Após receber um convite do chá revelação da prima Vívian de ver doida ao ter que reencontrar a família após anos do pior acontecimento de sua vida, ao se ver num beco sem saída ela não tem outra escolher a não ser levar seu vizinho o apresentando co...
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Ano novo.
— Nem acredito que vocês vieram! — exclamou Helena, envolvendo-me num abraço demorado, daqueles que trazem o cheiro de casa e colo de vó. — Fico tão feliz em ver que tá tudo bem com vocês...
— Tá tudo ótimo — respondi, sorrindo, com aquele ar de quem sabe que a resposta certa não está nas palavras, mas no tom.
Afastei-me com delicadeza para deixá-la dar atenção aos demais, e fui cumprimentar meu sogro e os cunhados, que estavam acompanhados de suas respectivas namoradas. Rízia, a de Pedro, era a clássica loira dos comerciais de pasta de dente — linda, simpática, dessas que falam sorrindo com os olhos. Já Liara, a namorada do Eduardo, exibia uma beleza que parava conversa: morena, com longos cachos negros descendo pelas costas e um olhar tranquilo que parecia saber de tudo. As duas eram bonitas. Mas Rízia tinha aquele jeito leve de quem já nasceu dizendo "bom dia" com voz doce.
— Simpática essa sua cunhada... ganhou na loteria — comentou Tália, com a ironia que ela usava como perfume, discreta mas sempre presente.
— Demais — respondi, rindo enquanto colocávamos as travessas sobre a mesa. Tentávamos arrumar tudo, embora o espírito do improviso já estivesse decretado desde a chegada do primeiro vinho.
— E então, como está a vida no Rio? — Helena se aproximou, trazendo consigo o cheirinho de lavanda e perguntas calorosas.
— Melhor que em São Paulo. Trabalho mais, vejo menos o Gabriel... mas confesso: tá bem melhor assim. A saudade deixou a convivência mais interessante. E ele parou de brigar pelo lado da cama — brinquei.
— Um tempinho longe é gostoso, né? Saudade é tempero. — Sentamo-nos um pouco afastadas do burburinho, como quem busca abrigo da correnteza. — Ninguém sabe ainda, mas o João tá voltando. E dessa vez, é pra ficar.
— É mesmo? Mas por quê?
— A mãe dele apareceu dizendo que mudou, que queria recuperar o tempo perdido... — suspirou, cruzando os braços. — Ela sempre foi meio assim, solta demais da realidade. Quando o João nasceu, largou ele comigo e sumia por semanas. Agora resolveu que quer ser mãe. E ele, coitado, acreditou.
— Ai, que dó. Tão amoroso aquele menino... e passando por isso.
— Eu bem que avisei. O Gabriel também. Mas vai dizer isso pra um coração que espera colo de mãe desde pequeno?
O assunto mudou, como mudam as brisas em noites de festa. Voltamos ao grupo, onde o clima era de descontração e a promessa de um novo ano pairava no ar. Em contraste com o Natal — que parecia um episódio de novela mexicana com direito a lágrimas, discursos e reconciliações — o Réveillon estava mais para uma comédia de fim de tarde.
Ficamos na varanda, assistindo ao show em Copacabana pela TV com a vista de um céu parcialmente estrelado e um som ambiente vindo dos vizinhos que insistiam em competir com a Globo.