2§ Uma casa cheia de nada

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< Capítulo anterior: 1§ A fuga

Uma mulher fugiu com uma criança numa estação de comboios. No entanto, a fuga pode ter os minutos contados... 

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- MÃE -

Escuridão e silêncio eram tudo o que a aguardavam, quando ela rodou a chave da porta e entrou em casa. Uma sensação de estranheza invadiu-a de imediato. 

Não era de todo expectável aquele cenário. É verdade que naquela noite as coisas tinham-se prolongado muito mais do que alguma vez pensara. 

Por norma, raramente conseguia chegar a casa antes das vinte e uma, mas o jantar de aniversário da empresa tinha remexido por completo a sua rotina. 

Era algo que ela não podia recusar, ou melhor, até podia, porém seria muito mal visto pelos chefes. 

Ela necessitava daquele emprego desesperadamente e não se podia arriscar a pô-lo em perigo!


Mas onde estava a menina? Ela tinha tentado lhe explicar naquela manhã, com a paciência ao seu alcance, que a mamã chegaria mais tarde por causa do trabalho. 

As instruções para a criança eram claras e curtas, tal como se pretendia: ela deveria ficar quieta em casa a ver televisão e podia comer os iogurtes que estavam no frigorífico, caso tivesse fome. 

Foi diretamente ao quarto da menina. Certamente que ela teria se aborrecido de esperar e ido dormir. 

Quase era capaz de apostar que a ia encontrar, ainda vestida, deitada sobre a cama, sem qualquer abrigo. Mas não! O quarto estava vazio! 

De súbito, a sua preocupação escalou. Algo de muito errado se passava ali! Onde estava a filha? E a mochila que a criança levava todos os dias para o jardim de infância?

Por mais que pensasse, não tinha ideia de onde a filha pudesse ter ido. Não tinham amigos no bairro. Nunca tinham visto a menina brincar ou falar com alguém, quando passeavam juntas. 

A pastelaria já teria fechado há muitas horas e eles já não a queriam ali. Mesmo que ela lá tivesse aparecido, alguém já a teria contactado. A menina levava sempre o número de telefone da mãe na mochila.

Aquele evento na pastelaria tinha-lhe transtornado a vida toda! Desde ter que pedir a extensão de horário no jardim de infância, até ser obrigada a trabalhar horas extra para o poder pagar. 

Assim tinha chegado àquela situação: uma dependência absoluta dos seus patrões, tendo que fazer tudo para lhes agradar, inclusive ir a jantares de empresa enfadonhos e intermináveis.

Que roupa lhe teria vestido de manhã? Não se conseguia lembrar. Abriu a porta do pequeno guarda-fato e deparou-se com o pesadelo de uma vida. 

Faltavam várias peças de roupa da sua menina. Ela tinha fugido! As lágrimas brotaram sem controlo, o peito apertou-se, sufocando-a. A sua filha tinha desaparecido!

Respirou fundo três vezes, tentando refrear o pânico e pensar mais claramente. Recapitulou mentalmente o que sabia até ao momento. 

A Filha Roubada - Completo - ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora