhor de idade.

Soltei uma risadinha.

— Também... recusou dormir de conchinha comigo! — ele pegou o Bento no colo e o cheirou, como fazia todas as manhãs.

— Já viu o tamanho da aranha que estava no meu cabelo? — comentei, olhando pra cima. — Juro, eu tenho pavor dessas coisas.

Ele me olhou, mas seus olhos pareciam distantes.

— Pensei que fosse você que não queria dormir comigo.

Suspirei. O tom dele era baixo, mas havia um fundo de mágoa.

— Não sou eu que estou com raiva, Gabriel. — Respirei fundo, tentando não me deixar levar. — Mas, sinceramente... tô perdendo um pouco da paciência.

Umedeci os lábios e continuei, com a voz mais serena do que o turbilhão que sentia por dentro.

— Eu sou responsável pelos meus atos, assim como você é pelos seus. Não dá pra culpar o outro pelo que a gente mesmo fez. Quando você me contou sobre o seu passado, eu aceitei. O combinado foi que você deixaria aquilo pra trás. Que focaríamos no presente, no que estamos construindo.

— Mas você não me contou desde o início, e quando contou... — minha voz embargou — foi de uma forma tão dura. Uma mulher morreu carbonizada, presa numa cadeira, com uma criança pequena...

— São coisas que, infelizmente, acontecem com mais frequência do que você imagina — ele respondeu, com aquela frieza calculada. — Se quiser ficar comigo, vai ter que aprender a lidar com isso.

— Eu gosto de você, muito. Mas dói pensar que você não é mais o homem por quem me apaixonei.

Ele me olhou fundo.

— Eu ainda sou o mesmo, Vívian. Talvez você tenha idealizado alguém... alguém que eu nunca fui. A verdade é que nos casamos rápido demais. Sem nos conhecermos de verdade.

— Foi uma loucura.

— Se arrepende?

— Não. Mas acho que teria sido melhor esperarmos, sabe? Tudo foi tão corrido... tem momentos que nem lembro com clareza.

— Eu também não. — Ele se recostou na cabeceira da cama e sorriu de leve. — Mas ao menos o regime de bens foi como eu queria.

Revirei os olhos, mas sorri com carinho.

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