A Filha Roubada - Completo - ✔

91§ O discurso da candidata

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O pai recordou a sua vida atribulada ao longo dos anos anteriores, bem como a sua relação conturbada com a ama da criança. Toda a família reuniu-se para ouvir o discurso da filha mais velha...

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– Filha -

Esboça um sorriso a todo o público ali presente para a ouvir! É contagiante o ruído entusiasta da multidão, a qual grita pelo seu nome e pelo do partido que representa.

Sente-se orgulhosa do trabalho que tem levado a cabo, para vencer o estigma ainda existente, quando se fala dum partido de extrema-direita. 

Aquela ideologia política continua associada à lembrança dos maiores ditadores da história moderna. 

Contudo, ao longo de toda a sua campanha, empenhou-se em desmistificar esses fantasmas do passado e afastar-se deles. 

Um dos seus principais objetivos foi demonstrar que a política que pensa por em ação nada tem de radical. São esses os primeiros apontamentos que deixa bem claros à audiência.

– Não somos contra ninguém, apenas somos mais defensores do que é nosso! – apela ela, após os agradecimentos iniciais. – A nossa maior preocupação é o nosso povo, os nossos costumes, a nossa identidade! Queremos preservar a qualidade de vida de todos os cidadão, no seu quotidiano!

Aquele é o mote inicial para a mensagem que pretende transmitir ao longo do discurso. 

Recorda os ali presentes, das dificuldades económicas que têm afetado a todos: desde o desemprego que continua a sua escalada sem precedentes, até à imigração desenfreada.

– É inconcebível mantermos o número de imigrantes neste nível, tudo só porque um bloco comunitário, governado à distância, assim o determina. Não acreditamos na imigração desregrada como um pilar da economia, ainda por cima quando esta nos é imposta! Queremos de volta a nossa soberania, a capacidade de decidirmos o que é melhor para nós.

O apoio que o seu discurso granjeia, ali naquela praça histórica da capital, parece não parar de aumentar. 

Observa deliciada o ondular de diversos cartazes e de algumas faixas feitas pelos próprios apoiantes.

Pode imaginar os seus pais e a sua irmã, a contorcerem-se no sofá àquela hora, face a esta sua tomada de posição. 

Ouvida assim a seco, as suas declarações talvez aparentem algo xenófobas ou racistas. 

O pai e a irmã têm-se insurgido constantemente contra esta sua ideologia. Teimam em não entender a profundidade daquele tema, deixando-se cegar pelos seus casos concretos.

A verdade é que, ao longo das últimas décadas, a quantidade de refugiados e imigrantes que entraram no país, cresceu exponencialmente. 

Essa situação é insustentável e contribuiu para a precariedade de toda a gente: muitos nacionais perderam os seus empregos para estrangeiros, que trabalham a troco de nada.

– Não estou a dizer que vamos fechar as nossas portas à imigração! – explica ela, suavizando a sua postura. – O compromisso que assumo aqui é o de uma seleção criteriosa da mão-de-obra estrangeira que necessitamos. Proponho uma avaliação das competências de cada candidato antes de entrar no país. Sugiro que seja verificado se as mesmas se ajustam à carência de recursos em áreas específicas.