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A assistente social ligou as peças soltas que tinha na cabeça e ,depois do que foi encontrado no quarto da criança, confirmou as suas suspeitas de maus tratos da menor...
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- MULHER -
A menina descansava tranquilamente no seu colo. Tinha sido difícil ela adormecer, afinal era uma casa estranha para a criança.
De resto, aquele era apenas um ponto de passagem para ambas, até poderem apanhar algum transporte em direção à capital, onde a mulher tinha um apartamento que herdara por parte da avó.
Agora que olhava a menina nos seus braços, podia se recordar de que também ela estivera, da mesma forma, entregue à sua avó.
Após a morte prematura dos pais, ela ficara perdida e desamparada.
Tinha tudo a agradecer a essa senhora idosa que fora toda uma referência na sua vida: os bons princípios, uma educação de acordo com os costumes mais tradicionais e em consonância com todas as etiquetas, a frequência de bons colégios e universidade, mas acima de tudo, o apoio incondicional dela nas decisões que tomara.
Se a avó ainda fosse viva, era bem provável que nunca se tivesse deixado abater pelas contrariedades da vida e muito menos cair numa depressão profunda uma e outra vez.
Tivera sido um momento muito difícil se despedir daquela que a criara e a tornara na mulher que era.
Infelizmente não podia dizer que esse tivesse sido o momento mais difícil da sua vida, uma vez que outros mais tenebrosos se tinham seguido.
A sua mente não parava de tentar imaginar como fora a vida daquela menina que agora dormia no seu regaço.
Quando ambas se tinham finalmente sentado no sofá da sala, após a sua amiga assistente social ter saído para o trabalho, tentara ver por debaixo da camisola como estava o corpo da menina.
Queria se certificar de que esta não tinha algum negrão ou ferida. Contudo, como de costume, a criança adotara uma postura defensiva, retraindo-se de qualquer contacto.
A mulher lera em muitos livros que essa era a reação instintiva de vitimas de maus tratos. Ficara ainda mais surpresa com o sobressalto da criança quando esta estava a dormitar.
- Não posso adormecer sem a mãe chegar! – exclamara a menina assustada.
- Porquê minha querida?
- Senão podem acontecer coisas más. – respondera-lhe a menina com algumas lágrimas, num misto de sono, cansaço e aflição.
- Eu não vou sair daqui do teu lado, está bem? – tentara acalmá-la. – Vou te proteger de qualquer coisa!
Contudo ficara a matutar no que a menina dissera.
A cada cicatriz psicológica e física que conhecia da criança, ficava com o peito mais apertado só de pensar no que ela podia ter passado ao pé dos pais.
Não podia ficar muito mais tempo ali, mas não tinha coragem para despertar a menina do seu sono. A sua amiga assistente social tinha sido muito clara com ela antes de sair.
- Quando voltar não te quero ver aqui com a criança! – dissera determinantemente. – Não quero problemas com a justiça, sou uma assistente social, caramba! O que te passou pela cabeça para fazer isto?
Sabia que nada do que pudesse dizer seria suficiente para justificar tal ato, muito menos perante a amiga.
Conhecia-a perfeitamente, o modo como ela era de ideias fixas e o quão longo, demorado e sem garantias de sucesso podia ser o processo de arrazoar com ela.
Fora sempre assim desde que se tinham conhecido. A única maneira de convencer a amiga de alguma coisa era através da insistência e do cansaço.
- Antes de saíres, toma o pequeno almoço com a menina. Podes servir-te à vontade do que está no frigorifico. – dissera-lhe a assistente social, quando já tinha a mala e as chaves na mão, pronta para ir trabalhar. – Vou ver como consigo resolver as coisas no escritório.
No final e de um modo geral, a sua amiga acabava por ceder, demonstrando alguma humanidade por baixo daquela carapaça de indiferença e de cumpridora estrita de regras.
No entanto, tinha noção que também não convinha abusar da boa vontade dela.
***
Por aquela hora os transportes públicos já circulavam, mas queria evitar os primeiros, que deveriam ir cheios de passageiros.
Pretendia uma viagem calma e sossegada com a menina até à capital, sem estarem sempre temerosas de serem apanhadas.
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Porque a história não dá nomes ao personagens?
- o objectivo é manter a proximidade entre o leitor e cada um deles, no sentido de que a mãe, o pai, a mulher ou a assistente social poderia ser qualquer um de nós.
Sentem realmente falta dos nomes, acham ambíguo o texto em certos momentos por não conter essa informação?
Comentem e digam de vossa justiça!
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A Filha Roubada - Completo - ✔
General FictionTodos achavam que a vida duma criança deveria ser um livro aberto, mas agora ela está desaparecida! Uma mãe desesperada que luta contra o remorso, um pai com muito a esconder, uma mulher que enfrenta o dilema da sua vida e uma assistente social pouc...