13§ A casa dos sonhos

247 35 10
                                    

----------

O Wattpad por vezes tem comportamentos estranhos. Assim, antes de continuar, certifique-se sempre de que leu o capítulo anterior.

< Capítulo anterior: 12§ Incidentes

A mãe recriminou-se do que aconteceu à menina, mas no seu íntimo apontou firmemente o dedo ao pai da criança. Algo de muito grave se passava naquele seio familiar e a pessoa que termina de bater à porta, poderá vir piorar as coisas ainda mais...

----------


- PAI -

A sua casa parecia um completo circo, onde toda a gente se achava no direito de entrar em qualquer divisão, mexer, medir e tirar fotografias.

Enquanto aqueles indivíduos, apelidados de agentes da autoridade, faziam o seu número ridículo de investigadores na cena do crime, a sua filha continuava desaparecida algures lá fora.

Como se não bastasse o bando todo que já estava à solta pelo apartamento, acabara de chegar aquela mulher de aspeto irritante e nariz intrometido.

Tirara-lhe de imediato a pinta, pois encaixava-se na perfeição no perfil de "pescocinho de avestruz", que a sua esposa lhe referira há umas semanas atrás.

Sempre muito opinativa, a dita assistente social ia falando com cada um dos agentes, pondo-se a par do que se estava a passar.

Parecia uma especialista em arte a visitar os quadros expostos numa galeria.

Puxara do seu bloco de notas para partilhar também os seus pareceres sobre o que podia ser a vida familiar da menina.

Bolas! Era da filha dele que estavam a falar! O que aquela mulher podia saber da criança que os pais ali presentes não estivessem mais aptos para explicar?

A esposa isolara-se no outro canto da sala, fintando também a mulher com um olhar dilacerador.

Ele notara o distanciamento da esposa em relação a si e a expressão recriminatória desta, sempre que os olhos de ambos se cruzavam.

Não conseguia perceber o que raio se passava na cabeça dela.

Ultimamente a atitude da mãe da sua filha pautava-se por aquela frieza, como se ele estivesse permanentemente sentado no banco dos réus.


Se os primeiros anos de casamento tinham sido inesquecíveis atos de romantismo, declarações poéticas de amor, noites ardentes de prazer e sedução; tudo começara a deteriorar-se após o surgimento da menina.

Ele entendera que deviam abandonar o apartamento de renda e procurar algo mais espaçoso para fazer face à nova configuração do agregado familiar.

Ambos se tinham apaixonado à primeira vista por aquele duplex! Era uma casa de sonho, onde a esposa assumira desde o início que queria criar a filha.

Desde a luz que tinha, à sala espaçosa que se ligava com a cozinha numa simbiose extremamente prática e funcional, passando por uma casa de banho de serviço adequadamente ventilada, tudo estava perfeitamente projetado.

Aquele primeiro piso do duplex era ideal para receber visitas, sem que estas andassem a espreitar espaços, como os quartos, que preferiam manter mais privados.

Os dois quartos e a outra casa de banho estavam localizados no piso superior, acessível através dumas escadas de madeira, com degraus largos e um corrimão com pinos separados entre si por pequenos intervalos.

Tomara detida atenção àquela escada, visando a segurança da criança que vinha a caminho.

Decidira-se rapidamente a pedir um empréstimo ao banco para comprar o imóvel.

Após muitas exigências por parte da instituição financeira, valera-lhe mais uma vez a rede de conhecimentos do seu anterior senhorio e padrinho de casamento, para que o empréstimo fosse aprovado.

O montante financiado fora elevado, em virtude do preço das habitações ter sido inflacionado por diversas promessas políticas.

O candidato à autarquia garantira que aquela zona seria convertida num sítio mais seguro, provido de várias alternativas para aceder rapidamente à cidade e com todas as condições para uma excelente qualidade de vida.

Se as promessas tinham caído no esquecimento, o valor do empréstimo não baixara por causa disso.

Poucos meses depois, abatera-se uma crise económica e as taxas de juro tinham disparado repentinamente, elevando consideravelmente o valor da prestação.

A tensão financeira afetara o ambiente familiar em casa, tal como sucedera em tantas outras famílias.

O seu ordenado de camionista e o salário da esposa já eram manifestamente insuficientes para todas as novas despesas que tinham.

Não vira outra alternativa senão regressar à sua antiga vida na capital.

Claro que não dera conhecimento dessa parte da história à sua esposa, mergulhando assim o seu matrimónio numa teia de mentiras que o desgastavam dia após dia.

A cada regresso a casa sentia-se mais irritado e desconfortável.

Embora, desta vez, fosse mais seleto no tipo de trabalhos que aceitava e tivesse recusado determinantemente qualquer incursão pelo mundo das ilegalidades, a sua consciência atormentava-o.

As noites esfuziantes de sexo que proporcionava às suas clientes, em nada se comparavam aos momentos sublimes que partilhara com a esposa, durante aqueles primeiros anos de casamento, no seu leito conjugal.

Os momentos íntimos entre ele e a esposa eram algo simplesmente mágico em que se entregava completamente, sem reservas.

Contudo, agora sentia-se maculado cada vez que beijava a mãe da sua filha e não conseguia conectar-se por completo.

***

Estava a sufocar ali no seu próprio apartamento. Queria sair para a rua e fazer alguma coisa para encontrar a menina. Agarrou no casaco sobre o sofá e dirigiu-se para a porta.

- Hei! O senhor aí!? - clamou o inspetor. - Onde pensa que vai?

- Procurar a minha filha!

- Tem alguma ideia de onde ela possa estar? - disse o inspetor aproximando-se dele. - É que se for esse o caso, agradecia que partilhasse comigo e assim poupava-me trabalho desnecessário, a mim e aos meus colegas. Caso não saiba, nós também gostamos de passar o fim de semana com as nossas famílias.

O que ele menos precisava naquele momento era de ironias.

- Fique aí sossegado! Em breve iremos precisar da sua colaboração e da sua esposa, quando avançarmos para o piso superior. - comunicou-lhe o inspetor.

A esposa lançava-lhe de novo aquele olhar inquisitivo.

Ele não suportava mais aquele julgamento silencioso e, se era obrigado a permanecer ali, ia aproveitar para lhe exigir algumas satisfações acerca do seu comportamento.

A Filha Roubada - Completo - ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora