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< Capítulo anterior: 37§ A filha perfeita
Uma conversa entre irmãs desenhou de forma mais nítida o ambiente familiar em que a mãe da menina foi criada...
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- PAI -
Ouviu a porta do bloco de acesso às celas abrir e rezou para que o viessem soltar.
A noite que passara ali fora horrível. Não se atrevera a usar a roupa de cama que lhe tinham deixado e recostara-se em cima dela, vestido. Meditara no turbilhão que tinham sido as últimas horas.
Com o avançar da noite, o frio instalara-se na cela inóspita e húmida, e decidira-se finalmente a pegar numa manta que estava ao lado dos lençóis.
Como se tudo isto ainda não bastasse, ele não estava só. Partilhava a cela com um indivíduo sinistro, que passara todo o tempo a fitá-lo com os olhos, sem balbuciar uma palavra sequer.
Cogitara os mais diversos motivos para aquele homem estar ali!
Seria um daqueles psicopatas que dizimam a família inteira, convencidos de que os estão a salvar da miséria? E se fosse um pedófilo, violador de crianças?
A última hipótese aterrorizara-o, afinal a sua menina estava desaparecida. Não queria sequer cogitar essa possibilidade hipótese! A sua filha não podia estar nas mãos de um indivíduo assim.
Não pregara olho a noite toda, estando num constante sobressalto, sempre que ouvia um ruído.
Até que ponto era legal o manterem ali preso? Tudo o que fizera não passara de um ataque de fúria contra um guarda, o qual se empenhara em o provocar constantemente.
Era lícito, por causa disso, o porem numa cela, com outro indivíduo, que podia ser um assassino?
O bloco devia ter umas quatro celas e claramente destinava-se a detenções provisórias de curta duração. Essa conclusão que tirara das suas próprias ilações, tranquilizara-o ligeiramente.
Contudo, isso não ilibava a hipótese de estarem ali alguns criminosos, à espera de serem transferidos para um estabelecimento prisional mais seguro.
– Como passou a noite? – questionou o inspetor, com um tom de voz de quem estava a desfrutar do que via. – O que achou das nossas instalações?
Optou por se remeter ao silêncio. Não responderia mais às provocações do polícia. A única coisa que realmente pretendia era sair dali e ir à procura da sua filha.
– Vejo que continuamos pouco faladores. – continuou o inspetor. – Tem alguma novidade para me contar ou quer que lhe dê mais umas horas para falar com os seus botões? Olhe que este é um hotel tão especial, que além de não cobrarmos a estadia, também não pressionamos os clientes para fazer o check-out!
Não suportava mais aquela amostra de prisão que tivera. Nunca mais queria voltar a um lugar assim. Só de pensar que podia ter ido parar a uma cadeia a sério, com todas as borradas que já fizera na sua vida, deixava-o agoniado.
– Óh esfregona?! – clamou o inspetor para o outro homem na cela. – Gostaste do teu colega novo? Aposto que tagarelas como são os dois, já devem ter-se tornado grandes amigos!
Enquanto ainda se ria da própria ironia, o inspetor começou a procurar no seu molho de chaves a correspondente àquela cela.
– Espero que esta noite o tenha ajudado a reconciliar os seus pensamentos. – falava o inspetor, desta vez com ele. – Posso-lhe garantir que isto não se compara nada com uma verdadeira prisão, repleta de celas sobrelotadas. Isto já para não referir as pessoas que lá estão, a higiene que não existe e os perigos que espreitam a cada canto daqueles pátios.
Onde queria o inspetor chegar com todo aquele paleio? Pretendia ele que ainda lhe agradecesse por o ter detido?
O polícia abriu a porta da cela, com toda a calma, e convidou-o gentilmente a sair. Não se preocupou com que qualquer um dos dois tentasse fugir ou o agredir.
– Esfregona! – disse, referindo-se novamente àquele que fora o seu companheiro de cela. – Está ali o balde de água e a esfregona! Enquanto eu não voltar, podes lavar o corredor e o chão da cela!
Olhou pelo canto dos olhos, com um pouco mais de atenção, o homem com quem dividira a cela. Devia estar já nos sessenta avançados e tinha o cabelo branco e comprido, ao nível dos ombros.
Podia perceber que o pseudónimo de "esfregona" não advinha apenas de este lavar o chão das celas, mas também do formato ondular e da cor dos seus cabelos.
Após abandonarem o bloco de detenção, o inspetor adotava agora uma atitude mais afável, tratando-o como a um convidado de visita às instalações.
– O "esfregona" é um sem-abrigo aqui das redondezas. Geralmente quando o tempo arrefece, começa a rondar a delegacia. Já é nosso hábito o deixar passar aqui a noite, sempre que haja alguma cela vaga. Em compensação, ele ajuda na faxina. – narrava o inspetor, com toda a cordialidade. – E não se iluda, ele sabe fazer uma limpeza bem melhor do que muitas firmas especializadas. Se visse o serviço de alguma delas, até levava as mãos à cabeça!
Não entendia mais uma vez a atitude do inspetor. Interrogava-se donde viria toda aquela sua simpatia repentina e o que ela escondia.
Ainda olhou ao redor, na tentativa de encontrar o padrinho ou a esposa, acompanhados de algum advogado, mas não havia ninguém. Pelos vistos, teria de lutar só, em prol da sua libertação.
Entraram no gabinete do inspetor e, depois de ter sido convidado a sentar-se, o polícia pegou cafés e sandes para os dois.
– Por favor, conte-me em detalhe tudo o que fez no dia do desaparecimento da sua filha. – pediu-lhe o inspetor, com um tom amigável. – Comece a partir do telefonema para o jardim de infância e não me oculte nenhum pormenor. Afinal, estamos só eu e você, ambos homens! Seja completamente transparente e ajude-me a virar a página neste assunto.
Uma conversa entre amigos, seria isso o que o inspetor estaria a sugerir? Quem podia adivinhar que cartas o homem tinha guardadas na manga?
Já jogara, demasiadas vezes, este poker emocional com o inspetor. Perdera sempre e de forma expressiva para a sagacidade do polícia. Não se arriscaria a ser surpreendido novamente!
Temia que houvesse mais um trunfo, capaz de o obrigar a regressar para trás das grades.
Precisava de partilhar com alguém tudo o que estava atravessado na sua garganta, acerca do ocorrido naquela tarde.
Afinal de contas, não tinha nada a esconder! Limitara-se a agir como pai, mas errara na decisão que tomara.
– Eu estava lá! – confessou com firmeza. – Eu estava à saída do jardim-escola, quando a minha filha entrou naquele autocarro!
Sem se anunciarem, sentiu as lágrimas surgirem-lhe. Não podia crer que estava a chorar em frente a um estranho, muito menos diante dum polícia.
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Retomámos a história do ponto de vista do pai e com novas revelações!
O que este homem ainda tem para esconder?
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Aquele abraço!
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A Filha Roubada - Completo - ✔
Fiksi UmumTodos achavam que a vida duma criança deveria ser um livro aberto, mas agora ela está desaparecida! Uma mãe desesperada que luta contra o remorso, um pai com muito a esconder, uma mulher que enfrenta o dilema da sua vida e uma assistente social pouc...