16§ Uma avó exemplar

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O Wattpad por vezes tem comportamentos estranhos. Assim, antes de continuar, certifique-se sempre de que leu o capítulo anterior.

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A assistente social ligou as peças soltas que tinha na cabeça e ,depois do que foi encontrado no quarto da criança, confirmou as suas suspeitas de maus tratos da menor...

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- MULHER -

A menina descansava tranquilamente no seu colo. Tinha sido difícil ela adormecer, afinal era uma casa estranha para a criança. 

De resto, aquele era apenas um ponto de passagem para ambas, até poderem apanhar algum transporte em direção à capital, onde a mulher tinha um apartamento que herdara por parte da avó.

Agora que olhava a menina nos seus braços, podia se recordar de que também ela estivera, da mesma forma, entregue à sua avó. 

Após a morte prematura dos pais, ela ficara perdida e desamparada. 

Tinha tudo a agradecer a essa senhora idosa que fora toda uma referência na sua vida: os bons princípios, uma educação de acordo com os costumes mais tradicionais e em consonância com todas as etiquetas, a frequência de bons colégios e universidade, mas acima de tudo, o apoio incondicional dela nas decisões que tomara.

Se a avó ainda fosse viva, era bem provável que nunca se tivesse deixado abater pelas contrariedades da vida e muito menos cair numa depressão profunda uma e outra vez.

Tivera sido um momento muito difícil se despedir daquela que a criara e a tornara na mulher que era. 

Infelizmente não podia dizer que esse tivesse sido o momento mais difícil da sua vida, uma vez que outros mais tenebrosos se tinham seguido.

A sua mente não parava de tentar imaginar como fora a vida daquela menina que agora dormia no seu regaço. 

Quando ambas se tinham finalmente sentado no sofá da sala, após a sua amiga assistente social ter saído para o trabalho, tentara ver por debaixo da camisola como estava o corpo da menina. 

Queria se certificar de que esta não tinha algum negrão ou ferida. Contudo, como de costume, a criança adotara uma postura defensiva, retraindo-se de qualquer contacto. 

A mulher lera em muitos livros que essa era a reação instintiva de vitimas de maus tratos. Ficara ainda mais surpresa com o sobressalto da criança quando esta estava a dormitar.

- Não posso adormecer sem a mãe chegar! – exclamara a menina assustada.

- Porquê minha querida?

- Senão podem acontecer coisas más. – respondera-lhe a menina com algumas lágrimas, num misto de sono, cansaço e aflição.

- Eu não vou sair daqui do teu lado, está bem? – tentara acalmá-la. – Vou te proteger de qualquer coisa!

Contudo ficara a matutar no que a menina dissera.

 A cada cicatriz psicológica e física que conhecia da criança, ficava com o peito mais apertado só de pensar no que ela podia ter passado ao pé dos pais.

Não podia ficar muito mais tempo ali, mas não tinha coragem para despertar a menina do seu sono. A sua amiga assistente social tinha sido muito clara com ela antes de sair.

- Quando voltar não te quero ver aqui com a criança! – dissera determinantemente. – Não quero problemas com a justiça, sou uma assistente social, caramba! O que te passou pela cabeça para fazer isto?

Sabia que nada do que pudesse dizer seria suficiente para justificar tal ato, muito menos perante a amiga. 

Conhecia-a perfeitamente, o modo como ela era de ideias fixas e o quão longo, demorado e sem garantias de sucesso podia ser o processo de arrazoar com ela. 

Fora sempre assim desde que se tinham conhecido. A única maneira de convencer a amiga de alguma coisa era através da insistência e do cansaço.

- Antes de saíres, toma o pequeno almoço com a menina. Podes servir-te à vontade do que está no frigorifico. – dissera-lhe a assistente social, quando já tinha a mala e as chaves na mão, pronta para ir trabalhar. – Vou ver como consigo resolver as coisas no escritório.

No final e de um modo geral, a sua amiga acabava por ceder, demonstrando alguma humanidade por baixo daquela carapaça de indiferença e de cumpridora estrita de regras. 

No entanto, tinha noção que também não convinha abusar da boa vontade dela.

***

Por aquela hora os transportes públicos já circulavam, mas queria evitar os primeiros, que deveriam ir cheios de passageiros. 

Pretendia uma viagem calma e sossegada com a menina até à capital, sem estarem sempre temerosas de serem apanhadas.


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Porque a história não dá nomes ao personagens?

- o objectivo é manter a proximidade entre o leitor e cada um deles, no sentido de que a mãe, o pai, a mulher ou a assistente social poderia ser qualquer um de nós.

Sentem realmente falta dos nomes, acham ambíguo o texto em certos momentos por não conter essa informação?

Comentem e digam de vossa justiça!

A Filha Roubada - Completo - ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora