39§ A verdade e somente a verdade

150 24 2
                                    

----------

O Wattpad por vezes tem comportamentos estranhos. Assim, antes de continuar, certifique-se sempre de que leu o capítulo anterior.

< Capítulo anterior: 38§ O virar da página

O pai fez uma revelação surpreendente ao inspetor. Está ele de alguma forma envolvido em tudo o que se passou?

----------


- PAI -

Apercebeu-se do inspetor a rodar as persianas do gabinete, evitando olhares alheios que em nada podiam acrescentar. 

Aquele gesto sensibilizara-o de alguma forma, apreciara a consideração que o policia demonstrara ao resguardar a fragilidade dele.

– Eu podia ter evitado o desaparecimento da minha filha. – alegou, com profunda mágoa. – Se eu tão somente a tivesse pegado nos meus braços, ali mesmo, e a levado comigo, nada disto teria ocorrido.

O inspetor tomara de novo o seu lugar e aguardava em silêncio, sem impor qualquer pressão.

– Estava no carro, estacionado em frente ao jardim-escola, a meros passos da minha filha e deixei-a escapar! Simplesmente vi-a entrar no autocarro. Mal sabia eu o que aconteceria depois!

Esta era a culpa que o consumia desde o primeiro momento em que soubera do desaparecimento da menina. 

O remorso silenciara-o a cada iteração com a esposa, nas últimas horas, e deixara-o parco de palavras face às perguntas do inspetor.

– Porque não me conta, com calma, tudo o que aconteceu? – apelou, num gesto de cortesia, o inspetor. – Tente fazer-me um relato de todos os eventos dessa tarde. Por exemplo, fale-me do telefonema para o jardim-escola.

Mas a história não começava com esse telefonema, mas sim com outro antes. E foi por aí que iniciou a descrição ao polícia de tudo o que se passara naquele dia. 

Recebera pouco depois da hora de almoço uma chamada internacional do seu irmão. Era um pedido de ajuda! 

O sobrinho dele estava gravemente doente e era necessário bastante dinheiro para avançar com os devidos cuidados médicos para o salvarem. 

A situação económica dos irmãos e dos pais continuava a ser precária e o acesso ao sistema de saúde no seu país permanecia só ao alcance dos mais privilegiados. 

O temor do irmão em perder o filho para sempre e nunca mais poder apreciar uma gargalhada cheia de vida daquela criança transferira-se de imediato para ele. 

Naquele momento, apercebera-se de quão precioso era cada segundo que desperdiçava longe da sua menina. 

O que seria dele se descobrisse que a sua filha podia morrer, a qualquer instante?

– Foi aí que, num impulso, peguei no carro e fiz-me à estrada. – continuou a expor os factos ao inspetor. – Já há muitos dias que não falava com a minha pequena e não sabia nada dela. Precisava de a ver e de estar com ela. Queria dizer-lhe o quão idiota o pai dela era, ao não lhe dar a atenção que ela merecia, mesmo quando tinha oportunidade para isso.

Desta vez o inspetor não se pusera a mexer no computador, nem pegara no seu bloco para tirar apontamentos. O homem limitava-se a escutar o que ele lhe tentava transmitir. 

No entanto, era difícil verbalizar tanta angústia que levava dentro de si.

– Como correu a viagem?

A Filha Roubada - Completo - ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora