23§ O circo mediático

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O Wattpad por vezes tem comportamentos estranhos. Assim, antes de continuar, certifique-se sempre de que leu o capítulo anterior.

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O pai foi questionado pelo polícia sobre a sua inesperada estadia num hotel da capital na noite anterior. Sem saída, o pai foi obrigado a contar ao inspetor mais do que queria...

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- MÃE -

O marido já devia estar há mais de uma hora naquele interrogatório. Ela continuava na sala de espera, a aguardar pela sua vez. Desde que chegara não desprendera os olhos da televisão. 

De certo modo até fora melhor assim, já que conseguia evitar as pessoas que iam passando pela sala e a miravam de alto a baixo com estranheza, quando se apercebiam da sua identidade. 

Parecia que alguém da polícia tinha deixado o televisor estrategicamente sintonizado no canal de notícias mais sensacionalista do país, o mesmo canal que vira representado pelos seus repórteres à saída do prédio.

Como ela própria tivera vaticinado naquela altura, a história do desaparecimento da sua menina já era o prato forte do dia. 

O canal fazia jus ao seu slogan, no qual alegavam trazer as notícias do país profundo. Um par de fotografias que desconhecia da sua menina tinham sido exibidas num ciclo contínuo. 

Eram fotografias do jardim escola! 

Lembrava-se da menina ter referido na semana anterior que ia haver a sessão habitual do álbum anual, onde cada aluno era fotografado individualmente e posteriormente com a turma completa.

Para dar alguma vitalidade às imagens, elas eram apresentadas por completo e depois era feita lentamente uma aproximação à face da criança. 

Na foto de grupo, as caras das outras crianças apareciam baças em cumprimento com o direito de privacidade das mesmas, segundo informara o canal de televisão. 

A quem pretendiam eles enganar com essas pretensas preocupações éticas?

Após relatarem massivamente a linha cronológica dos factos, que alegavam ter apurado junto de fontes fidedignas, instaurara-se a discussão no estúdio. 

Os convidados eram um psicólogo, o diretor da associação de encarregados de educação e um investigador da polícia aposentado. 

Rapidamente, ela e o marido tinham-se convertido no alvo da análise minuciosa do "painel seleto de peritos em estúdio", tal como o pivot de informação os introduzira. 

As imagens da saída dela do prédio com o inspetor, bem como posteriormente ela a deixar o edifício com o marido, foram dissecadas ao segundo. 

As expressões faciais, a linguagem corporal, a roupa que vestiam e qualquer iteração que as câmaras tinham conseguido capturar serviram de matéria-prima para grandes dissertações, com diferentes graus de esoterismo.

Os especialistas classificavam-na como uma mãe consumida pela culpa e pelo remorso, os quais estavam estampados no seu rosto. 

Alegavam que ela estava a acusar o elevado preço da sua própria irresponsabilidade nos cuidados que uma criança de cinco anos merecia dos pais. 

Já o marido, era catalogado como um homem frio e enigmático, que se ocultava atrás duns óculos de sol que podiam estar a servir de último reduto para ocultar os contornos exatos do ambiente familiar a que aquela menina fora submetida diariamente.

A Filha Roubada - Completo - ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora