83§ Engolir o orgulho

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< Capítulo anterior: 82§ O preço do resgate

Foram reveladas as condições impostas pela sequestradora e pela assistente social para que a menina voltasse para os pais. O pai fez um pedido à esposa que a incomodou...

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- MÃE -

Ela optara por se deixar absorver pelos detalhes dos preparativos para o jantar daquela noite.

Convidara o padrinho e a esposa deste para se juntarem naquela celebração em família. No final de contas haviam muitos motivos para se congratularem.

Mais do que comemorarem aquela época especial do ano, iriam assinalar o regresso da sua filha, que em muitos momentos temera tê-la perdido para sempre.


O marido saíra para ir à delegacia comunicar o reaparecimento da criança.

Esse era um assunto que ele resolveria com os policiais, demandando-lhe que não se preocupasse mais com ele. Agradecera-lhe por isso.

Contudo, não se conseguira abstrair, por mais que tentasse, do pedido que o marido lhe fizera: recorrer aos seus pais em busca de ajuda.

Percebera que o marido estava a solicitar algo mais do que o mero apoio verbal dos sogros. Estava em jogo uma aproximação real e mais significativa entre ambas as famílias.

Talvez isto implicasse, inclusive, terem de partilhar o mesmo teto! Afinal, o propósito era garantir que a filha estava constantemente sob a supervisão dum familiar.

Em suma, o marido estava a pedir-lhe que engolisse o seu orgulho. No entanto, ela encarava isso como uma questão de honra, a única que lhe restara ao longo de todos aqueles anos.

De resto, o brio de ter escolhido o seu próprio caminho fora o motor para ela seguir em frente perante cada adversidade.

Como podia ela abdicar da sua identidade agora, ao fim de todo aquele tempo?

A menina foi acompanhando-a, ao longo da tarde, em todas as tarefas que ia desempenhando, com vista à festividade. Passadas algumas horas, o marido regressou, carregado de presentes.

Ela sorriu como uma criança, quando o viu entrar em casa, atabalhoado com todos aqueles embrulhos.

Embora ela não fosse certamente a destinatária de tantas prendas, olhou-o como se ele tivesse salvo a festa!


Com o anoitecer, finalmente, chegaram os convidados. O padrinho juntou-se à conversa com o marido num canto da sala.

Certamente discutiam tudo o que acontecera nas últimas horas. Por mais que ainda tivesse tentado escutar o teor do diálogo, era impossível com os ruídos da cozinha.

A esposa do padrinho, a qual vira-a poucas vezes, juntara-se a ela, auxiliando-a com os toques finais no jantar.

A senhora revelou-se uma ótima companhia, apesar de não expressar uma única palavra.

As sobremesas que a mulher trouxera, cativavam desde logo pela aparência irrepreensível. Se as tivesse de definir, chamar-lhes-ia uma perigosa tentação.

A menina, desde logo, se pusera muito à vontade com a senhora. Quando ouviu a criança chamar a esposa do padrinho de "tia", assaltou-lhe inevitavelmente a lembrança do que o marido lhe dissera acerca da proximidade da menina com a raptora.

A Filha Roubada - Completo - ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora