85§ Aquele que os sogros desprezavam

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< Capítulo anterior: 84§ Um mar de cedências

A conversa da mãe com os seus progenitores não foi fácil. No final, ela teve de decidir se estava disposta a deixar o marido de fora da equação para ser acolhida pelos pais...

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- PAI -

Ao pegar na bebé ao colo, foi como se tivesse uma revelação: definitivamente tornara-se um homem adulto. 

Já não era o adolescente que, outrora, deixara tudo para trás e aventurara-se num país estranho. 

Tampouco era o rapaz inconsequente que se casara e tivera uma filha ainda bastante jovem. 

Esta segunda criança marcava uma viragem na sua vida. Doravante não podia mais escudar-se atrás da desculpa da inexperiência ou da tenra idade.

Não havia mais margem para errar, dali em diante. 

Aquele ser minúsculo receberia a devida atenção que merecia e estaria isento dos equívocos que os pais tinham cometido com a primeira filha. Essa era a resolução dele e da mulher.

Quando fazia uma retrospetiva daqueles últimos nove meses, era como se encontrasse dois homens tão distintos e inconciliáveis: o ele de antes e o ele de depois. 

O sequestro da sua menina mudara drasticamente o rumo da sua história e das suas prioridades.


– Papá, posso pegar na mana?

Sorriu com a observação da sua pequena mulherzinha, que comportava-se orgulhosamente, assumindo na sua inocência uma postura paternalista face à bebé.

– Mais tarde, querida! Agora vamos devolver a bebé à enfermeira e deixá-la descansar.

Juntamente com a filha, viu a enfermeira afastar-se cuidadosamente com a recém-nascida em direção ao berçário. 

A esposa estava no quarto, acompanhada dos sogros, que para variar tinham-no ignorado por completo. De resto, este era um cenário ao qual tinha-se habituado ao longo dos últimos meses.

Não importava que estivesse sentado à mesma mesa de refeição dos sogros, que estes atuariam como se não o vissem ali. 

Eles eram exímios em o desprezarem e demonstrarem silenciosamente o quão persona non grata ele era.

Ao longo de inúmeras noites, ficara sozinho em casa, a cuidar da filha. Observava toda a família aperaltada, a sair para algum evento social, do qual ele fora habilmente excluído. 

Na verdade, também ele dispensava essas "cerimonialidades", que tinham sido parte integrante da vida que deixara atrás de uma vez por todas.

Nunca se queixara à esposa do tratamento que recebia por parte dos pais dela, mas notava perfeitamente o quão incomodada ela se sentia com aquela situação. 

Sabia o quanto ela se martirizava quando tinha de acompanhar os pais a algum jantar de negócios e deixá-lo para trás, com a menina. 

Ele procurara apaziguar os ânimos por vezes mais exaltados dela, demovendo-a de pedir satisfações aos pais.

Afinal, se estavam a viver na casa dos sogros, era porque ele sugerira isso à esposa. Antecipara desde o início que não iria ser fácil. 

Por isso, aceitara resignado o seu destino, procurando não sobrecarregar mais o fardo da esposa. 

A Filha Roubada - Completo - ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora