79§ Motivações dúbias

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< Capítulo anterior: 78§ Mergulhado no abismo

O pai recordou a fatídica tarde em que se converteu no assassino do filho da sequestradora. No final, apercebeu-se de que a verdade pode ser ainda mais trágica do que esperava...

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- MULHER -

Como deveria de responder àquela questão? Com a verdade ou com a mentira? 

Um indivíduo daqueles, que sempre usara e abusara das falsidades, merecia ser punido com o seu próprio veneno!

Ela sabia perfeitamente que o pai do seu filho não era aquele assassino! 

Depois dele a ter abandonado, no passado, e ela ter mergulhado na sua primeira grande depressão, surgira o homem que se tornaria seu esposo. 

Embora não se tivesse apaixonado pelo polícia nem à primeira, nem à segunda vista, o seu estado de carência absoluta arrastara-a para os braços dele. 

Tudo acontecera muito rapidamente, sem ela se dar conta. Quando se apercebera, estava grávida dum homem que não estava certa de o olhar como namorado ou como amigo. 

Tinham-se passado talvez uns três meses desde aquela separação inenarrável.

O certo era que aquela gravidez a ajudara de sobremaneira a ultrapassar tudo o sucedido. A expectativa de ser mãe dera-lhe um foco que a impelia a seguir em frente.

– Responde! – exigiu a assistente social, que olhava-a com perplexidade, condenando-a por ter-lhe ocultado tudo aquilo. – O pai do teu filho é este homem?

– Isso muda alguma coisa? – contestou com outra pergunta. Encarou o homem. – O facto daquele menino de quatro anos ser teu filho ou não, faz da vida dele mais, ou menos valiosa?

Não mentiria, mas também não esclareceria a paternidade da criança, deixando-o na eterna dúvida. 

Era-lhe repugnante ver o egocentrismo intocável que ele conservara ao longo de todos estes anos.

– O rapto da minha filha foi isso...? – acusou-a o homem, embebido em alguma consternação perante aquele facto. – Um ato vil de vingança? Achas que isso faz de ti uma melhor pessoa do que eu?

Uma vez mais, aquele indivíduo ousava tentar manipular os acontecimentos. 

Era incrível a capacidade que ele tinha para, apesar de tudo o que fizera, tentar convertê-la a ela na vilã desta história.


No entanto, o carinho que começara a nutrir pela menina, nascera muito antes de saber quem era o pai dela. 

Por semanas, tinha-a observado da sua mesa, naquela pastelaria. Notara a falta de paciência e frieza com que a mãe ou outro familiar a iam buscar. 

Apercebera-se também das marcas suspeitas no corpo da criança, previamente à aparição dele.

– Tudo o que fiz foi para salvar esta menina duma morte certa! – afirmou com convicção. – Resgatei-a duma família que não a queria e trouxe-a para perto de mim, para a amar! Apeguei-me àquela criança muito antes de te conhecer.

– Com um sequestro? – indagou ele. – Quanto muito podias ter falado comigo, ou pelo menos com as autoridades competentes para o efeito! Mas não, optaste por atuar guiada pelo ressentimento que tinhas por mim.

Novamente, ele procurava distorcer tudo e confundir todos os olhares incrédulos ali à volta.

– Não! – gritou aturdida com todas aquelas acusações. – Foi um ato de amor! Senti que podia cuidar dela muito melhor do que qualquer instituição social. Esse acabaria por ser o destino dessa menina: ou vos era retirada pela segurança social ou terminava como uma delinquente antes de chegar sequer à idade adulta!

A Filha Roubada - Completo - ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora