58§ Reconciliação com o passado

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O barman foi o taxista encarregue de levar a mãe da menina à estação de comboios. Ela não entende o efeito que este homem lhe provoca. A proximidade entre ambos pode levar a um desfecho imprevisível...

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- MÃE -

O barman demonstrou a clarividência que lhe faltara a ela e, de uma forma educada, afastou-se.

– Desculpa! – pediu o homem, pousando a mala de bagagem e tentando analisar onde a água suja o atingira. Tentou sacudir com as mãos a maior quantidade possível. Finalmente, soltou um sorriso tímido, procurando aliviar o momento embaraçoso que ambos tinham vivido. – Estou todo sujo!

Ela retribuiu o sorriso, embora bastante constrangida com tudo. Só podiam ser as hormonas da gravidez a turvarem-lhe o julgamento. 

Como podia ter estado a escassos centímetros de beijar um homem que mal conhecia?

– Tens a certeza de que não queres que te ajude até ao cais? – ofereceu-se o barman.

– De todo! A mala não está sequer muito pesada!

Uma parte de si desejava desfrutar mais algum tempo da companhia daquele homem, mas a outra já não sabia mais como agir perto dele e ansiava para que toda aquela sucessão caricata de eventos chegasse ao fim. 

O motorista do táxi não insistiu e entregou-lhe a mala de viagem. Como devia ela se despedir dele? Hesitaram durante mais alguns segundos eternos, naquela dança de gestos tímidos. 

Finalmente, quando ela, idiotamente, ia-lhe estender a mão, ele tomou a iniciativa de a beijar no rosto. 

Retribuiu o beijo, agradecendo-lhe mudamente por aquela despedida mais calorosa do que um simples aperto de mão. 

Começou a encaminhar-se finalmente em direção ao cais, levando na memória aquele último sorriso gracioso do barman e um aceno de até breve. 

Deu por si, infantilmente, a sentir ainda o calor dos lábios dele na sua bochecha. Sabia que isso era apenas uma ilusão, mas acalentou-a até chegar ao cais.

Não voltara àquele cenário desde a noite do desaparecimento da menina. O mais perto que se aproximara fora quando deixara a irmã a escassos metros da estação.


– Como está? – interpolou-a o chefe de estação, reconhecendo-a. – Alguma novidade da sua menina?

– Até agora nada! A polícia continua a investigar, mas o tempo vai passando...

– Desde aquela noite que não tenho dormido descansado! – confessou o senhor, com um ar abatido e uma expressão genuinamente preocupada. – Fazemos este trabalho todos os dias e às vezes esquecemo-nos da real importância dele. Devia ter estado mais vigilante, dada a minha responsabilidade.

– Não podia adivinhar! – tentou desculpabilizar o chefe da estação. Sabia que ele tinha feito tudo ao seu alcance, naquela madrugada, para concertar a situação. – Agora resta-nos confiar numa força superior que nos ajude a encontrar a minha filha.

– Passo os dias com os olhos fixos em todas as crianças que aparecem aqui no cais. Guardo no meu gabinete a foto da sua menina, para ter fresca a carinha dela na minha mente! Garanto-lhe que se algum dia ela pisar este cais, a reconhecerei no momento.

Aquelas palavras confortaram-na de uma maneira inexplicável, que só uma mãe pode entender. 

Agradeceu ao chefe da estação, enternecida pela dedicação com que o homem abraçara a dor dela. 

Se tão somente a polícia tivesse sido assim tão humana e empenhada, talvez já tivesse recuperado a sua filha.


Apreciou de novo o cais, o palco onde acreditava ter vislumbrado a filha pela derradeira vez. 

Ao contrário daquela noite em que tudo acontecera, o ambiente na estação era agora de serenidade e paz. 

O único paralelismo talvez fosse a chuva e o frio que teimosamente a açoitavam. 

Observou o comboio dar entrada na estação e virou-se para trás, olhando para o chefe de estação que ajeitou o seu chapéu num sinal de consideração e de votos de boa viagem. 

De uma forma quase instintiva, ocupou o lugar que acreditava ter sido da sua filha e inspirou profundamente, como que ansiando sentir ainda o cheiro dela.

O comboio arrancou finalmente e ela copiou a atitude da criança, encostando a cara à janela e vendo a estação paulatinamente mingar, até finalmente se reduzir a um ponto fugaz que ficara perdido no horizonte. 

Fechou os olhos e deixou as lágrimas descerem-lhe pela face, num choro silencioso, acompanhado por aquele aperto no coração. 

Quando o comboio abrandou para dar entrada na estação seguinte, ela percorreu de novo todos os cantos do cais. 

Fora ali, onde a mulher certamente escapara com a criança, aproveitando-se de toda a confusão instalada naquela madrugada. 

Viu ao longe o rapaz que provavelmente recebera o fax que ela e o chefe da outra estação tinham enviado. Também ele não fora capaz de intercetar a raptora e a sua menina.

Seguiu o resto do percurso quieta, com os olhos fechados, recapitulando aquilo que tinham sido os momentos traumáticos dos últimos dias. 

A trepidação do comboio, associado ao cansaço que acumulara e ao seu estado de gravidez viabilizaram que esporadicamente passasse pelo sono. 

Em alguns períodos, quando a chuva era mais intensa e cutucava com maior violência a janela, ela reconfortava-se com aquela melodia. 

Podia sentir um frio que percorria a carruagem e a fazia enroscar-se na manta disponibilizada a todos os passageiros. 

Sem notar, desejou estar no calor dos braços do marido. Sim, continuava a ser ele o homem pelo qual o seu corpo reclamava por proteção, carinho e atenção. 

No entanto, ela teria de aprender a viver sem o marido e prosseguir com uma vida sem ele.

Senhores passageiros, estamos a aproximar-nos da estação terminal deste comboio. – avisou o sistema sonoro. – Por favor, queiram garantir que levam todos os vossos pertences ao abandonarem a carruagem.

Chegara à capital! Para ela era um regresso ao passado, já que nunca mais voltara ali após ir viver com o marido. 

Rompera determinantemente os seus laços com a sociedade que a vira crescer. A verdade era que nunca sentira a necessidade de os reatar. Contudo agora era diferente!

Desceu do comboio, sentindo o frio mais intenso da cidade. 

Buscava uma reconciliação com as suas origens, na esperança de ver nitidamente o rumo a dar à sua vida depois do desaparecimento da sua filha. 

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Olá a todos,

espero que tenham gostado deste capítulo! Quais são as expectativas que vos gera este regresso da mãe às origens?

Com  término das épocas festivas, "A Filha Roubada" regressa ao sistema de 3 ou mais atualizações semanais já a partir da próxima semana! Uepa!!! :D

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Aquele abraço.

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