A Filha Roubada - Completo - ✔

89§ Contornando as adversidades

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Enquanto o marido continua a tentar entrar em contacto com a filha, a mãe reflete sobre o quão distintos são os seus laços com as duas filhas. Quando é questionada acerca de se comparecerá ao evento da filha mais velha, esta fica em silêncio...

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– Filha -

O carro contorna a última curva, antes de alcançarem a emblemática praça da capital. 

É um autêntico símbolo da pátria, que representa as vitórias mais relevantes pela autodeterminação daquele país. 

Pode ver a agitação em torno da mesma, com imensos carros estacionados ao longo da rua.

Enquanto percorrem a longa reta que os levará até esse ponto, vira-se para trás em busca do olhar da ama. Bem a viu a brincar com o "neto" ao longo da viagem.

– Nana, posso contar contigo? – apela-lhe amistosamente. – Sabes que o teu apoio significa o mundo para mim.

A ama inclina-se e acaricia-lhe a cara. Um toque que lhe transmite toda a maternalidade que necessita naquele momento.

– Filha, se não estiver do teu lado, do de quem irei estar?

O carro estaciona num perímetro de segurança montado para a sua saída. 

A equipa de seguranças rodeia a viatura, não deixando ninguém se aproximar, muito menos a comunicação social, que está sequiosa de informação.

– Por favor, cuida da minha nana! – solicita ao motorista, que é também o segurança da sua maior confiança.

– Esteja descansada, minha senhora!

Ao sair do carro é ladeada imediatamente da sua assessora de comunicação que não tarda a pô-la a par das novidades, enquanto vão ultrapassando a multidão.

– Tal como previsto, o escândalo está em todas as manchetes dos jornais de hoje! – informa-lhe a rapariga.

– Conta-me algo que eu ainda não saiba! – retorque ela, com alguma ironia.

A noite anterior foi longa, passada com a sua equipa de campanha. Juntos estudaram soluções para contornarem o dito pseudoescândalo. 

Não que tivesse sido surpreendida com essa exposição dum segredo antigo. 

Uns olhos mais atentos haviam conectado alguns pontos do seu passado e descoberto que ela era a famosa menina roubada de há uns trinta anos atrás.

A preocupação dela e da sua equipa não se reduzia ao facto em si, mas sim aos boatos que os seus adversários e a imprensa podiam construir à volta disso. 

Sabia detalhadamente o que os pais tinham sofrido nessa altura com a criatividade dos média. Durante anos, ouvira as histórias mirabolantes que se tinham gerado à volta do seu desaparecimento e da sua família. 

Tivera também oportunidade de consultar cópias dos jornais daquela época e ficara chocada com a forma inescrupulosa com que tinham esmiuçado aquele assunto. 

As redações tinham recorrido a tudo ao seu alcance, desde que tal permitisse uma maior tiragem e um aumento dos seus lucros.

Muitos dos boatos, criados décadas atrás, nunca tinham sido realmente desmentidos pelos pais ou por alguém competente. Isso era perigoso e a forma como essa desinformação se repercutiria agora era imprevisível, podendo ser letal para as suas pretensões.