A Filha Roubada - Completo - ✔

78§ Mergulhado no abismo

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O passado do pai e da sequestradora afinal tinha muito mais em comum do que um mero relacionamento mal resolvido. A sequestradora acabou por fazer uma revelação aterradora...

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- PAI -

O coração dele acelerou a fundo, rumo ao abismo, em direção ao seu dia mais obscuro! 

Uma memória que tentara apagar dia após dia, mas que permanecera, dum modo obstinado, gravada no seu ser. 

Aqueles segundos fatais dum final de tarde longínquo tinham fustigado cada momento da sua existência. 

Um segredo que se tornara ainda mais presente, quando no dia anterior a esposa o defrontara com a possibilidade de ter voltado a assassinar alguém, neste caso o violador.

Era impossível! Era demasiado maquiavélico que o menino, atropelado por ele anos antes, fosse o filho daquela mulher. 

Já lhe bastava os caminhos de ambos terem-se cruzado antes de forma desastrosa.

Recordava-se daquela tarde quente como se tivesse sido hoje. Tinha-se encontrado com uma cliente num dos hotéis mais sumptuosos da capital. 

A mulher apresentara-se, ao longo do almoço, como uma empresária ligada ao negócio de importação e exportação de mercadorias. 

A refeição decorrera como tantas outras, em que sem avançarem demasiados detalhes acerca da intimidade de cada um, eram estabelecidas as regras do serviço a ser efetuado. 

A cliente deixara-lhe claro que o sexo não era prioridade, embora não tivesse fechado a porta a essa possibilidade, caso a reunião com os potenciais sócios corresse bem.

Ele conhecia perfeitamente esse tipo de mulheres: distintas senhoras que escudavam todas as suas inseguranças com a presença dele, numa mesa só de homens. 

Por mais firmes que elas fossem, muitas delas sentiam dificuldades em se imporem e serem encaradas com a devida seriedade. 

Essa tarefa ainda se complicava mais, quando as pessoas com quem tinham de estabelecer tratos eram indivíduos machistas que ainda viviam no século passado.

Muitas vezes, a única coisa requerida dele, era corroborar, frisar e apoiar o que a sua cliente propusesse. 

No final dessas reuniões, caso o desfecho fosse favorável, essas mulheres tendiam a sair delas com a líbido revigorada. 

O que se passava a seguir era o típico jogo de quem dominava quem, numa luxuosa suíte de hotel. 

Para ele era inato entender, num estalar de dedos, o que elas procuravam dum parceiro, para servir de cereja no topo do bolo a uma noite bem-sucedida de negociações.

– O seu agente disse-me que tem algumas noções do mundo empresarial e que consegue manter uma conversa, mais do que superficial, acerca desta área. – afirmara a cliente, num tom que pedia a confirmação dele.

– Talvez se me elucidar de que tipo de mercadorias estamos a falar, possa ser-lhe mais útil!

– Agora quase soou como um polícia à paisana! – contestara a mulher, com um sorriso desprovido de qualquer emoção. – Digamos que são bens diversos!